A SECA
Paulo de Góes Andrade
Tudo agora é miséria. Nada resta
Ao carcará faminto que procura
Restos mortais que existam, porventura,
Na caatinga, que nada mais lhe presta.
No solo, desenhado em rachadura,
Um cacto dá idéia que protesta
Com seus galhos abertos. Será esta
De um bravo sertanejo a sepultura?
No céu, o sol vermelho é inclemente
E a terra seca, desolada, sente,
Parecendo tremer com tanta dor.
Nada mais há no chão que se aproveite.
Só carcaças servindo como enfeite
P´ra esse cenário incrível de horror!
(Do livro, inédito, “SONETOS”)
pgoes@terra.com.br
|