Há vezes em que a mágica do silêncio,
só por só profanada pela franqueza do gesto,
diz mais e muito mais que um firmamento de palavras.
Os compromissos de amor,
ainda que os mais ardorosos,
os protestos de mágoa,
ainda que os mais lacrimosos,
desses perdi a conta
na esquina do esquecimento.
Até as juras de torna,
vômitos vadios do amor próprio ferido,
ou mesmo os arquejos de gratidão,
ecos despregados dos anseios satisfeitos,
não são poucos os que se esvaem
nos próprios atos em que professados.
E quando se pensa, então,
na sujeição proclamada aos horizontes da fé
na perseguição declamada aos ideais da justiça,
na compulsão ostentada do só servir à verdade,
aí é que mais se vê o quão vãs podem ser as palavras,
se é que só não se prestam para construir miragens,
ardis com que cuidamos em iludir os outros
ou em nos enganarmos a nós mesmos.
Quando me tenho, portanto,
empurrado ao fundo do mistério dos momentos,
nada mais veramente me comove
que a varredura desnudadora de um olhar,
que a instantânea profanação de um toque,
que a delatora confidência de um sorriso,
que a fogueira, enfim,
do beijo que prenuncia
a consagração do encontro.
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