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 | Poesias-->O SUPERGALO -- 14/05/2015 - 02:39 (PAULO FONTENELLE DE ARAUJO) |  |  |  |  |  |
 | O menino escuta o galo cantar, 
 
 longínquo,
 
 
 quando então percebe
 
 
 que seus pais
 
 
 passaram a madrugada vivos
 
 
 e tudo é infância:
 
 
 olhos nascem de árvores
 
 
 após a manhã escolar.
 
 
 
 
 
 O menino  prossegue
 
 
 e o canto do galo ainda soa,
 
 
 até um dia surgir tanta puberdade,
 
 
 que o menino inventa o supergalo,
 
 
 herói mascarado,
 
 
 inventa o beija-flor homem de aço
 
 
 e o capitão bem-te-vi
 
 
 para ser lido em quadrinhos.
 
 
 
 
 
 O canto do galo continua
 
 
 nas auroras
 
 
 da grande cidade que surge
 
 
 sem recantos e vagalumes
 
 
 e o menino cresce
 
 
 para assistir ao noticiário matinal
 
 
 (há pessoas inconstantes,
 
 
 que estreiam todos os dias) .
 
 
 e sair diariamente,
 
 
 firme, ouvinte e maduro.
 
 
 Nada pergunta sobre a massa,
 
 
 mas quer saber dos vencimentos
 
 
 e outros domínios.
 
 
 
 
 
 O galo cantou ao alvorecer
 
 
 para os  poucos homens que suportam
 
 
 o fim de amores e a antemanhã do caos,
 
 
 beijos diversos.
 
 
 
 
 
 O galo segue a sua melodia para o antigo menino
 
 
 na buraqueira dos dias
 
 
 e o menino possui agora,
 
 
 badaladas mais vizinhos,
 
 
 quando algo surge em todas as línguas
 
 
 que se confundem mais e mais;
 
 
 há o “down”, o “town” e o “pero ahora” .
 
 
 O galo executa seu hino
 
 
 durante a conta
 
 
 e a conferência do menino.
 
 
 
 
 
 A ave canta ao amanhecer
 
 
 e o canto agora é distante e demora-se
 
 
 como em uma esclerose múltipla.
 
 
 Há muitos cômodos
 
 
 e outras veias rasantes na cabeça idosa.
 
 
 (Se os dias produzem estrondos
 
 
 eles não acontecem sem o canto do galo
 
 
 que ainda soa longínquo
 
 
 porque tudo é infância).
 
 
 
 
 
 O galo canta
 
 
 e nem perguntam,
 
 
 ao novíssimo garoto,
 
 
 onde está a ave
 
 
 porque o garoto finalmente vê a própria
 
 
 (vê também um calombo).
 
 
 É um senil galo carijó,
 
 
 ave companheira,
 
 
 que não canta mais
 
 
 Ele ri, ri nas adjacências,
 
 
 e mostra a demência senil intacta
 
 
 como uma crista.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Do livro:" A criança, substantivo sobrecomum"
 
 
 phcfontenelle@gmail.com
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