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Poesias-->a impostora -- 24/05/2001 - 19:00 (maria da graça ferraz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Finjo

Finjo bem, diga-se de passagem

Com toda modéstia

e com toda bobagem



Finjo, por exemplo, que

a todo instante, no mundo,

pessoas não sofrem

pelo meu silêncio profundo



Finjo que todos têm

sobre a mesa o pão

Que não há órfãos:

Órfãos da compaixão

Órfãos do amor de verdade

Órfãos da fraternidade



Não. Nada tenho a ver

com esta vida bandida

Não! eu não fiz isso

Não! eu não administro isso.



Fecho olhos. Cruzo os braços.

Bebo. Fumo. Tapo o nariz.

Varro a dor para debaixo do tapete

Preciso - tanto- ser feliz!



Espano paisagens

Faxino minha percepção

Poupo meu coração das misérias

Não suporto o peso da tragédia



Exercito o auto-engano

Sou um dublé amador

Que necessita amar sem dor

Ensaio distâncias

Cerco vizinhanças

volto à infância



Como ator, sou um fracasso

Meu script é um fac-símile

com direito à vaia e ao embaraço

desempenho de um triste palhaço



Mas preciso fugir

Preciso fingir

Preciso acreditar no

meu mundo 3 x 4

Na verdade do meu quintal

Na estória do retrato



Não! Não há feridos

desvalidos

oprimidos

esquecidos

desprotegidos...

Não! Não há

crueldade

tristeza

iniqüidade

Não! a vida não é patética

A vida é poética!



Falo em cicio

no teatro vazio

de minha alma

Então...

Finjo que eu sou eu

E tanto me finjo

que acabei me findo

Sobreviver obrigada

O mundo vai indo...

muito bem, obrigada

Judas é meu vizinho

e o Diabo mora ao lado.































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