Enquanto Lágrimas Restar
©Maria José Limeira
Hoje eu quero chorar.
Preciso desabafar.
Ver pequenas coisas.
Longe do grande mar.
Quero ser de novo criança.
Sem aliança.
Livre de pactos,
para abrir a boca e gritar.
Derramar lágrimas espêssas
e copiosas.
Águas chorosas.
Como se fosse morrer,
sem nunca crescer.
Penas me restam,
no futuro que não terei.
Vou ser rainha do rei.
Subir íngreme ladeira.
Deitar-me em esteira,
sem calcinha que me prenda.
Quero o vento no rosto,
que seca lágrima e desgosto.
Andar sem blusa ou saia
no corpo que me caia.
Misturar-me aos meninos,
em desatinos.
Brincar de bola na rua,
toda nua.
Contar mágoas ao passarinho.
Recolher-me ao ninho
e gritar, gritar,
desconsoladamente.
Como criança que mente,
porque verdade não há.
Deixe-me chorar, meu povo,
enquanto lágrima restar.
Preciso chorar de novo.
Porque depois...
Depois vem vergonha a dois.
Chegarão multidões ao meu redor
dando nó na garganta
da tristeza que se agiganta,
feito açude sem sangrar.
E o sangue do meu triste coração
ficará preso,
em desdita e solidão,
sem caminho para escoar.
Hoje eu quero chorar... Muito!
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