A Ponte do Diabo No alto da serra um lugar pensado pelo Deus amado Para os filhos seus um reino Encantado Seria assim aquele jardim Além do certo e do errado Longe da dor, do pecado Nas alturas plantado O diabo com inveja fez a Ponte da Misarela para dar Passagem a todo o tipo de Mazela O primeiro a passar foi o Triste fado, nas profundezas das minas de carvão criado Som lento, arrastado.
Ecos das correntes do escravo Som do lamento, do sofrimento O único som que as cordas vocais da escravidão conseguiam articular Achou no frio o maior aliado Como fio de navalha, cortava o corpo o vento gelado Povo sagrado cativo do diabo Aquela gente raiana enrijecia para suportar O vento frio que vinha da Espanha A alma encolhia, o coração petrificava A mente invernava Inverno, inferno a castigar com o frio De rachar todo o ser vivo que existia naquele lugar O diabo chamou a dor, o pecado, A inveja, o ciúme, a insanidade Todo o tipo de maldade O povo castigado lutava contra o poder do diabo Xamanismo, paganismo, esconjuros Exorcismo à mistura com cristianismo Os padres e o povo rezador chamavam Por Nosso Senhor Elegeram para patrono do lugar o Senhor da Piedade O diabo recuou, parou de infernizar Esconde-se debaixo da ponte da Mizarela Já pouco aparece. De vez em quando põe as garras de fora Mas já não manda Não tarda vai embora! Lita Moniz
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Lita Moniz - 27/10/2025
Esta ponte já foi lenda na Vila de Montalegre, e ainda hoje existe tal qual. E outras lendas mais correm de boca em boca por por lá. Eu mesma no tempo de pastora: ali todos trabalhavam e muitas vezes lá ia eu conduzindo vacas, bois ovelhas, para os campos férteis do meu avô José Custódio. E passava, com medo, sobre a ponte da Misarela, cheia de lendas e de perigos dada a altura entre a serra e a planície. E eu tão quase criança a passar por ali, eu e o gado do meu avô José Custódio. Hoje , já escritora não deixei escapar de celebrar aquele momento da minha existência com este poema., Que também encerra mais uma lenda que por ali corre.