Ah, amor!
Quero cantar-te agora.
Já, sem demora,
Pois te reneguei,
Te escondi,
Até ignorei,
Já é hora!
Mas não, não serei hipócrita,
Serei justo.
Cantá-los quero,
Amores...
Dizer o que nunca disse,
Sem custo, sincero.
Como vivi tanto tempo sem vós?
Como?
Como pude amanhecer sem ti, à míngua?
Como pude anoitecer sem ele?
Como pude ignorar teus corpos nus em minha língua?
Derretendo ao meu calor perene.
Como pude? Com pude?
Como pude ignorar-te, calma amante?
Como pude macular-te, pequenina?
Como pude injuriar-vos em vossa nobre sina?
Ah, amores!
Não se conhecem, mas se aceitam.
Dividem-me e se respeitam.
Amores, letárgicos amores.
Analgésicos de dores,
Cuidem de mim.
Ao menos de meu corpo,
Pois o meu coração só conhece um remédio,
Doce remédio de amargo sem fim.
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