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Poesias-->pol social 68 -- 26/12/2013 - 21:24 (maria da graça ferraz) |
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No meu trabalho
todos sorriem o mesmo sorriso
bondoso e polido
que já vém acompanhado
por economia
com um " bom dia " cantarolado
Onde eles ensaiam?
E falam as mesmas palavras-
no mesmo tom, no mesmo ritmo,
quase hipnótico
que range
Falta óleo
Quando eles ensaiam?
E possuem os mesmos gestos solidários
O mesmo verniz
no rosto enigmático
O mesmo cheiro sintético
A mesma pele fria de um réptil
São tão bons! Tão cordiais!
Tão gentis!Tão perfeitos! Tão anestésicos!
E tudo isto é feito de forma automática,
com o mínimo gasto energético
Nunca parecem contrariados
E se estão, tornam-se silenciosos
Sorriso reservado
Lentos passos
Nunca deixam transparecer
qualquer sentimento
Até quando contam piadas,
por exemplo,
sorriem o mesmo sorriso
de todos os dias
Ou, quando cantam o PARABÉNS
em algum aniversário
usam a mesma voz inexpressiva
fria metálica
Eles nada opinam.
Nada sabem. Nada vêem.
Nada escutam.
As vezes, as vezes,
um sentimento de medo
atravessa-lhes a face, percebo,
mas logo desaparece
ao sinal eletrônico
Perambulam pelos corredores
no lufa-lufa diário
com a mesma atitude estúpida
atendendo o respeitável público
E se alguém , por descuido,
toca no outro,
logo pede desculpas
e segue
para não gerar curto-circuito
Quando lhes pergunto
se são felizes
Eles me perguntam
o que é ser feliz
Eu lhes respondo
que ser feliz é estar em paz
Eles me perguntam
o que é estar em paz
Eu lhes respondo
que estar em paz
é como estar amando
Eles me perguntam
o que é o amor
Eu lhes respondo
que o amor
é ser feliz
e estar em paz
ao mesmo tempo
Eles me olham, então,
com um misto de soberba e piedade,
e perguntam se conheço
alguém feliz
Eu demoro na resposta
Eles balançam os ombros
com indiferença
e viram-me as costas
Quando eu lhes lembro
que o salário está uma miséria
Eles dizem
que o salário está uma miséria
mas que todos ganham uma miséria
Eu então lhes lembro
que eles não são "todos"
E lhes pergunto
quem são os "todos"
Eles então soltam
o vazio sorriso
como rabo de lagartixa
e me deixam confusa e entretida
Quando eu lhes digo
que há protocolos
que precisam ser corrigidos
Dizem que eles não
tém nada a ver com isto
e suas funções apenas
é OBEDIÊNCIA irrestrita
Eles encenam diariamente
um espetáculo chamado VIDA
E eu vago entre eles
como uma espécie perigosa
e quase extinta :
"Humana"
A pergunta que me faço
todos os dias :
Quanto tempo ainda viverei
antes que eles me denunciem
em alguma leviana lei?
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