O TREM EM MINHA VIDA
RF
Na minha infância havia um trem,
à minha memória vem.
Trazer o progresso para a região
Era a função do trem do sertão
Percorria 116 km de estrada de ferro
que rasgava a paisagem seca da caatinga
dos estados de Pernambuco e de Alagoas.
Eu era uma criança e Pedra meu berço
Três vezes na semana, de Jatobá lá vinha o trem...
Parava em Pedra, ia para Piranhas e lá dormia.
De manhã retornava à origem.
Porém antes em Pedra de novo parava.
Eu via meu avô durante as paradas.
De Jatobá onde ele morava o trem o trazia.
Brincávamos, sorríamos e ele contava histórias.
Ainda lembro da sua fisionomia tatuada pelo tempo
Depois ele partia e eu ficava contava os dias
até o trem trazê-lo de novo.
Nas férias eu ia com ele visitar minha avó.
No meu sentimento de criança o trem era de vovô.
Quando o trem varava o perímetro urbano
A manifestação era a mesma de quando chovia
o povo saía à rua, cantava, pulava e festejava.
E ele respondia soltando fumaça e apitando,
trazendo satisfação e felicidade, cantando:
café-com-leite-bolacha e pão.
café-com-leite-bolacha e pão.
Além de transportar animais e mercadoria
seus vagões vinham lotados de alegria,
Era com honras e pompas que o recebíamos.
Em meados de 1964 mais veloz que aquele trem
Um decreto do governo, veio na contramão
e chocou-se com ele, liquidando-o.
As feiras perderam o brilho, o comércio sentiu o abalo,
o povo sentiu e protestou, mas os tempos eram duros.
A vida voltou a ficar difícil com as cidades enlutadas.
Quando pela última vez aquele apito tocou, no sertão
um rio de lágrimas se formou.
Era a despedida e o trem como gente apitava e chorava
não era mais aquele apito de euforia, era fúnebre mesmo.
o povo sequer acreditava e chorava!
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