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Poesias-->CONFESSIONAL 954 -- 18/12/2011 - 21:11 (maria da graça ferraz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
As assombrações da infância retornam

cada vez mais nítidas e insistentes



Eu vejo a menina

Vejo-a real, tão real,

que poderia tocá-la com minhas mãos



Trata-se de uma menina séria

Muito séria

Traz as unhas roídas

Os olhos tristes e molhados

como espelhos negros

Há feridas em seus joelhos

ainda vivas

Ela usa um vestido que detesta

mas é o único que lhe resta

porque o outro está lavando,

fora aquele que é de festa,

e se guarda numa caixa,

junto à Lola-

sua última boneca



A menina não me olha

Por mais que a chame,

ela não me olha



Eu preciso!

Eu preciso abraçar

esta criança

Como eu preciso!

Dar-lhe a compreensão

que possuo agora

Contar-lhe uma longa

e bela história



Preciso afagar

seu rosto

Dizer que a dor

da vida , um dia, vai embora

Talvez convencê-la

a lançar fora

todas as pedrinhas

que coleciona

debaixo de sua cama



Eu preciso!

Preciso fazer

com que esta criança sorrie

e devolva

asas à minha boca

Eu preciso fazer

esta menina ser alegre

para que ela me entregue

o seu leve passo

ao meu sapato



E caminharemos juntas

até achar o perdão

em alguma parte

deste frio mundo



Para que a dor fique lavada

limpa tão branca

como os olhos da cegueira

brilhando a noite

como duas estrelas



E que eu, enfim,

a esqueça

E ela, dentro de mim,

adormeça

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