ATÉ QUE VENHA O DEPOIS
©Maria José Limeira
(Homenagem ao Amigo e Poeta Jurandir Argôlo)
Quando o sol se escondia,
além do sofrido horizonte,
emitindo os últimos raios
do adeus por trás do monte,
tu assomaste à porta.
Entregaste-me sorrindo
flores que trazias escondidas
sob andrajos de poeta.
O coração cantando em festa
canção de amor e seresta.
Eras o cavaleiro cintilante
da minha solidão esquálida,
a memória-história distante
arrastando-me ao meio da casa,
abrindo o mundo que se encerrara.
E por janelas e portas
me mostraste, de novo,
que a vida é um ôvo
a se partir ao meio,
renascendo sem receio.
Empurraste-me para a alegria
que enxugou minhas lágrimas,
levando-me a acreditar
no brilho-sol-poente e na grandeza
que emana da beleza estelar.
A raça humana é hedionda.
Um mar de lama nos ronda.
Mas tu existes, amigo,
a desafiar sozinho
os dragões do perigo.
Como herói de filme antigo,
venceste o mal-bandido
que me havia ferido,
e vieste dividir comigo
os louros da vitória.
Emprestaste-me glória.
Puxaste-me pela mão.
Curaste meu doente coração.
Fizeste-me feliz novamente,
em alma, corpo e mente.
Éramos somente o Nada.
Cansados à beira da estrada.
Agora somos dois
e mais de mil, camarada,
em árdua caminhada.
Até que venha o depois...
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