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Poesias-->2408 -- 17/10/2008 - 20:21 (maria da graça ferraz) |
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Porque tudo que ele possuía,
ele carregava em ambas as pernas:
as rosas sujas - crateras
fundas, úmidas,carne corroída
E, todos os dias, lasso, extenuado,
ele vinha para banhá-las
nas cascatas de antisséptico
que caíam em pancadas
nas pias fétidas de aço
do posto médico
Porque tudo que ele possuía-
o andarilho diabético,
eram as úlceras abertas
que carregava em ambas as pernas
como a bondosa terra
aceita o oco da caverna e seus minérios
para extrair a preciosa gema
E ele suportava o fardo, esta miséria,
o suplício, a gangrena,
sem fraquezar, o meu gigante!
Pernas agrilhoadas pela dor,
arrastáva-se, seguia adiante,
marcha de burro e de boi
E lá, na pia, horas depois,
à luz branca da lua fria,
ele polia suas correntes invisíveis
num batismo de água e de fogo
Era o mais limpo dentre todos!
O mais poderoso!
Porque ele ,ao menos,ele, suas algemas, conhecia
Bendito! Bendito, escravo!
Porque , dentre todos os homens,
era o único cujas grilhões brilhavam!
E este brilho fulgurante
iluminava as cidades
despertava a indolência dos grandes mitos
acendia os olhos das gestantes
e lançava o aviso
"Se não havia piedade, haveria RESISTÊNCIA!"
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