ÓBVIO
Como enigmas
que nos portos explodem,
revejo-me entre adeuses,
perdas e sonhos.
Amargo poema
escorrendo entre os dedos,
buscando
a transparência do momento.
Ah, exatidão querida,
no fundir do pólen da vida
com a dor do poema.
Que força! Que vibração! Que paixão!
Eu, que atentei para as prostitutas e
os punks de Sampa,
vi a menina suja de amor
e o cidadão
que já nem sabe do que se trata.
Oh solidão que produz
poema e luz...
Sonhei que a vida pudesse ser
um doce de Cora Coralina
sem nunca pintar o vermelho do sangue.
Sangre Soweto!
Sangre!
Sangre! Por favor!
E hoje...
Óbvio como a verdura que se perdeu
no aceno de um olhar,
brilha e dói em mim
a tristeza que cravei
aqui.
Marciano Vasques
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