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Poesias-->penteadeira -- 01/07/2001 - 15:49 (maria da graça ferraz) |
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Durante anos, o móvel
inglês -escuro e pesado,
materno legado de
faia cervada, observava-a.
Sobre o tampo de verniz,
espelho em moldura trabalhada
na forma de flor de lis,
havia seu reflexo capturado
como um daqueles cartazes:
" Bandida- Perigosa- Procurada".
Durante anos, ela lançara
a vida sobre a penteadeira.
Estava lá o cinzeiro
com ossos desmembrados
de cigarros pela metade.
As cerdas da escova de cabelo
como uma coroa arrancada
guardava seus fios grisalhos.
Batons,de vários tons,espalhados,
para uma boca muda a dizer: Sim.
Remédios para doenças de família:
obesidade, diabetes, depressão,
mais depressão e hipertensão.
Por fim, a caixa de bordados,
com as linhas vermelhas penduradas,
como fio de baba grossa.
E muitos retratos!Retratos!
Ah! este tédio!
Esta monotonia!
Herdeira do matriarcado,
da penteadeira e de tantas
e de várias besteiras,
estava prestes à profanação
do móvel, e conseguir a
sonhada libertação.
Seria mefítica a ponto
de doá-la à sua filha?
Doar toda a maldição
da penteadeira?
A submissão.
A escravidão.
A servidão.
Foram tantas e tantas
mulheres santas-
antes dela-
que ali se sentaram,
e choraram,
e rezaram...
Ela tomou a decisão.
Além dos cromossomos
Além dos pomos
de Adão...
Iconoclasta.Incendiária.
Pôs fim à parafernália
das tradições...
E, em meio a fumaça,
como uma figura insana
e hilárica, vestiu o luto pesado
em memória dos antepassados.
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