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Poesias-->2480 -- 12/04/2009 - 20:03 (maria da graça ferraz) |
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O grande armário
vivia sempre fechado
Sua parte debaixo
era arca de madeira
escura, resistente, pesada
Sua parte de cima
era delicada cristaleira
de portas transparentes,
fundo de espelho,
onde uma louça reluzente,
branca-dourada, dispunha-se
em prateleiras tão finas-
pequenas faixas,
que era como se as coisas frágeis
ali dentro, flutuassem
num irreal caixa
O armário trazia o cheiro
da terra funda, das raízes ,
de resina , das coisas não sabidas
e a marca úmida do corte
As origens.O nó .A ferida crua do umbigo.
A vida enganando a morte!
Um navio!
" Criança, não mexa aí dentro"-
advertiam as tias, as comadres, as vizinhas,
todas as serpentes:
" Criança que mexe aí dentro, não vai para o céu"
Eu fingia obediência
Para evitar a tentação,
mantinha as mãos atrás das costas,
entabulava uma prosa qualquer,
olhava para o meu pé
Mas o armário desproibía-se
e ensináva-me um tipo de silêncio ativo
em que anos mais tardes
mergulharia em minha vida
Ele abria-me o quinto
ângulo como um cimo
em que eu subiria
cega, tonta, conduzida
por uma luzinha guia imaginária
O armário- Será que ele ainda existe?
Será que, ainda ,
atrai o olhar de outra criança triste?
Dentro dele,lembro-me,
um brilho contínuo,persistente
devolvia meu olhar inocente
Diante deste armário
eu descobri
o pátio
da casinha de brinquedos
Um grande pátio sem cerca sem muro
do tamanho do mundo
obrigada por teres me lido
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