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Poesias-->NERVOSO -- 25/04/2008 - 18:55 (Cristina Ancona Lopez) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando ficava nervoso falava alto, os olhos soltavam faíscas e batia com o punho fechado na mesa. Olhava firme nos olhos e buscava a culpa de quem fosse, em quaisquer olhos que encontrasse.

Eu tremia, mesmo sabendo que a culpa não era minha.

Um dia consegui me distanciar e, mesmo sendo atacada, não deixei que os ataques me fragilizassem. Consegui me retirar da cena e assisti-la e vi um homem, vermelho de raiva, corpo grande, posição de ataque, querendo fazer valer a qualquer custo seu poder.

Um homem mimado. Isso que era. Acostumado a ter tudo a tempo e à hora.

Porque não adivinhavam todos o seu pensamento? Porque não entendiam sem que explicações fossem dadas?

Um homem descontrolado, solitário e digno de pena.

Deste dia em diante a cada ataque que assistia, dirigido ou não a mim, eu buscava os detalhes: das palavras isoladamente, das mãos, dos olhos, da posição do corpo, do enrijecer dos músculos....

A cada som mais alto, mais interessante se tornava o trejeito da boca. A cada respiração entrecortada, mais tremia o enorme corpo. A cada movimento das mãos mais interessada eu ficava.

Estes detalhes tomavam tanto a minha atenção e eram tão intrigantes que passei a receber com prazer aqueles ataques. Tornei-me espectadora assídua, vinha de onde estivesse para vê-los.

Lembro-me até hoje de todos os trejeitos e da cena chocante mas, das palavras, esqueci-me completamente.

Não tinham a menor importância.



Tita

21/02/08





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