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Poesias-->AGORA É TARDE -- 19/10/2001 - 23:07 (Felipe Cerquize) |
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Agora que estou morrendo
Você me elogia?
Agora que não tenho mais forças para um bis
Você quer que eu suba o palco?
Agora que quero ficar trancado no meu quarto escuro
Você pede para eu abrir a janela?
Agora que tremo diante do futuro
Você quer que eu sonhe?
Agora que não acredito mais nas pessoas
Você quer que eu agradeça pela solidariedade?
Agora que o meu médico é o meu principal confidente
Você bate com essa força toda na minha caixa torácica?
Diga-me, sinceramente, o que você quer de mim?
Dinheiro, não tenho
Amor, não tenho
A fé é pouca
O que me resta é esta catarata nos olhos
Estas rugas que nasceram com as minhas batalhas e com o tempo
Estes calos e estas unhas encravadas
E um prato de sopa com miolo de pão para o almoço
Diga-me, sinceramente, o que você quer de mim?
A minha alma já está prometida, faz tempo
A minha carcaça, reservo aos vermes
O meus versos, reservo às traças
Seja qual for o seu motivo, sinto muito
Mas a minha resposta é não!
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