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Poesias-->1914 - Pai Morto -- 21/03/2000 - 15:46 (José Ernesto Kappel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Entre tantos escuros, medra

escuso.

Sei - depois de 40 anos -

que ele se pôs atrás

de uma janela.



Simples,era 1914 - Tempo de nada.



A janela de boa cerne, bruta,

envernizado de escuro,

torta.



Dizem, ali meu

pai morou.



Dizem, havia uma cortina esfarelada,

em azul e rosa.

-Pena! Que não seja azul-puro ! falam tal testemunhas.



Aos quinze anos o azul

era minha cor.

Abóboda dos senhores !



Garrafas se misturavam aos copos.

E como haviam!



E as estações se passavam,

como passa o vento sem

que a gente perceba.



No inverno, a janela gelava.

E meu pai, fito nela,

via tudo congelar.Pobre pai de um homem só.



Meu pai não era senhor de guerras,

nem patriarca da paz.

Dizem, meu pai era simples.

Ora!Com um copo na mão era muito simples.



Tal homem ria da estações.

Outono,vibrava com folhas espargidas

no portal,

Inverno, sobrevoava campos

-Até agora desconhecidos -

Mas dizem, cheio de luz.



No verão,suava feito garça e num

descuido e gargalelava

nosso bebida.

1914 - Dizem era tempo de guerra!



Meu pai era afoito e por isso homem.



No quarto só saia

para duas coisas,

em tempo de guerra:

para aflorar filhos nas bens-amadas

e ler jornais nas bancas dispostas.



Era guerreiro de panos -

Não entendia o mundo -

Se houvesse um para entender.

Esse não era o mundo que desejava.

Meu pai.



Jovem, discreto,

Via os jornais da Pathé,

com cachecol verde

e aplaudia aqueles homens

em guerra de um só homem.



As guerras haverás!

Mas para um homem só.



Da janela de seu quarto,

meu pai,

que somente conheci por uma

foto rala,

Resolveu,

Num outono de mil noventos e pouco

sair voando,

Como voam os pássaros em

hiibernação.



Antes, escreveu:

Manual de Minha Amada - Poucos se ligaram!

Corcéis da Madrugada - Uns amigos choraram de encanto.

Tal Idade, Tal Revoado - Jogada lixo.



Aos sessenta e poucos,

dono de várias mulheres sem dono

Era apenas calibrado por sombras.



Cascas secas de pinheiro

o adornavam

quando sobreava o mundo de 1914

com um copo de bebida e um

um sonho sem nome.



Fez filhos - era ordem

da guerra!

Matar!

Mas ele os fez viver!

Era ordem da guerra.Viver.



Casemira branca só no verão,

Filha de Zeus,

Proteus?

Só no verão

e gargalhava de goles!



Meu pai. Homem santo

criado no pecado,

mas sempre com um manta

longa e estreita,

agasalhando o pescoço.



E num verão de 1914

ele disse para a madrinha:

Pequena santa: é hora de ir.



E tais coisas,agora, já grande

não posso negar.



E ele disse,

como o pássaro que não nega o grão,

É hora de ir.



Meu pai, em 1914,

abriu a janela miúda e gelada

e disse para si:

Chegou a hora!



Num plumo de águia

voou do 10o. andar,

E junto com as folhas, desceu.



E disseram: há um homem voando!

Eu disse, torturoso:meu pai desce!



E ele dançou dentro da luz

e desceu

e quanto mais descia via luz,E desceu.



E tanto quis descer que encontrou

o chão orvalhado.



E o chão virou sangue e

eu virei órfão.



1914 - Dizem os livros,

Um desvairado sem corte,

deixou um órfão e mil mulheres.



E eu, escrivão dos deuses,

em 1998, vim saber

a história de um homem,

que pobre!Era meu pai.



Em 1914 um homem morreu.

Dizem as testemunhas que ele dançou ao vento!

Diz a história que um homem morreu.

Disse a polícia: "façam o registro!"



Mas duro da vida!

Tinha que ser meu pai?

Em 1914?

O ano que nasci,depois dos anos,

De uma rameira, que tal nome doce,

Maria!



Onde está seu pai? - perguntam agora,

os amigos.

E eu digo:

Feito águia enobreceu minha vida.



Desceu 200 metros procurando

a valsa que não tinha meu nome:

1914!

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