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| Poesias-->2486 -- 12/04/2009 - 20:07 (maria da graça ferraz) |
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A minha miséria
é este bloco de papel-
" o receituário médico"
próximo aos dedos
sempre disponível!
Tão austero!
Tão céptico! Tão científico!
E se eu escrevesse sobre
ele um verso proibido-
estes meus segredos?
Como ele reagiria?
Perderia o meu emprego?
É de bom juízo,
aviso,
manter o limite diviso
entre a médica e a poeta
O que faço então com a palavra?
O que faço, diga,
com os pés de homens
lavados em sangue
que me atravessam?
O que faço com as feridas
abertas até o osso :
a bainha rota do tendão
e o feixe de nervos expostos
que desejam senão a salvação,
ao menos um porto?
O que faço com o coração da mãe
filho no colo
sempre parada
atrás de minha porta?
O que faço com as coisas
que não dão mais volta?
E se eu destruísse o receituário?
Poderia rasgá-lo!
Sim, eu poderia!
Mas ainda, assim, mil pedaços
ficariam debatendo-se, no chão , convulsos,
pálidos , "vivos"-
sombra de uma grande lua
Ah., seu eu fosse um pássaro
Poderia arrancar minhas penas
com as própias mãos
e escrever com elas...
esfregando o corpo na imensidão do espaço!
obrigada por teres me lido
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