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Poesias-->POL SOCIAL 712 -- 18/12/2011 - 21:01 (maria da graça ferraz) |
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Na selva amazônica,
fronteira da Colombia,
Babilônia do pó,
um casal de jornalistas
conseguiu entrevista exclusiva
com o terrorista EL BURRICO-
homem audaz, de índole fria,
cujo nome era Alejandro Rios,
Ao penetrarem na floresta,
os repórteres foram surpreendidos
por gritos de guerra,
saídos da goela,
de algum animal ensandecido
Ao longe, observaram a silhueta,
estatura e porte simiescos,
de algo que batia no próprio peito-
fera, homem, algo mal feito,
debatendo-se como um gorila,
arreganhando a boca, expondo dentes,
enquanto berrava com ira:
" Viva la Revolution
Viva la Guerrilha"
Era ele!
"El burrico"
Um homem pequeno, quase anão
Orelha de mico,
Do gavião-o olhar
Enfarpelado num terno militar
novo, caro e limpo
-São os jornalistas?-
e diante da aquiescência,
el Burrico estendeu a mão
nervosa e impaciente
-O dinheiro. O dinheiro da entrevista
Sem o dinheiro, não insistam
porque não darei entrevista
e que se dane sua revista
Mas quando ele viu a maleta,
relaxou, sorriso besta,
tomou-a em seus braços com delicadeza
como se a maleta fosse a amante
desejada e de rara beleza
Os jornalistas aguardaram
el Burrico examinar e contar todo o dinheiro
Ele fazia isto, lambendo os dedos,
soprando os beiços,
como se desse um beijo
em cada cédula
Ele fazia isto com a minúcia
de quem desenha uma libélula
à bico de pena
Ele fazia isto com a ternura
de mãe quando nina filho
em quarentena
Quanto terminou,
sorriu agradecido para
o casal de jornalistas
- Isto é para os oprimidos!
Para os oprimidos!-
explicou com face condoída
-Creio que agora possamos
começar nossa entrevista-
disse o repórter aborrecido
pelo tempo perdido-
Senor Burrico,
o que dizes
quando afirmam
que tu és um terrorista?
-Terrorista?
Quem fala isto
são os fascistas
Os parasitas socias
Enfim ,seus patrões,
os capitalistas
Eu luto para mudar
o mundo cão
Luto pelos oprimidos
Sou do exercito del pueblo
E o pueblo unido
jamais será vencido!
El Burrico olhava os jornalistas
como quem se divertia
A mulher, então,
soltou um curto suspiro e perguntou:
- Aqueles que lutam pelos oprimidos
podem sequestrar,
traficar, extorquir,
matar civis,
arregimentar inocentes
para milícias suicidas e delinquentes?
O rapaz, completou:
- Aqueles que lutam
para mudar o mundo
podem ser jagunços
de narco-traficantes
ou lançar bombas
para um batismo de sangue
El Burrico respondeu de imediato,
balançando a cabeça,
face de enfado:
-Como vocês são grotescos
e mórbidos
Esta conversa é mesmo
um narcótico
Uma droga mais poderosa
do que a nossa Coca
- Então o sr confirma
a autoria de todas
estas ações terroristas?
-Não!
-Mas como não?-
exclamou o repórter
-Não!
Temos uma ética de conduta!
-Ética?-
falava a mulher, voz dura-
Explodiram a Igreja Bellavista
com cem inocentes
durante um culto?
Matam reféns quando
atrasam o resgate
Lançam bombas
em boates
Mulheres são abusadas
no cativeiro
Penduram colares
com dinamite no pescoço
dos prisioneiros
-Não!
Não fomos nós!
Isto tudo não é verdadeiro!
- Como?
-Não fomos nós!
-Como assim?
-Foram os americanos
-Americanos?-
O repórter girou um dedo
em sua têmpora como a dizer
que el Burrico estava insano
-São os americanos
infiltrados na guerrilha
-Mas os americanos são altos,
brancos, compleição e biotipo
diferente de seu povo, senor Burrico-
argumentou a jornalista
-Mas ficam pequeninos,
cara de índio, moreninhos
Eles mirram e espicham
Isto é coisa da CIA
São psicopatas reacionários
Eles e seus aliados -
servos das oligarquias
sanguinárias
Fez-se um longo silencio
El Burrico havia acendido
um charuto cubano
A fumaça era levada pelo vento
-Então, vocês não sequestraram,
não mataram, não raptaram,
quem fez tudo isto
foram os americanos
disfarçados como mestiços hispanos?-
perguntou o reporter
e concluiu com ironia-
Seria o mesmo que tentar
vender um jacaré como periquito
-Eu não acredito que
ouvi tudo isto
E qual o objetivo?-
perguntou a moça
sem disfarçar o riso
-Desacreditar na nossa
organização humanitária
de luta pelos oprimidos
Eles e seus servos apátridas!
Não somos terroristas!
Somos soldados do povo
sofrido!
-Mas não mataram o senador
Joaquim Lozado?
-Ah, político!
Político não é gente
Matar político faz o povo contente
-Ahhhh, então senor Burrico
finalmente
o sr admite que matou alguém
Burrico lançara a ponta
do charuto no chão ,
e calcava-a com a ponta da bota,
enquanto agora mascava uma folha de coca
-Os srs colocam os defeitos
dos outros às suas frentes,
e os seus, às suas costas-
ele falou ,tom de advertencia
- Lendo os estatutos
de sua Organização,
observo com muita apreensão
que os srs querem o absoluto
domínio de todo a América
Isto não lhe parece uma pilhéria?
- E porque seria uma pilhéria?
-Porque durante centenas de anos
os srs diziam que os imperialistas
eram os americanos
Se isto não for pilhérica, é hipocrisia
Burrico sorriu, fez uma careta vadia
-Mas como voces são patéticos!
Gostam de fazer drama
e levam tudo muito a sério
- Somos humanos!
Civilizados!
retrucou o repórter
-Por que não dão um sentido
às suas vidas mesquinhas,
inúteis e vazias?
Chutem o pau da maloca,
meus camaradas
Experimentem a folha
de coca
E venham para o nosso lado,
parem de puxar o saco
do dono desta revista-
um grande carrapato
Viva os mártires caídos!
Viva la Revolucion Socialista!
Havia anoitecido
Homens hostis andavam na mata
Companheiros do Burrico
-Bem , para finalizar a entrevista
O sr gostaria de falar algo?-
perguntou com raiva o jornalista
-E a minha fotografia
para a capa da revista?-
E Burrico sorriu,
afagando seu fuzil
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