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 | Poesias-->Mordaça Santa -- 19/12/2010 - 22:26 (Marluci Ribeiro de Oliveira) |  |  |  |  |  |
 | Deus me arranque da tormenta da inveja 
 Que gera o torvelinho
 
 De uma alma em desalinho.
 
 
 
 Deus me proteja da celeuma
 
 Da falta de resguardo
 
 De uma língua feita em dardo.
 
 
 
 Deus me afaste do rodamoinho
 
 Das dissensões malsãs
 
 Afloradas entre irmãs.
 
 
 
 Deus me guie, sobretudo,
 
 Contra minhas próprias paixões:
 
 Fontes de dores e senões.
 
 
 
 Deus me arraste de terrenos alagadiços
 
 Encharcados de vícios,
 
 Para fazer-me mais humana.
 
 
 
 Deus me permita proibir-me
 
 De ser algoz,
 
 Na maré de vaidade que inunda a todos nós.
 
 
 
 Deus me lance os pés
 
 No terreno da bonança
 
 Que consiste em amparar uma criança.
 
 
 
 Deus me empurre morro abaixo
 
 No sentido da esperança
 
 Que embala quem não cansa!
 
 
 
 Deus me arremesse
 
 Contra o muro do preconceito
 
 Pra ver se me endireito...
 
 
 
 Deus se apiede de mim,
 
 Tão pequenina,
 
 Tão fagulha
 
 Que pouco brilha.
 
 Pra ser um ser que cintila
 
 (Qual purpurina
 
 Ou agulha)
 
 Nas sobras das sombras da vida.
 
 
 
 Serei luz, ao encontrá-la
 
 Ou serei charco, na vala?
 
 
 
 Por isso, Pai, te peço:
 
 Traga-me o impasse
 
 (O empecilho)
 
 Diante do titubeio,
 
 Do grande tombo.
 
 Sove meu lombo,
 
 Segure meus ombros,
 
 Prenda meus pés.
 
 Provoque um revés.
 
 Um pequeno tropeço.
 
 Uma ré. Um recomeço...
 
 Qualquer coisa que me impeça
 
 Daquilo que me desmereça.
 
 Que me desmorone.
 
 Que me aprisione
 
 Ou enlouqueça.
 
 
 
 Ah! Senhor, que me entende
 
 E me vê como sou e nem suponho.
 
 Orienta-me no sonho,
 
 Turva minha vista e meus passos.
 
 Prenda minha língua, meus braços.
 
 Ajuda-me a colher, em teu regaço,
 
 Mais saber e menos regalos.
 
 Para merecer tua santa interferência,
 
 Nesse processo de ascendência
 
 Com ascensão.
 
 
 
 Porque só assim (sem preferência)
 
 Poderei colher do que planto
 
 E do que avento.
 
 Pois, por merecimento,
 
 Não me avilto nem me aproveito.
 
 
 
 Mas te peço o teu manto,
 
 Para cobrir-me o pejo e o pranto.
 
 Pois sofro tanto
 
 Por minha própria insensatez.
 
 Afinal, vibro (como víbora)
 
 Pela vitória terrena,
 
 Da mesma forma que pego da pena
 
 Pra clamar, com altivez,
 
 O império do bem sem jaez.
 
 
 
 Por isso, meu Deus, me freia!
 
 Para minha marcha claudicante!
 
 Porque sou tão ignorante
 
 Tão mesquinha e tão feia!
 
 Faz-me repensar meneios,
 
 Sem rodeios.
 
 E assim, quedada a freios,
 
 Impeça-me de ir adiante
 
 Sem estar cheia.
 
 Sem encher-me de coragem,
 
 De sapiência,
 
 De humildade,
 
 De experiência
 
 Na bagagem.
 
 
 
 Ah! Que eu não fale bobagem...
 
 Nem transgrida tuas leis.
 
 Para que, durante a viagem,
 
 Não me perca de vez.
 
 
 
 Deus,
 
 como sou tola!
 
 Por ordenar-te
 
 O que fazer comigo...
 
 Pois como és realmente meu amigo,
 
 Sabes, com grande arte,
 
 Do que devo fazer parte
 
 E do que, em aparte,
 
 Devo afastar-me, num abrigo.
 
 
 
 Por isso, olvida meus pedidos.
 
 Meus desejos escondidos.
 
 Deixa-me correr pelos prados
 
 (Qual aloprado),
 
 Na esperança do pódium...
 
 
 
 Permita-me cultivar o amor, fugir do ódio,
 
 Transformar a dor em cadinho
 
 Que bem se sorve ao bocadinho...
 
 
 
 Seja surdo aos meus apelos aflitos.
 
 Se deles não me afasto quando posso.
 
 E, assim, deliberadamente me destroço.
 
 
 
 Simplesmente finja não me ver.
 
 Nem divisar meu perfil.
 
 Se movido por ardil.
 
 
 
 Pois sei que isso, qual buril,
 
 Aparará minhas arestas.
 
 Abaixará minha testa.
 
 Far-me-á menos imbecil.
 
 
 
 Sou tua serva, tua aia.
 
 (Quase uma mucama).
 
 Alguém que te ama
 
 E te vaia.
 
 Num contra-senso infantil.
 
 Por isso, Pai Maior,
 
 Arranca das órbitas
 
 O olhar menos piedoso.
 
 A crítica mais ferina...
 
 
 
 
 
 Só desse jeito
 
 Poderei ter em teu reino
 
 E, mesmo contrafeito,
 
 Tornar-me menos imperfeito,
 
 Para meu próprio proveito.
 
 
 
 Pai, cala-me a verborragia.
 
 Poupa-me da euforia.
 
 Livra-me da covardia.
 
 Dá-me a epifania
 
 De conhecer-te, qual vigia,
 
 Que me secunda, me guia...
 
 
 
 Vou-me, pois o dever me chama
 
 E do meu labor reclama,
 
 Sem pesar ou sensaboria.
 
 
 
 Pois sei que meu raciocínio
 
 Talvez mais se aguce
 
 À medida que cresço
 
 E me inclino
 
 A aceitar-me, como Marluci:
 
 Alguém que, com apreço,
 
 Busca seu próprio equilíbrio.
 
 Para, com ele, e sem trilho,
 
 Mover-se pra frente, contigo.
 
 
 
 Sei que pareço doidivanas
 
 Ou simplesmente vaidosa.
 
 Mais uma filha ruidosa
 
 Carente das palmas mundanas.
 
 Mas desde há muito te sigo,
 
 Como exemplo, Pai e amigo,
 
 Firme na certeza da vitória.
 
 (Não a que rende glória,
 
 Mas a que compensa a batalha).
 
 Porque dessa vida fluida e viscosa,
 
 O que fica (Deus me valha!)
 
 É o sabor da conquista
 
 De si mesmo.
 
 Deixar de ser vesgo,
 
 De seguir a esmo,
 
 De perseguir o tempo que se dista
 
 Para vencê-lo.
 
 De fazer o bem e merecê-lo.
 
 Porque feito com desvelo.
 
 De amar pelo prazer do amor
 
 Que só o amor nos dá.
 
 
 
 Por isso, Pai, me permita pontuar.
 
 E cumprir teus desígnios sem tirar nem pôr.
 
 Sem nada esperar.
 
 Sem recompensa,
 
 Sem favor.
 
 
 
 Em 18/12/2010
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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