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Poesias-->POL SOCIAL 714 -- 18/12/2011 - 21:02 (maria da graça ferraz) |
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A ave carniceira sobrevoou
o prédio do Tribunal de justiça,
achou uma janela, recolheu as asas,
e olhar mortiço, abriu a porta
Todos levantaram-se quando o juiz chegou,
vestido com uma toga suja
de baba de ovo, muco, porra, saburro,
com rasgão indecente às costas
expondo suas nádegas ossudas
Ele dirigiu-se à sua tribuna,
amparado pelo escrivão- homem triste,
de olhar mortificado e soturno
O juiz, então, sentou-se
Cuspiu no chão
e tomou o martelo na mão
- Vamos logo com este processo
Estou de saco cheio
e tenho pressa
Perder tempo é algo que odeio
A oficial de justiça, vestido de sereia,
lábios rubros, cor de cereja,
retirou uma folha de dentro do sutiã,
e sorriso de cortesã, leu:
-O indiciado é nosso Presidente-
pai do povo e amante do povo,
no incesto indecoroso do amor-
conhecido como " O Piedoso"
O reclamante é um jornalista
oposicionista da mídia golpista
-Qual a acusação?- gritou o juiz
do alto de sua tribuna,
palitando os dentes
com a unha do dedo mínimo,
enquanto com o pé, nu,
sem sapato, sem meia,
procurava a escarradeira
A oficial de justiça, ajeitou o decote,
e voz de deboche, gestos de rameira, continuou:
- O jornalista acusa com alvoroço
o nosso querido presidente O PIEDOSO
de desviar verbas públicas
dos desabrigados, dos tolos, dos bobos,
dos sem voz, sem vez, apenas vis pavorosos,
para construção de um castelo à beira mar
- Um castelo?- exclamou o juiz
com surpresa, na usual esparrela-
Muito bom gosto, Excelência
Parabéns. Um castelo?É tudo que sempre quis
e ainda quero.
O juiz então sorriu
expondo os dentes imundos e amarelos,
e após duas cuspidelas, disse:
- Que fale então a acusação!
Neste instante, o pobre escrivão
estava aos pés do juiz,
de quatro , no chão.
procurando a escarradeira
para deter o chafariz
da boca e do nariz
do magistrado infeliz
- Meritíssimo- levantou-se um rapaz,
gestos sóbrios, postura audaz-
Temos aqui diversas provas
que confirmam a corrupção
deste embuste chamado O PIEDOSO,
na realidade, UM LADRÃO DO POVO,
verdadeiro anão moral
-Protesto! - apartou o presidente,
iniciando um pranto ruidoso e gemente-
Este jornalista é tudo que não presta
Posa de bom -mocismo
mas é, na realidade, um delinquente
-Juiz, por favor, juiz
Este presidente é um ator
Grande canastrão desta pasquinada
na qual transformou nosso país
Suas lágrimas não valem nada!
Não podemos nos ajoelhar
diante da torpeza explícita e arrogante
deste presidente ignorante dado às mentiras
Este homem,
conforme Fernando pessoa,
é um cretino castelão e vagabundo do oba-oba!
-Cala-te!- disse o juiz ao jornalista,
e após dizer isto, levantou-se da cadeira,
estendendo um lenço ao presidente
Neste exato instante, o escrivão
encontrou , finalmente, a escarradeira ,
e segurando-a com ambas mãos,
sorria com uma falha no dente
-Entendo sua indignação, Excelência-
o juiz falava, com reverência-
Mas o que é a vida, senão isto :
Ingratidão e maledicência-
voltando-se ao jornalista,
dedo acusador, cheio de ira-
Qual a prova consistente e objetiva?
Seja rápido e conciso
Nosso presidente O PIEDOSO
não pode perder tempo precioso
e interromper suas ações caritativas
para com o carente povo
-É este vídeo- dizia o jornalista,
mostrando o pequeno disco-
Aqui a prova irrefutável e definitiva!
-Um vídeo?- exclamou o magistrado
fingindo estar impressionado
Apagaram-se,então, as luzes
O jornalista abriu a tela portátil
e acionou o projetor
Vídeo:
O Piedoso estava sentado
diante do gerente bancário
- Raspe as contas dos otários,
dos doentes, dos desabrigados,
dos carentes, do leprosário,
e transfira tudo para minha conta particular
-Se é para seu bem estar,
meu Piedoso, é para já!
Parte do dinheiro envio
às contas fantasmas
dos nosso Paraísos?
-Faça como sempre procedemos
com muita discrição
Há gente nossa no Tribunal
de Contas da União
Ah, não se esqueça dos cinco
por cento de sua comissão
O jornalista, ar triunfante,
desligou o vídeo
- Este homem, protegido
pelo poder do prestígio e do dinheiro,
pensa que jamais será punido!
Acha-se no direito
de cometer crimes à vontade
e de desafiar os homens de Bem
de nossa sociedade
Basta de complacência!
Nunca antes neste país,
o crime foi tão aclamado
e a hipocrisia tão glorificada,
sr juiz
É hora da verdade
se estabelecer
para que o povo possa ser feliz
O meretíssimo havia cuspido,
errou a escarradeira
O grude foi cair
sobre a cabeleira do escrivão,
que permaneceu com a coroa
da bandalheira, sentado no chão
-O que o Presidente
teria a falar em sua defesa?-
perguntou o juiz
-Isto é uma calúnia . Piada grotesca!
Este rapazinho, difama-me
Macula minha honra com lama
- Sr juiz, o sr assistiu ao vídeo-
interveio o jornalista-
Ele fala claramente
em desviar dinheiro
dos pobres, dos doentes!
E mais, fala isto
com ironia
ao citar os paraísos fiscais
Devemos dizer um basta :
O sr não pode roubar mais!
-O desvio do dinheiro, SR PORCO,
era para construir uma casa de repouso
para o nosso povo!
Casa esta, que se chamaria PARAÍSO
Todos sabem o quanto sou generoso!
Queria fazer uma surpresa! Apenas isto!
Esta casa seria destinada
a abrigar a população indefesa
que lota as ruas e morre de frio
Neste instante, o juiz levantou-se,
livre da cangalha
Filho de porco com corvo ardiloso
a voar sobre um espantalho
- Excelencia, quase o sr me levou
às lágrimas - ele disse
com olhos tristes,
e voltando-se ao jornalista, gritou-
O sr sabe o que é crime
de injúria, de difamação e de calúnia?
O jornalista estava em pé,
aturdido, inerte, sem ação
Neste instante , o juiz desceu da tribuna,
chutou a escarradeira e o escrivão,
e diante do presidente , falou:
- E a minha parte?
É é é é...Cinco por cento para o gerente?
Para o juiz, nada?
Isto não lhe parece um disparate
O PIEDOSO então retirou o grosso
envelope de um dos bolsos
- Mas o que é isto?-
GRITOU O JORNALISTA-
Vocês estão a dividir o roubo
descaradamente?
Isto é tétrico!
É o máximo da impostura,
da ilegalidade e da vilania ética
O juiz riu...O presidente riu...
-Ei, alguém nesta sala viu
isto que ele fala?
Alguém viu eu recebendo dinheiro
do presidente?
Algum envelope? Alguma suspeita mala?
Imediatamante, todos os policiais
e oficiais adminitrativos,
disseram:
- Não vimos nada, meretíssimo-
e estendiam a mão
O juiz , então, ia destribuindo
para cada um o seu quinhão
Deu cem reais ao escrivão
remelado, fedorento,
estatelado no chão
-E quando a você - ele
disse ao jornalista-
ESTÁ PRESO!
- Preso? Eu? Qual a acusação?
O juiz riu abraçado ao presidente
-A gente pode escolher ?
Descatato à autoridade
Resistencia à prisão
Injuria- calunia- difamação
Mais tarde, sala vazia,
o pobre escrivão,
sujo e enfarruscado,
cem reais na mão,
olhou a estátua da justiça e disse:
- RETIRE ESTA VENDA
PORQUE A VERDADE, NESTE PAÍS,
ESTÁ NA CARA! NA CARA! NA CARA!
POR FAVOR, MULHER,
RETIRA ESTA VENDA E FALA!
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