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Poesias-->epidemia -- 26/12/2013 - 22:02 (maria da graça ferraz) |
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No saguão escuro e largo
Janelas altas e foscas
Ar estagnado
Caravela estava parada!
Maresia...Calmaria....
no hospital
De vez em quando,
um pequeno mosquito
atravessava as varandas
como a barbatana dorsal
de um tubarão branco
Só a criança, ainda fraca,
sentia a ameaça,
mas nada dizia,
braço no soro,
mantinha apenas um dedo para cima
como um sinalizador
pedindo socorro
Epidemia. Dengue. Dengue.
Mulheres disformes, gordas, exaustas,
de olhos vermelhos como sangue,
sentavam-se no chão
Um homem drogado
posto de quatro dormia
abraçado com um cão
Gestantes cansadas vestes imundas
seguravam a barriga como atlas
segurava o mundo
Velhos manchados, trôpegos,
pele ardida, cortada,
não mais andavam, escorriam,
untados em secreções
de pús e saliva
Epidemia. Dengue. Dengue.
Gente sobre gente, multidões
de pés sujos, arrastavam-se,
roupa com mofo, boca de arroto,
ferida aberta pintada com iodo
No ar o cheiro de criança
mal lavada
e de respiração
Epidemia. Dengue. Dengue.
Jovens tontos e quentes,
sentados, enroscados,
comprimindo o corpo
contra si mesmo,
tentando arrancar a dor
O desespero!
Náufragos de um país,
abandonados a esmo
Tudo tingia-se com vermelho
Febre....Febre alta...
Inferno na terra
Hemorragia à espreita
Plaquetas em queda!
O mar à volta
cheio de perigo
Asas de mosquito
transparentes
silenciosas
E uma médica alucinada
sobre uma tábua flutuante
carregada pelas águas ondulantes
seguindo o longo rastro
da solidão humana
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