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Poesias-->145 -- 24/12/2010 - 23:30 (maria da graça ferraz) |
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O diabo chegou, aos poucos,
pé de bode, sapatinho de melindrosa,
devagarinho, em meio ao povo,
abrindo caminho, com fala dengosa,
sedutora, língua de serpente - bífida,
veneno da farsa e da mentira,
escolhendo suas vítimas
E o diabo foi vindo
E que rosto santo, o diabo tinha!
E que voz mansa, o diabo tinha!
Quanta angelitude e formosura
no olhar puro cheio de virtude!
Condoído de tristeza. Um pobre coitado!
Que da vida só recebera o desprezo
e pela sorte, fora abandonado
Mas resistira ,este bravo,
com galhardia e abnegação
à cruz da penúria, ao longo calvário
de privações e sacrifícios,
à fúria da fome e ao martírio dos homens
Então, a LEI desconhecida,
permitiu-lhe, enfim, a REVELAÇAO :
Ele era agora o "ungido"
cujo destino era acolher as almas
antes do juízo final dos últimas dias,
conduzir os escolhidos
à uma terra prometida
e separar o joio do trigo
E como o DEUS- de cima
havia sido deposto de seu trono
pelos padres sem fé e cínicos,
o diabo chegaria fácil nesta terra sem dono
E o diabo vinha, como um prometido-
Iocanaã- O novo cordeiro
a anunciar um paraíso alvissareiro,
de abastança, justiça, felicidade,
na terrestre bem -aventurança
Fora anunciado pelos profetas
que viram uma estrela vermelha
a cair no céu entre o cruzeiro
Quando chegou o diabo, fora recebido,
com grande pompa e festejos
pelo povo ganancioso e ávido
por fáceis riquezas
Foi Onofre - o agricultor-
quem falou para sua mulher -
Maria da dor
" Pensando bem,
o paraíso do diabo
é mehor que o paraíso
de Nosso senhor :
Não se precisa morrer
E só se tém direito
Nenhum dever"
Passaram-se dias, vários, muitos dias,
e o tal paraíso foi ficando tão
pequenino que dentro dele não mais cabia
nem um só dedo do pé da alegria
Mas o diabo esperto distraí-os
Lançava-lhes pão amanhecido,
brincadeiras, jogos, circo,
álcool, drogas e preservativos
Enquanto sua corte mantinha
a mente do povo cativa
por uma rede de propaganda
confundindo seus juízos
e dominando todos os sentidos :
" O paraíso é mesmo isto"
Os cartazes diziam
A TV dizia
Os jornais diziam
E repetiam!
E repetiam!
Exaustivamente repetiam, dia após dia
" Eis o paraíso prometido
O mundo de delicías"
E quem se atrevia
a dizer que nada disto via,
ou contestar as estatísticas,
era colocado no hospício
E o diabo gargalhava, bebia, ría-se
Roubando o dinheiro de todos
Proprietário de todas as vidas
O povo mísero, doente, aplaudia
Foi Onofre, que veio
terminar este poema
Rosto de quem sofre,
gestos lentos pela algema
" Das dor, mulher,
acho que o paraíso
é esta merda mesmo.
Fala isso! Repita isso!
Porque senão seremos presos"
E Das dor olhou o marido
conformado e cheio de medo
" Nada disto!
Vamos enganar o diabo
Vamos odiá-lo
manifestando amor
Vamos saber tudo
fingindo nada saber
Vamos vencê-lo
com sua própria arma :
O nosso aplauso
será o nosso desprezo"
E Onofre cabisbaixo,
perguntou:
" Até quando, Das Dor,
até quando esta nossa sina?"
A mulher respondeu:
"Até resgatar o trono
nosso verdadeiro Salvador"
Mas ao invés de suas mãos
elevarem-se para cima,
Das Dor colocou uma mão
na cabeça e a outra no coração,
e olhar para baixo, mirou o ventre-
sementeira de uma nova geração |
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