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 | Poesias-->PALAVRA IN-COMPLETA -- 20/08/2010 - 19:08 (Marluci Ribeiro de Oliveira) |  |  |  |  |  |
 | Só a palavra me liberta. 
 Me conduz, me põe alerta.
 
 Dialoga comigo - é coisa certa.
 
 Discute tudo de forma aberta.
 
 
 
 Permite-se. Deságua. Irrompe.
 
 Jamais me cala ou interrompe.
 
 
 
 É fogo amigo sempre, sem trégua.
 
 Me serve de prumo, de régua.
 
 Mas é fluida ao mesmo tempo: se amolda.
 
 Emudece. Não incomoda.
 
 É figura pétrea, redigida.
 
 Rígida, fingida...
 
 
 
 Dicionariza-se, quando proferida,
 
 E some, lesta, se esquecida.
 
 Não se aborrece jamais!
 
 Apenas sai, se for capaz.
 
 Ou escapa, furtiva.
 
 Para se fazer cativa
 
 De um falante ou escritor contumaz!
 
 
 
 Viva a palavra morta!
 
 Fincada em alguma árvore ou folha,
 
 Rota pelo entendimento ou escolha,
 
 Incompreendida, vã, absorta...
 
 Muda e burra como uma porta!
 
 Quem se importa?
 
 
 
 A palavra é veneno, é cosmético,
 
 É remédio, animal doméstico...
 
 Profissão, miragem...
 
 Registro profético,
 
 Bobagem.
 
 
 
 É a fonte desse meu poema,
 
 De grande parte dos problemas,
 
 De guerras, duelos, algemas...
 
 É meu mote, meu tema
 
 E acima de tudo meu dilema:
 
 Como matá-la?
 
 Se calo, paro o que crio.
 
 Se continuo, sem estio,
 
 Como pontuo?
 
 Pois se com ela fluo,
 
 Sem rumo,
 
 Me torno cansativo
 
 (E me consumo),
 
 Pois o eterno verbo ativo
 
 E sem senso,
 
 Construído enquanto penso,
 
 Equivale ao incenso
 
 Que polui se não perfuma...
 
 Provoca alergia, bruma...
 
 Obnubila os sentidos!
 
 Ah, a palavra vicia!
 
 Alicia!
 
 Traga para si os pervertidos,
 
 Os adictos...
 
 Por isso me calo, convicto
 
 De ser alguém incompleto:
 
 Por amar algo intangível,
 
 Que escorre do intelecto
 
 E mesmo quando inteligível,
 
 Pode assumir formas variadas...
 
 As palavras fogem, encantadas,
 
 E se escondem de nós, silentes.
 
 São o inferno da gente
 
 E nossa testemunha onipresente.
 
 Quisera viver sem ela, simplesmente.
 
 Nem pensar, nem falar, nem escrever...
 
 Ser oco, vazio, inócuo, dormente.
 
 Ir e vir e viver... sem deixar rastros.
 
 Mas a palavra é um emplastro:
 
 Que gruda, que alivia, que marca...
 
 E eu sou mero hospedeiro...
 
 Dessa praga que, mesmo parca,
 
 Consome o meu ser por inteiro!
 
 E traduz bem minha natureza concreta:
 
 Sou humano, finito e poeta!
 
 
 
 
 
 
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