Eu não me assusto
com o gemido fanhoso das almas penadas,
nem mesmo me arreceio
do ronco assustoso dos trovões,
das presas amoladas dos predadores
ou da peçonha amaldiçoada das serpentes.
Das feras eu me previno,
certo de que não sendo animadas pela razão
(a mesma razão que tanto ilumina como brutaliza)
se é fato que por vezes se entregam à arte da espreita
e nisso se derramam no invencível risco da surpresa,
até hoje não aprenderam a covardice das armadilhas.
Quanto às coisas do mundo da magia
(aquelas que ramam do espanto da morte),
essas eu tiro de letra...
Até porque bem sei que são elas,
nem mais nem menos,
(e nisso me perdoem os sacerdotes das fantasias),
que simples irmãs germanas do receio do desconhecido.
Do que me pelo de medo, isso sim,
é do ventre nodoso dos sorrisos musculares,
é do subterrâneo obscuro das lisonjas despudoradas,
é do reverso suspeitoso da genuflexão compulsiva.
E nisso, modéstia à parte,
eis que impo de justas razões,
pois que não há maior perfídia
que aquela que se derrama no escarro do fingimento,
nem juízos, enfim, mais agravantes,
que aqueles que se escrevem pelos desvios do saber de adorno,
ou ainda se tramam pelos desvãos da traficância.
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