LEGENDAS |
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral ) |
(
! )-
Texto com Comentários |
| |
|
Poesias-->BORBOLETAS BRANCAS EM TARDE TROPICAL -- 16/01/2008 - 21:04 (João Ferreira) |
|
|
| |
BORBOLETAS BRANCAS EM TARDE TROPICAL
Jan Muá
Fazenda Thaís. Ipameri.Goiás
19 de abril de 2003
Caminho por trilhas de areia e pedra
Piso de boi
São cercas de arame e mourões
Varas altas de colonião carregadas de semente
São torres de cupim
Galhos secos esventrados de casca
Sibipirunas frondosas
Sucupiras
Nuvens de urubus vigiando a caça podre de carcaças fétidas
Borboletas brancas desenhando o vôo
Voz trinada de periquitos selvagens
No arco largo da colina
Ladeando a trilha, tortuosos galhos de mamona jovem
De florzinha roxa
Rosto de sexta-feira santa
O chão é de pasto raso nivelado
Pelo apetite arcano do dente de boi
Há pequizeiros de ramos lassos
Amostrando as polpas de seus pequis
Na curva dentro do cerradão espreita o barô de frutos sólidos
Todo o chão da mata aparece tapetado de folhas secas
Com gravetos triturados
Há mistura de troncos adultos crescidos e de pequenos matos e arbustos
Na convivência de diferenças e de tamanhos
Há gramíneas e galhos torcidos e secos
Há braços longos de pseudo-faias
E mandacarus de mistura
E pedras e tufos de capim
E troncos apodrecidos com o rosto carbonizado da última queimada da mata
Há a brisa que anima os ramos
E o xuxualhar da folhagem
E o sol iluminando os troncos
E as sombras escondendo os rostos
Há a rosada flor que decora o chão
E sustenta a abelha com seu pólen
Há os frutos silvestres
Alimentando pássaros e macacos
Há o viço de algumas folhagens e o sinal de morte de cascas e caules
Há o vulto de raras flores amarelas
Nascidas do hálito humoso da bosta bovina
Há as borboletas brancas saracoteando luminosas em curvas por entre árvores trazendo movimento e graça ao ambiente
Há o rabo de tatu
Soberano e elegante
E os beija-flores nervosos e ativos flertando e sugando o pólen do mijo de macaco na baixada
Há as guarirobas esplendentes de ramos
Abanando ao vento
E o tamarindo de frutos espessos e marrons
E os limoeiros carregados
O canto da carricinha amante
Acenando para o parceiro enamorado
Há a sombra aconchegante da sibipiruna
E os marimbondos assanhados
Concentrados em toca resguardada
Há os raios luminosos vivos por entre os ramos
E as imagens douradas atravessando as folhas
E o céu carregado em tons lembrando estilos de arte
Há as porteiras e os mata-burros
As vacarias e os pastos e as vacas leiteiras e os bezerros e o touro
Acompanhados pelos cães pastores
Há os pastos altos
Os cavalos os silos as carroças e os tratores
Há a lagoa e o terreiro e o bambuzal
Agora agitado pelo burburinho dos pássaros que disputam lugar para dormirem no alto longe do alcance dos predadores
Há o murmúrio romântico e tranqüilo
Desta tarde
E sua serenidade campestre
Há a síntese de mundo que chega ao meu espírito
Há a vida e suas manifestações
Há toda a natureza vibrante
Que agora se acomoda
Para receber a noite
E deixar-se embalar pelo piar do mocho
Símbolo metafísico dos gregos
Para os arroubos da filosofia!
Jan Muá
Dia 19 de abril de 2003
Na Fazenda Thaís, Goiás
|
|