Mal as luzes fagulham
O frio do corpo que a noite passada me fez acalentar e os badalos do sino mudo me fazem impreterível, levantar.
Põe a camisa, não olha se está esgalçada,
Põe a calça, nem percebe se está esmaecida.;
Põe o sapato, sem interessar o desconforto dos furos.;
Põe o café, mas não há café,
Põe o pão, mas não há pão...
- É mulher reza que a noite, se Deus quiser!
Segue sem lenço, nem documento.
Precisa no trabalho chegar,
Caminha uma hora,
Caminha duas horas... Já está atrasado, diz o relogio. O patrão vai descontar, o Patrão vai descontar.
Carrega um saco,
Carrega dois sacos...Feijão, Açúcar, Soja...Carrega, carrega. Assim passa o dia, água e água, sopa fiado, enquanto em casa tem disso não.
Já estão pendurados no Sr. João.
As crianças quando podem ir à escola, comem por lá, a mulher encostada no prédio do banco a mendigar e esses filhos, quando não vão estudar, fazem com os carros o trabalho de flanelar.
Os anos avançam e o que se tem pra honrar... Não há casa, nem escola, nem vergonha prá esmolar, não há igreja, nem viola, só a fome pra aumentar. E assim, é toda nossa história, que esse povo não cansa de versar.
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