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Poesias-->medico 314 -- 18/12/2011 - 00:19 (maria da graça ferraz) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando eu me for,

todos os passos deste hospital

guardarão o ritmo de meu cor-

ação

Eu conheço todos os caminhos

Todos os atalhos. Todas as direções



Sei do passo que se detém súbito

Sei do passo antes do pulo

Sei dos passos moídos curtos

interrompidos da multidão aflita

que procura uma saída



Eu sei

Sei do passo da bengala

Da moleta. Da cadeira de rodas.

Da bota ortopédica

Do aparelho gessado

Sei do pé equino que se arrasta

e do pé torto que é hélice

Sei, sobretudo, do pé paralisado,

que ainda anda, anda, ainda,em cada pulso,

em cada quarto de minuto



Eu sei

A textura de todos os tamborins

Conheço o frio das cerâmicas

A pele encerada dos pisos

O chão lavado liso desinfetado

qual um lago de gelo



Eu andei

sobre águas de parto

Andei sobre humores-

lodo do corpo

Eu deslizei

sobre poças de lágrimas

como pequenos tambores



Andei Andei

procurando um sítio

não marcado no mapa

Andei com uma gota de sangue

marcada no sapato

como quem equilibrasse

um pequeno astro



Sei

Sei do pé em falso

antes da queda no abismo

Sei do passo impaciente,

parado à porta, na escuta

Sei dos passos dissolvidos

como torrões de açúcar

no crepúsculo

Sei dos passos que transpiram

no chão de fogo

Dos passos que se dilatam, sei,

e se tornam líquidos, também sei,

e retornam à terra como raízes



Quando eu me for

Continuem andando neste hospital

Insistam! Não parem!

E eu viverei...



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