Não vou desperdiçar a musa
Para a indiferença da humanidade, passei anos sem escrever. Por um tempo, achei mais inútil do que nunca, ainda que eu defenda a inutilidade da poesia e o pragmatismo do silêncio.
Não vou mais desperdiçar as letras, o estranhamento das palavras, nem a cacofonia dos sons bestiais!
Aproveito o fluxo para construir uma ponte, para desenhar gnus e dodôs e para passar a rede por córregos intrusos. Carregarei uma gigante cabeça de pedra nessa procissão, esperando algum fantasma para esmagar.
Som psicodélico ou aflição, não desperdiçarei a musa. Aos poucos, ela me conta seus poucos segredos e me obrigará a despejar palavras de seus altos-fornos.
(Eder Kamitani)
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