LEGENDAS |
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral ) |
(
! )-
Texto com Comentários |
| |
|
Poesias-->2613 -- 24/12/2010 - 23:09 (maria da graça ferraz) |
|
|
| |
Na parede atrás da porta
a pasta dentrifícea
e as escovinhas
de cerdas gastas e tortas
divididas na irmandade "dos todos"
através dos segredos
partilhados boca à boca
E, assim, todos os dias,
as crianças limpavam os dentinhos
de forma fatalista
cumprindo o ritual do destino
E ficavam lá sorrindo
Estômago no ronco
Flauta frouxa
Vento no tranco
" Lava a boca!"
Se não lavar, dá má criação, cadeia,
tártaro, palavrão, lumbriga gorda
" Mãe, para que serve
este dente pontudinho?"
O canino?
O dente dos venenos das víboras?
E do ataque do cão?
Para ti, nenhuma serventia!
Tu és herbívoro, menino!
Como o carneiro
Só lhe tém valia o pilão
dos molares
para o bulbo, para o centeio,
pão, inhame e feijão
E a faquinha dos incisivos
para cortar a pelanca,
o bucho, a casca da laranja
Nasceste para carregar bandeja
Ser burro de carga- tacanho macambúzio,
criado de quarto,
suportar o pelego,
o arreio a canga
das injustiças, pencas, dúzias
" Lava esta boca, menino
Para que tanta pergunta?"
E a criança ficava
com os dentes branquinhos
Sorrindo imunda
Coluna corcunda
Gengiva sangrando
no auto-canibalismo provado
em sucos
Béri-beri e escorbuto
Ah, que malvada a vida!
Quem nos livra dos corruptos?
E desta sociedade verduga
que embora honrada em palavras;
nos atos prova infamia e veniaga-
sem caráter, sem vergonha e sem ideal?
E diante da vergonha nacional,
da indiferença geral,
do imobilismo cético e pervertido ,
da justiça ao arbítrio político
eles só tinham
a escovinha dentifrícea
e o esfregão da cozinha
Sorria, menino,nada diga,
porque se falar, complica
e
....
Cala a tua boca!
|
|