A Ali Babá, Fernandinho Beira-Mar, Al Capone e Gino Meneghetti
“Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.” Carlos Drummond de Andrade.
Quantos crimes e leviandades já pensei em cometer?
Praticar um atentado matando um político corrupto em pleno discurso, no alto dum palanque...
Roubar o banco duma forma teatral para ser o rei dos ladrões ou assaltar o trem pagador como fez Ronald Biggs e me tornar figura da high society carioca...
Ser flagrado em orgia com as mais belas modelos das revistas masculinas,
Desacreditar religiões desmascarando falsos profetas, bispos simoníacos e pregadores levianos....
Ser o hacker mais perigoso, desarticulando todas as defesas dos sistemas de segurança e financeiros, transferindo milhões para minhas contas em paraísos fiscais...e ainda por cima disseminar vírus que destruam arquivos de contratos, hipotecas, listas de credores e devedores, apresentações de powerpoint de mensagens de auto-ajuda e frases de efeito, cartas e promessas de amor e ano novo e rascunhos de maus poemas.
Investir e ganhar milhões com informações privilegiadas e antecipadas na bolsa de valores,
Desviar recursos para fazer fortuna dos cofres públicos e inaugurar obras faraônicas para ter meu nome aplaudido por uma claque de aturdidos,
Vender produtos inúteis proclamando suas incríveis benesses para a saúde, o espírito e a nossa infinita necessidade de diversão e arte,
Falsificar os mais famosos quadros e furtar as telas originais para revendê-las no mercado negro da arte,
Pregar peças em tolos burgueses por meio de contos do vigário, vendendo o Viaduto do Chá, a Ponte Rio-Niterói, o edifício Martinelli, o Itamaraty...
Vender segredos militares como o projeto do mais novo submarino nuclear, o avião caça invisível, o tanque indestrutível, a bomba inteligente para terroristas internacionais como Osama Bin Laden e depois – como um agente duplo – informar o esconderijo às instituições de segurança internacional.
Falsificar notas de dinheiro – dólares, reais, pesos, euros – aos borbotões e jogá-los pela janela inundando comércio mundial de notas falsas e ainda criar um banco para administrar a fraude financeira...arruinando Wall Street!
Quantos crimes e leviandades já passou pela minha imaginação perversa?
Caros Precogs, por que vocês sabendo de todas essas maldades que vão em meu coração não informam à Polícia, ao Bope, à SWAT, à KGB, à Cia, ao FBI, à Interpol ou à Scotland Yard para que venham em viaturas barulhentas, rifles, revólveres e metralhadoras em punho, derrubando portas e batentes e me levando preso ou para falsear uma reação minha, me atinjam com saraivadas de balas?...
De certo, não é preciso....Minha pena já está sentenciada e sendo cumprida irrevogavelmente...
Minha obra poética está na solitária, minhas músicas desafinadas no submundo da marginalidade artística, meus projetos literários inéditos permanecerão, meu teatro jamais representado... Minha pena parece ser o olvidamento completo das expressões de minha alma solitária...
O roubo que mais sonhei em praticar, o coração de minha amada, simbólico, alegórico, de fato o pratiquei, mas é crime ambíguo, prescritivo.... Pensei em ter roubado o coração de minha amada, mas foi um crime ao inverso....Minha amada é que tem meu coração refém, atônito, sem ação, entregue à mira certeira de seu olhar...
Não tenho a habilidade de John Anderton...Meus pensamentos são tão fúteis, tão inconsistentes, sou o pré-criminoso mais perigoso no mundo da imaginação, mas oprimido, preso, dominado pela realidade, tendo grilhões e correntes sociais que me sufocam e me levam ao cadafalso diariamente!