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Poesias-->MEDICO 994 -- 18/12/2011 - 21:38 (maria da graça ferraz) |
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E ali passava
boi e também boiada
E passava
uma criança estrábica,
passos firmes apressados,
como um pêndulo,
hipnotizando o horário
E passava
um jovem embriagado
contando piadas
para um vento solitário
E passava
um homem traumatizado,
membros quebrados,
cuja perna e braço
faziam muitas
curvas fechadas
E passava
uma tontura, uma peruca
e uma dentadura novinha,
debruçadas sobre uma muleta,
que saíam pulando amarelinha
E passava
uma mulher redonda
feita a compasso
sacudindo as carnes inchadas
sob um abdome em avental
com celulite bordado
E passava
a multidão de drogados,
anestesiados e vacilantes,
com olhos de vidro
e punhos de aço
E passava
a fila comprida dos hipocondriacos,
com cápsulas , comprimidos,
e dores no cabelo, na sola do pé,
no fígado e no umbigo
E passava
a grávida, face mortificada,
que se arrastava
com pés de gansa,
tentando encontrar um orifício
para derrubar a cria -
biodegradável e reciclável,
não poluente aos rios
E passavam
o tétrico, o fóbico, o maníaco,
o histriônico, o delirante,
os convidados de honra
ao matrimônio
da covardia com a mentira,
os que renunciaram ao sonho
e à esperança,
os que achavam suficiente
a vida envilecida
sem horizonte,
os que assistiam
impávidos a revolução
dos bandidos
E passava
a cáfila de camelos
querendo achar o buraco da agulha
E ...
Uma médica cansada
tentava abrir espaço
entre eles
para poder passar,
e fechar com as duas mãos juntas
a porta do fim do mundo
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