“Tout ce dont j’étais sûr, c’est fini!”
Paul Claudel, 25.12.1886
Encontro este olhar de mar esvaído,
nem fogo, nem cinza,
nem hoje, nem nunca,
estirado no mundo ao encalço do nada.
Encontro este rosto de luz desmanchada,
nem voz, nem silêncio,
nem brilho, nem sombra,
desgarrado no tempo que lhe vai sem ter vindo.
Encontro este corpo de viço escorrido,
nem fim, nem começo,
nem morte, nem vida,
estranha memória de remansadas paixões.
Encontro estas mãos de ardor gestante entrevado,
nem pranto, nem prece,
nem busca, nem fuga,
deslembradas do arroubo de rasgar vidas na rocha.
Encontro Camille, Camille Claudel,
vestígio da fama, destroço da fé,
visagem das horas de criação desvairada,
ruína do amor que se não fez por amar.
Encontro Camille, Camille mulher,
osso e carne a andejar pela história,
mente e corpo a despertar os desejos.
Encontro Camille,
Camille verdade,
Camille miragem,
esperanças e mágoas a construírem destinos,
eternidade no sonho que a dores e prantos plantou.
|