Participo do funeral de Baldur, conduzo seu cadáver.
Seu navio, transformado em pira fúnebre, vaga no mar.
Por sorte nossa o vento amigo espalha suas cinzas.
Partículas delas permanecem em cada coisa e em ti
Poesia
O poema soprado em seu ouvido pela musa,
Adormece quando escrito, resta, no papel.
Renasce, volta à vida, somente se é dito.
Esperamos, ah esperamos, que bem dito.
O poema qual encontro amoroso inesquecível,
Só se completa no êxtase que produz no outro.
Se o sensual que une os corpos é tão belo
Como descrever a união, fugaz, do anímico?
Fazer poesia exige fecundar-se do tema.
Engravidar-se e gestar palavras e versos.
Parir literalmente com prazer e dor a obra.
Assumir ao final seu filho seja belo ou feio.
Essencial ao poema mostrar-se ao alheio.
O que é análogo a despir-se em público.
Se vence o pudor e censura o poeta interno,
Vence o banal e o ordinário, morre o belo.
Feliz Aniversário!
Que a vida te permita
Um tanto bom de gozo.
Pois o prazer aquece
O coração e a alma!
Que a vida te forneça
O suficiente de luta,
Para te fortalecer
Como a aço da espada.
Que a vida te brinde
Com a beleza de Vênus,
Marte na força e caráter,
E a sabedoria de Saturno.
Que Júpiter te direcione,
Mercúrio te permita fluir.
A Lua te de o acolhimento
E o Sol te lembre a Deus.
Branca de Neve
Uma branca de neve mais completa,
Integradas a bruxa e até a madrasta
Somos entretecidos de luz e sombra
Renegar um lado só nos torna cegos.
Branca de Neve penetra a floresta
Densa, tenebrosa e inconsciente,
Onde se acerca de anões/gnomos,
Forças primordiais que nos habitam.
Oscilar entre simpatia e antipatia.
Odiar a bruxa e a madrasta rainha,
Amar a bela e pura Branca de Neve
Dualidade que se há de ultrapassar.
Príncipe e princesa são somente um
Como madrasta, bruxa e a Branca.
Perde-se o homem em tantas facetas
Esquecido está de sua unicidade
Ai de Mim
Se a intenção da carícia é contida.
E o suspiro esboçado é abafado.
Se o afago não se admite.
Ai de mim!
Se os sonhos em comum, tantos
Terão que ser vividos em pedaços.
Se cada vida é solitária.
Ai de mim!
Se meu pranto não rega tua face.
Se meu riso não encontra eco.
Se não colhes flores para mim.
Ai de mim!
Mas aspiro o ar que respiras.
Sobre teus passos seguem também os meus.
Tu és livre e aprisionar-te não posso.
Ai de mim!
Remédio
Retornar a pureza primordial perdida,
Sanadora de todas as feridas d’alma,
Restaurando do corpo: matéria e energia.
Ter remédio é a esperança que nos resta.
Ouvir o vento sussurrando na floresta ou apaixonar-se,
Aquecer-se com a areia morna sob a pele nua de seus pés,
Contemplar estrelas ou embevecer-se com o nascer do sol.
Seu remédio é único, inexplicável e merecidamente seu.
Droga, medicamento, poção ou beberagem até pode ser.
Ou mesmo algo como um toque físico ou da palavra exata.
A emoção causada pelo ser amado, a arte ou a natureza.
Tens remédio quando tocada pelo espírito a alma canta.
Escuridão e plena luz, caos e ordem, doença e saúde.
Só visualizamos nuances por acordo entre a luz e a sombra.
Transcender amarras, caminhar mesmo quando quer parar.
Ser remédio, ao falar, cantar ou afagar, pode-se intencionar.
Surtar...
Surtar...
Todos deveríamos surtar!
Pelo menos uma vez por dia.
Louco...
Por certo o mundo seria mais louco!
Mas é saudável um certo tanto de loucura.
Coragem...
Tomar contato com suas pulsões,
Abandonar por instantes o esperado.
Possível...
Ir e voltar somente poucos afortunados,
Conservam as chaves dos portais.
Arte...
É uma dessas raras chaves,
Que permitem o mergulhar no inconsciente.
O artista...
Esse louco sagrado que adentra seus infernos,
Reparte seus tesouros, mantendo os outros sãos.
Alimento da Alma
Qual o alimento da alma?
Néctar e ambrosia, do Olimpo?
Em que fonte buscar a vitalidade?
Onde jorra a imaginação vital?
A alma se alimenta de imagens e emoções.
De sentimentos, arte e beleza se nutre.
Desânimo é literalmente morte da alma.
Árida, quando o onírico não é alimentado.
Risco corre-se sempre, vivem-se dilemas.
Sem o artístico e criativo fenece a alma.
Deixada sem controle é a pura histeria
A meta é alimentar e conduzir ao caminho.
Pedagogia da alma, algo impensado?
Para além da religião sem negar o mistério.
Neófitos a adentrarem escolas de mistério,
De volta ao caminho, o eterno caminho.
Viajante
Sementes brilhantes e vermelhas de Pau Brasil.
Perdidas na areia da praia sob um pinheiro.
Como é louca esta vida e cheia de surpresas.
De caos e pouca ordem é feito o universo.
Rodando como um pião sobre um planetinho.
Orbitando ao redor de um entre vários sóis.
Iludidos de estarmos parados e ainda mais
No controle, da vida que é puro movimento.
Fluir é o conceito mágico, deixar-se alegre ir.
Pelo turbilhão do destino da vida e da energia.
Como o pintor que inspirado segue a intuição.
Ou da folha que se deixa carregar pelo rio.
O sábio é não resistir, seguir o destino e curso.
Apreciar a viagem, percebendo o fel e o mel.
Mergulhar fundo do prazer até a melancolia.
Sem perder a visão do todo e do feliz viajante.
Liberdade
Liberdade. A última quimera?
A vida inteira ansiar por esta ilusão?
Caminhar, sem tributos e sem destino,
Sem sapatos em desconhecidos caminhos.
Liberdade. A falsa liberdade.
Lutar por ela é somente engano.
Descobrir-se cada vez mais prisioneiro.
De rede de engano criada a cada instante.
Liberdade verdadeira? Somente ao dela abdicar!
Render-se por inteiro ao turbilhão da vida.
Abandonar-se à sucessão de caos e ordem.
Entrar semiconsciente no fluxo do universo.
Paradoxo, inimaginável, paradoxo.
Só se atingir vislumbre de liberdade
Ao se compreender a meta, liberdade, impossível.
Aceito o que, limitar-se-ia, o não termos limites.
O Espelho
Refletir, sem querer, toldar a imagem.
Abdicar mesmo, da própria imagem.
Viver plenamente o fenômeno da luz.
Sem procurar, para si, reter qualquer luz.
Tornar-se, ao outro, essencial.
Ajudar a forjar o ego alheio.
Abster-se de ser para que o outro seja.
Não ser e ser de forma ambivalente.
Quanto de essência e quanto de reflexo.
Conservamos cada qual no âmago?
O que seríamos se outra a influência?
Se espelhadas outras vidas e valores?
Possível a decisão do que espelhar?
Como espelho da Rainha no conto?
Poderíamos escolher o onde e o como?
Fadados estamos a refletir o que nos coube?
o Universo de Meus Sonhos
Fecho meus olhos como portais que se cerrem.
Adentro meu interno, universo de meus sonhos.
Você só entra se voluntariamente lhe dou as senhas.
Ou escava fragmentos perdidos em minhas poesias.
Aqui, toda loucura, bravata ou sonho é possível e real.
Não existe censura, esta é a única e maior regra.
Podem-se escalar montanhas ou mergulhar em rios
Terra das possibilidades convidando a explorá-la.
Fonte de vitalidade e criatividade como Iggdrasil.
Busco e acho aqui magia, acolhimento e sabedoria.
Mas o maior tesouro que encontro é a imaginação,
Mágico tapete, lâmpada de gênio e varinha de condão.
Aprender a entrar e sair, dizer as palavras mágicas,
Decifrar a esfinge, resistir a aqui sempre permanecer,
Aprender que o segredo do herói é descer ao inferno,
Enfrentar perigos, compreender e retornar para dizer.
Ir à Índia
Para Sandra
Ir à Índia,
Entoar mantras,
Dançar.
Fugir do banal,
Adentrar o extraordinário
Surreal.
Todos têm um sonho,
De rara beleza,
Ou maluco.
Guardado no embornal,
De quimeras,
De talvez.
Dar-se a chance de realizar,
Sair da dimensão do “se”,
Ir a Índia.
Tornar real,
O somente possível
E dançar.
O Brinde
Escolher a garrafa certa,
Servir o vinho...
Rodando a taça entre os dedos.
Perceber a cor de sangue, ideal.
Deliciar-se com o divino “bouquet”.
Inebriar-se com o perfeito sabor.
Faltava envolver a audição,
Assim surgiu o brindar -Tim, Tim.
Neófito
A chuva fina, o tempo frio e cinza,
Choro no interno e contemplo a praia.
O mar avança, doce, me lambe os pés.
Solitário, cismo, com meus fantasmas.
Claro e escuro, luz e sombra.
Repasso a minha luz e escuridão.
Afasto cabelos molhados frios e úmidos.
Aqueço-me, internamente, ao pensar em ti.
A aventura e o risco enorme de ser homem!
Andar como malabarista em um fio de arame.
Operário da existência, triste poeta do cotidiano.
Sobreviver na dureza do dia sem perder a poesia.
Chuva, que com a água conduz vida a terra.
Purifique-me! Acorde-me! E traga-me a vida!
Ritual solitário em templo simbólico e invisível.
Neófito, que sou e me apresento todo dia à vida.
Um Grão de Areia
Um grão de areia esconde um universo.
Como nosso universo para outros olhos.
Tanta empáfia acabaria se soubéssemos.
Todo o tempo a dimensão que temos.
Por outro lado a dimensão que ganha
Um gesto amigo, terno ou solidário.
O admirar o belo, a arte ou a natureza.
O êxtase do místico diante do divino.
Ambivalente, ambíguo o homem digladia-se.
Diante de dilemas e polariza-se: horror e glória
Com o Potencial de alcançar o céu, na terra.
Corre o enorme risco de só vivenciar o inferno.
Evoluir, crescer, perceber, ganhar consciência,
Caminhos possíveis, meta e destino humano,
Quantas vezes reluta: teimoso, obstinado e renitente,
Ter livre arbítrio é ao mesmo tempo glória e danação
Permanecendo, por tanto, nos mesmos velhos erros.
Possibilidade de quedas ou de longa e bela caminhada.
Mas lembrar que a espiral que galáxias e caracóis molda;
Nos move, ao voltarmos, para sempre um ponto acima.
Fazer Poesia
Faço poesia no esforço de me situar no mundo.
Procurando entender o absurdo da existência.
Refletindo, digerindo, expelindo o que resta.
Escatológico, portanto, mesmo assim poesia.
Fazer parte de uma certa espécie
Que produz a mais divina arte,
Mas mata na passagem do ano novo,
Pelo prazer de matar o semelhante.
Encanto-me com a praia, a água e o mar.
Adolescentes e crianças jogando peteca.
Cachorros que na praia não deviam estar.
O sol, a areia, conchas, a água e a maresia.
Ser homem, receber qual presente, ao nascer;
Terrível “carma”, sina ou inevitável herança:
Horror e glória inexoráveis e simultâneos,
Para o bem e para o mau, longo caminho.
O Mar
Preciso do mar de quando em quando,
Para nadar, mergulhar ou só contemplar.
Como o retorno do filho pródigo, a casa.
Sinto mesmo como um eterno regressar.
Mar que me aquieta e apascenta a alma,
Remete-me a reflexão e ao inconsciente,
Enquanto contemplo ondas que se quebram
Abro as portas de um mar secreto e interno.
Dias há em que colho chuva e tempestades;
Noutros bonança com sol e amena brisa.
Existem dias piores, da mais pura calmaria;
Até que o bom vento me dê velocidade.
Estar montanhês é ser sólido e recolhido;
Viver pleno o lado melancólico e fleumático.
Estar praiano é banhar-se de sol e cor,
Vivenciar o melhor do colérico e do sanguíneo.
O Guerreiro, o Visionário, o Curador e o Mestre
Lembre-se de semear!
A verdadeira luta do guerreiro é para plantar
Sementes que vão germinar em fértil solo.
O guerreiro não quer destruir, mas lutar,
Por tudo que acredita e intenciona.
Lembre-se de plantar!
O visionário planta mesmo que não vá colher.
Sabe que outros colherão e isto lhe basta.
Plantar é confiar no futuro é ter visão.
Acreditar na visão e nela se projetar.
Lembre-se de cuidar!
O curador cuida de quem dele se aproxima.
Neste processo se reabastece e cresce.
Atento que até a palavra pode ser remédio.
E que um remédio busca retornar a perfeição.
Lembre-se de cultivar!
O mestre cultiva o de melhor no interno.
Busca a sabedoria e o senso do justo tanto.
O indicar o caminho e o deixar trilhar.
Todo caminho busca para casa retornar.
As Quaresmeiras
Quero que meus amigos plantem
Quaresmeiras em suas calçadas
Que se extasiem com suas floradas
De rosadas flores símbolos do amor
Ou roxas que a tudo transmutem.
Que estes amigos delas cuidem,
Regando, abraçando as árvores.
Conversem com elas como amigos,
Palavras não se acabam entre estes,
Retribuam com flores, Quaresmeiras.
Quando estiverem tristes, meus amigos,
Abram as janelas para a beleza entrar.
Depressivos não há então como ficar
Diante de flores que pintam um quadro
Sua forma de comunicar, uma vez mudas.
Queridos amigos existe tesouro maior?
Que ter a frente ornada com flores?
E mesmo quando tombarem, fenecerem,
O trabalho de varrê-las será prazeroso,
Sentir-se como um deus a varrer estrelas.
Liberdade
Liberdade, a que palavra enganadora,
Que nos tenta com intrincados dilemas.
Quanto mais a buscamos e lutamos por ela,
Mais enredados e aprisionados nós estamos.
Só se atinge, de fato, a liberdade verdadeira,
Quando se aceita o fardo de todas as amarras
Mantido o sorriso pleno iluminando a face
E o coração transbordando de serena alegria.
Rir de si mesmo e da vida tragicômica
Rompe elos das cadeias que nos prendem.
Soltos estamos se assim nos sentimos,
O que importa é o que no interno impera.
Pode o homem passar na prisão a vida inteira
Sem que grade alguma importante o impeça.
Pois privado de andar pode agora ainda voar
Com as asas do pensamento, da emoção e da alma.
O Poema
Meu desejo é que cada e todo poema sejam,
Belos como a espelhar o divino ou a natureza.
Conciso como só a profunda reflexão enseja.
Preciso, com palavras encaixadas como jóias.
Mas que toda a perfeição não esconda
A emoção que subterrânea à estrutura.
Pois palavras vazias ainda que sonoras
Enganam os ouvidos, mas nunca à alma.
Poemas verdadeiros são como Ambrósia,
Ou o néctar, alimentos dignos dos deuses.
Nutrindo aquilo que de mais sutil nós temos.
Alimentada à alma, ainda que faminto o corpo.
Rico está o homem, mesmo que maltrapilho.
Livre para alçar vôo, mesmo que prisioneiro.
O Samurai
Ser guerreiro é lutar antes de tudo consigo próprio
Buscar vencer verdadeiramente a própria sombra.
Almejar a perfeição, meta sabidamente impossível,
Mas diante da luz do sol não se há de acender vela.
Aprender com os animais, vegetais e a vida.
Estar atento diante desta bela e enorme escola,
Cujo ano escolar inicia-se com o nascimento
E só de fato se gradua ao exalar o último suspiro.
Ter a força de estar plácido e sereno
Ter a coragem de desejar e buscar a paz.
Pois a maior batalha que se enfrenta
É o vencer a si mesmo, seu maior inimigo.
Afiar a espada, objetiva é se tornar preciso.
O golpe muitas vezes repetido disciplina o ego.
Estar pronto para a luta torna esta supérflua.
Permitindo a contemplação do belo e a poesia.
O que me Move?
Quando faço algo,
O que me move?
Busco o aplauso?
Quando amo alguém,
De fato a vejo?
Ou só projeto?
Realidade ou fantasia?
Em que dimensão vivemos?
Vivemos a vida?
Ou a sonhamos no cotidiano?
O ser amado,
É amado pelo que me suscita?
Por ele mesmo? Ou
Pela fantasia que me desperta?
O Poeta e o Louco
Passar sobre um arco de hera
Entrar em um bosque encantado
Mergulhar na dimensão poética
Mítica, arquetípica e simbólica.
Romper com a realidade dura
Experiência esquizofrênica do surto
Jornada do herói que desce ao inferno
E retorna com novo paradigma.
Ousar a ruptura e a ida
Amparado pelas asas da arte
Exige coragem e entrega
Mas dá significado a vida.
O segredo desta rica aventura
O que diferencia o poeta e o louco
É manter intacto o portal e a ponte
Que permite ir e retornar desta fonte.
A Criança e Maya
Olho-te a face sorridente, bela criança,
Vontade tenho de revelar-te certas verdades.
Falar de Maya, a ilusão, que a nós tudo vela,
Quanto essência mais verdadeira e mais “real”.
Bela criança, tu não entendes, mas quem entende?
Maya que transforma o transcendental em manifesto.
Que do verdadeiro mundo: o divino, o espiritual,
Nos faz esquecer para nos reter neste plano mundano.
Gentil criança enquanto sorris de forma encantadora.
Penso em dizer-te de Maya a nos emaranhar em uma teia
Onde projetamos fantasiosos desejos e aversões.
Tecendo vamos, dia a dia, nossa sutil prisão, a ilusão.
Feliz criança despreocupada, só ocupada em diversão.
Maya é desvelada pela Arte, pela poesia que acorda
A alma, com a linguagem da beleza a decifrar charadas.
Pelo Rito dotado de significado ou pela profunda meditação.
Querida criança, me vejo em ti, assim como a todos.
Cegos que estamos, iludidos de nossa boa visão.
Enredados por Maya, que cria esse mundo ilusório,
Que nos torna a todos atores, repletos de paixão.
Com o Peito Aberto
Almejo ser um nobre Florentino,
Me sinto Sancho Pança da Calábria.
Que distância entre intenção e prática.
Quão duro é olhar-se no espelho
E ver todos os defeitos d’alma.
Falhas, sombras, imperfeições tamanhas.
Almejar a perfeição e a glória,
Viver aos tropeções e tombos.
Triste e dolorosa sina humana.
Mas fechar os olhos e renegar a sombra,
Idealizando a perfeição e a luz,
Correr o risco de não viver o próprio drama.
Só resta ao homem o árduo caminho
Da longa e dura viagem ao interno,
Com o peito aberto para o que encontrar.
Senhor das Próprias Trevas
Quero ser o senhor de minhas próprias trevas.
Conhecer as sombras abissais que existem em mim.
Mergulhar nos mais recônditos segredos de minha alma.
Harmonizar, como em uma têmpera, o claro e o escuro
Procurar percorrer a estrada que leva a plena luz,
Com a sabedoria de perceber o tanto que suporto.
Tê-la por guia a indicar a estrada e o rumo certo,
Sem negar a sombra que mostra detalhes e nuances.
Fazer a própria e interna fusão de luz e escuridão,
Admitida a sombra incorporado seus arquétipos.
Missão sábia e difícil, jornada de nossa vida,
Olhar o mau nos olhos, sem medo, com respeito.
Pela consciência tornar-se de criatura em criador.
Iluminar-se pelo bom, pelo belo e pelo verdadeiro.
Colorir a vida com alegria, matizando sombra e luz.
Crescer cada qual no seu próprio e individual caminho.
O Tempo
Cronos, o tempo, monstro voraz que nos devora a todos.
Engolistes tantos dos meus seres queridos, pela vida a fora.
Vivos na memória, como se no presente, ficaram para trás
Perdidos, sabe Deus, em que remota esquina do passado.
Metis, onde estás? Esquecida hoje, deusa da prudência.
Com sua poção emética que permitiu outrora a Zeus
Fazer com que o pai Cronos lhe devolvesse os irmãos.
Não almejo do Olimpo o trono mas somente amigos.
Amigos queridos, que o tempo se encarregou de afastar.
Conservados na memória e no peito com muito afeto.
Estando mesmo pronto a abrir os braços para envolve-los.
Se puder fazer, Cronos cruel, me devolvê-los quiçá um dia.
Vive o homem entre as dimensões do espaço e do tempo.
Com a ilusão ressecante e enganadora de um finito tempo.
Esquecido de que sua morada é a mais plena eternidade.
Morador do divino, passageiro da luz, buscando a si mesmo.
A Solidão
Houve um tempo em que me sentia inserido no universo.
Fazia parte da floresta, do rio, do barranco e até do céu.
Irmão de cada um, filho e neto de cada pai, mãe e avô.
Sentia-me aquecido pelo sol e protegido à noite pela lua.
Cresci e me distanciei, criei meu espaço interno, fiquei só.
Perdi a comunhão primeva, a unicidade inequívoca, o um.
Sou múltiplo! Sou confuso! Sou ambíguo! Sou complexo!
Percebo o mundo com distância, filtro, raciocino, analiso.
Perdido estou longe de casa, entre estranhos, sem família.
Desprotegido, sem abrigo, nu e faminto de afeto e amor.
Que dor intensa sofre todo homem, que cresce e se aparta
da fonte, da essência, do princípio e não sabe mais voltar.
A nostalgia do paraíso perdido, a certeza de também ser parte.
Voltar a ser a nascente, a cascata, o rio, o mar e a chuva.
Uno com a terra, a água, o ar e o fogo. Transitar pelos
sete planetas. Brincar com o zodíaco e ir além até Deus.
A Foto
Belo gesto congelado,
Retirado da linha do tempo.
Breve captura do efêmero,
Aprisionamento da ação.
Sorriso fixado, a emoção.
Jogo de luz e de sombras.
Prisão no papel da essência.
D´alma perceber a intenção.
Lembranças, memória sutil.
Frágil esforço de reter a alegria.
A guarda do instante, do outro.
Mesmo que se vá, o outro.
Fugir ao destino humano,
Ao final fenecer fatalmente.
Resta permanecer pelos genes,
Ou com a arte como instrumento.
O Ter e O Ser
Dentre todos os dilemas humanos,
Entidade ambígua por excelência,
A difícil escolha entre o ter ou ser,
Talvez seja o mais antigo dilema.
O ter é estar plenamente encarnado,
Tornar–se o senhor deste mundo,
Na pedra construir seu castelo,
O caminho do externo trilhar.
O ser é voltar-se para a essência,
Esquecer do invólucro e superfície,
Trabalhar o conteúdo e a intenção,
O Santo Graal buscar no coração.
O perigo dos falsos dilemas,
É o brilho da ilusão ofuscar,
Perder a noção do justo tanto,
Cabe ao homem no dia de hoje
Sem o mundo negar buscar o sutil.
A Tristeza e O Poeta
Seria a melancolia necessária para a boa poesia?
A tristeza teria o pendor de primeiro a alma tocar?
O que dizer da alegria, do medo, desespero ou o que for?
Teria a poesia o poder de tirar do banal do comum?
Fazer poesia é como dar a luz, “partejar” um filho.
Do sentimento que brota trabalhar a forma final.
Dar o ritmo, a métrica ideal, a concisão precisa.
Podar, desbastar, refletir, sentir, são os instrumentos.
Só sentimento toca sentimento e a alma.
Um mundo cotidiano duro amargo e frio,
Necessita de encanto, beleza e enlevo.
Contraponto obrigatório para não virar pedra.
Vive o poeta com os pés firmes na terra,
O coração oscila entre as estrelas, o sol e a lua,
A mente está imersa nas nuvens, no cosmo.
Senhor de dois mundos, redime o homem.
Um Êxtase Místico
Transportado pelo universo,
Percebendo o único verso.
Montado no pensamento,
Qual Pégasus sem forma.
Encontrar o absoluto mau,
E somente olhar nos olhos.
Encontrar o absoluto bem,
E intencionar fundir-se a ele.
Capturar o início do início,
Ser testemunha do tempo.
Percorrer num átimo o espaço
Viajante privilegiado do tempo.
Percorrer o íntimo, a essência
O caminho mais árduo que há.
O verdadeiro universo que importa,
Que me cabe, com bravura criar.
Do Encontro entre O Céu e O Mar
O mar abissal, profundo,
Que qual monstro tudo engole,
Escuro, denso, incognoscível,
Inconsciente, escondido, ameaçador.
O céu diáfano e iluminado,
Cede nos a luz espiritual,
Claro, suave e transparente,
Consciente, espiritual a atingir.
Oscila o homem entre extremo e outro.
Como viajando em um barco no mar bravio.
Jogado ao céu logo parece submergir no mar.
Somente com o corajoso mergulhar no inconsciente.
Trazendo os tesouros submersos à luz.
Ascende-se aos céus sentindo-se completo.
O Barco na Praia
Um barco encalhado na praia
Um pescador queimado de sol
Retira do casco mariscos agarrados
Libertando a estrutura dos excessos.
Navegar tem grandes riscos
Não ir ao mar, riscos maiores.
Mais que a fome, o não ousar.
Mata a sede de aventura no homem.
O que é a vida do homem além de uma viagem.
Do porto onde nasce a outro onde lhe espera a morte.
Mais que seu carrasco, grande libertador.
Nesta viagem retira-se o excesso.
Reforça-se à vontade e o caráter.
E se aprende a beleza de viver ou navegar.
A Alma e o Mar
Tenho dias de alma mansa
Como um mar feito p’ra criança.
Com água morna, ondas serenas.
Com céu azul e brisa plena.
Tenho dias de tempestade n’alma.
Como só vi nos filmes de cinema.
Raios, relâmpagos e trovões.
Muito escuro, chuva e clarões.
Que Deus me livre de dês-ânimo.
Prefiro encarar erros e acertos.
Perder e retornar ao rumo.
Desejo estar sempre com a alma inteira.
Em tudo, em cada ato ou gesto.
Tanto na tempestade quanto na bonança.
Solidariedade
Certas mãos semeiam,
Outras vão colher.
Iniciar o sonho,
Que outros vão viver.
Abençoar o ar,
Para outros respirar.
Cuidar bem da água,
Que outros vão beber.
Fertilizar a terra,
Que outros vão plantar.
Sovar bem a massa,
Distribuir bom pão.
Ressoar o bronze,
Para outros acordar,
Amar pequenas coisas
E ensinar a amar.
A Vida
Longa ou breve a vida.
Como uma peça de teatro em um ato.
Drama ou comédia escolha do destino.
Pobres ou poderosos nos encontramos
Vivendo papeis, envolvidos por enredos.
Perdida a noção imanente do palco.
Ilusão ou realidade, o que é uma ou outra?
Quando fala a essência, quando o personagem?
Enreda-se! Enovela-se! Ata-se!
Libertar-se deste drama evitamos.
Choramos mesmo se alguém se liberta.
Atores, olhos vedados, representamos.
A Música das Esferas...
Praia salpicada de estrelas do mar.
Areia lambida por ondas sucessivas.
Refletido o céu coalhado de estrelas
Cenário banhado pelo prateado luar.
O ruído das ondas que se quebram
Contra o silêncio do estrelado céu
Serão surdos meus pobres ouvidos
Para a sublime música das esferas?
Só percebo o que já conheço,
Triste sina ignorante que sou,
Consolo-me com a música do mar?
“Só sei que nada sei”
Mais que abandonar a vaidade vã
A consciência de maiores horizontes.
A Meta
Ambicionar o píncaro,
A marcha encetar.
Jovem caminhada,
Tanto a aprender.
Avista-se a meta,
Afã de encontrar.
Sem perceber ficou-se adulto
Durante o caminhar.
Atingida a meta
Ficou o vazio.
A maturidade incita,
Os valores trocar.
Inicia nova marcha,
Silenciosa e calma.
Perseguir nova meta
Encerrada no interno.
O Afeto
O afago
Da mão que se sente amiga.
O pranto recolhido
Pelo ombro que se percebe terno.
A escuta
Por ouvidos interessados no enredo.
O olhar
Que plena admiração irradia.
O abraço
Que irrestritamente acolhe.
Totalmente indescritível
Posto sentimento.
Essencial a vida
Como o ar e o alimento.
Sentimento de mão dupla
Que a alma nutre.
Mais que do afeto falar
Cabe trocar.
Restaurando a unicidade
Da comunhão fraterna.
Encanta-me...
Encanta-me...
O vermelho dourado de um Por do Sol.
Momento mágico de cósmica inserção.
Encanta-me...
Fechar os olhos e mergulhar na música.
Êxtase interno, alimento da alma.
Encanta-me...
Sentar-me a observar montanhas.
Estar uno, rompida a ilusão de separação.
Encanta-me...
Observar o solitário vôo de uma ave.
Tornar-me ave, perceber a vista, a altura e o vento.
Encanta-me...
Fugir por instantes à rotina que aprisiona.
Transcender ao banal e alimentar a essência.
A Natureza
Deus derramado no mundo.
Beleza, esparramada em tudo.
São as cores, a água e as plantas.
Borboletas qual flores despertas.
Um planeta que vive e respira.
Nossa casa, aldeia e mundo.
Nos abriga, alimenta e vivifica.
Nos fornece o sustento e a harmonia.
Só nos cabe cuidar, conservar.
Utilizar só o que precisar.
Dividir, compartir e doar.
Sem egoísmo nada há de faltar.
Decifrar o que a natureza nos diz.
“Hieróglifos de Deus” ela fala.
Só precisa abrir os sentidos.
Permitir ao coração escutar.
Sermos uno com ela e com o todo.
Com as pedras e com as plantas,
Com os bichos e até com os humanos.
Nem maior, nem menor, só conscientes.
O Rio e Eu
Basta ao rio correr para o mar.
Murmurando desculpas ao bater nas pedras.
Rindo baixinho por cócegas que lhe faz o mato.
Arejando-se nas quedas d’água.
Por que razão não me basta viver?
Que insensatez a minha de almejar mais que existir?
O não saber para que mar eu vou.
Não ter consciência de meu curso até lá.
Quero atingir a sabedoria de um rio manso.
Destes que por séculos esculpem a pedra.
Escavando o seu leito lentamente.
Com a serena confiança da natureza.
Sabedores que sua missão é fluir.
Divertindo-se em vivificar a tudo que tocar.
Apadrinhar...
Pater et mater
Pai e mãe
Padrinho e Madrinha
Para que, tal personagem, servirá?
Fazer cafuné, cosquinhas até,
Dar colo, canto e acalanto.
Rir das artes, incentivar a arte,
Puxar as orelhas quando precisar,
Mas muito mais abraçar e beijar.
Indicar o caminho, incentivar,
Acolher no choro oferecer o ombro,
Provocar o riso, rir junto um tanto.
Pater et mater
Pai e mãe
Padrinho e Madrinha
Batizar
Eu te batizo em nome da terra!
Que traz os mistérios do corpo.
Cujos caminhos passas a percorrer.
Onde sobre a grama podes deitar e descansar.
Sobre ela edificarás tua casa e serás feliz.
Eu te batizo em nome da água!
Que traz os mistérios sagrados da vida.
Neles deves mergulhar, basta viver e aprender.
Que ela sacie tua sede do belo, bom e verdadeiro.
Que ela te regenere e cure quando precisar.
Eu te batizo em nome do ar!
Que traz os mistérios da alma.
Abre as possibilidades da emoção.
O que tempera e dá sabor à vida.
Permite o movimento e o amar.
Eu te batizo em nome do fogo!
Que traz os mistérios do Eu.
Que no comando precisa estar.
Que lentamente possa o impuro queimar.
Que no fogo espiritual possa te forjar.
Batizado nos quatro elementos.
Um nome é preciso te dar.
Que seja um nome de anjo e de mestre.
Que o nome te inspire a vida.
Gabriel passas agora a te chamar.
Que Virtudes Te Desejar?
Jovem como te presentear?
Invocando o simbólico e arquetípico?
Como numa reunião do Olimpo.
Que valores e forças desejo chamar?
Desejo te imaginação!
Que ela tua vida possa iluminar.
Trazer a arte, alcançar a ciência.
Asas ela pode te dar.
Desejo-te carisma!
Encantar as mulheres,
Fazer amigos, aos outros chegar.
Mas no devido tempo para dentro se voltar.
Desejo-te persistência!
O segredo das metas alcançar.
O justo tanto de dureza
Sem esquecer de flexibilizar.
Desejo-te um bom coração!
Alegre, feliz e bondoso.
Qualidades que para fora se achar
Dentro primeiro precisam se alojar.
Riqueza, fortuna e brilho.
Nem preciso te desejar
Pois se o interior for rico
O externo conquistarás.
A Nostalgia do Mar...
O inconsciente, nosso mar interno,
Turvo, profundo, repleto de segredos,
Com ocultos tesouros a serem revelados,
Com monstros marinhos a nos devorar.
Ah! A nostalgia do mar.
Lembro me de um mar de lágrimas
Banhando, como praia, à face querida.
Estranho mar manso sem ondas,
Com paradoxais cascatas a cair.
Ah! A nostalgia do mar.
Recordo-me de um mar de emoções,
Pressentido por gestos e um olhar,
Contido como que por diques,
Quase a ponto de romper e jorrar.
Ah! A nostalgia do mar.
O deserto seco, concentrado e árido,
Fase de se fazer, construir e moldar,
Necessita um dia de se subtilizar,
Unir-se ao todo, como em um mar.
Ah! A nostalgia do mar.
O eterno sonho da montanha
É de um dia perder sua dureza
Solta e com leveza fluir
Até se dissolver no mar.
Cobrir de Flores os Caminhos...
Escolhestes
cobrir de flores os caminhos dos que amas.
Cansastes tanto
despendendo neste mister tanto esforço.
Esquecestes
que o rio flui ao mar serenamente.
Desabrochar
podem as flores sem ruído algum.
Descanses
does apenas sorrisos aos que lhe são caro.
Ser
é tudo que precisas para encantar.
Encantar
é tua sina nesta vida inteira.
Aceites
aspergir amor e harmonia ao teu redor.
Aspirar
Ao bom, ao belo e ao justo.
Respirar
arte, filosofia e poesia.
Dançar
sagrando e sacramentando o diário.
Escapar
do banal e atingir o extraordinário.
Agradecer
A ti é o que me cabe agora.
Iluminar
Aos que te cercam, gostas.
Viver
Na terra como que no céu.
Iluminar
Qual celeste anjo que aqui caiu.
Filho
Retiraria de bom grado o sofrimento.
Faria reto e macio teu caminho.
Te protegeria do mau tempo.
Te pouparia de dissabores e dores.
Mas uma boa espada se forja
No calor do fogo em brasa
Com fortes e ritmadas batidas.
Espero de ti a melhor têmpera.
Exposto de peito aberto estás a vida.
Sem medo, com garra, aberto e pleno.
Correndo o risco de toda a beleza dela.
E a alguns respingos de mau tempo.
Mantenha a coragem não te escondas.
“Navegar é preciso, viver não é preciso”.
Mesmo sem ser preciso, viva,
Pois por certo a vida é bela.
Ritmo e Compasso
O que me passa a música?
A harmonia de todos estes sons.
O ritmo perpassado pela emoção do músico.
Me transporto para um mundo ideal.
O meu e o teu ritmo combinam?
Se danço tango por que danças samba?
Que descompasso, meu Deus que confusão.
Não desafines agora pois já não é ensaio.
Odeio esta música mecânica.
Compassada onde deveria ter ritmo.
Onde colocar toda a emoção?
Sem emoção para que música?
Baile comigo outra e outra vez.
Deslizemos sobre o gramado
À luz prateada desta lua
No ritmo imaginário do coração.
Tocar Tambor
Um homem sério constrói tambor?
Largar a rotina para construir um tambor.
Esticar o couro e com o tento costurá-lo.
Colocar ao sol com cuidado para secar.
Um tambor modifica um homem sério?
O ritmo contagia, inebria e entusiasma.
O ritmo do coração assume o controle.
O ritmo faz flexível o que endureceu.
Construir a baqueta, qual a intenção?
Buscar no mato o galho para a baqueta.
Envolver com fumo e sálvia e pano.
Amarrar, enfeitar, dar a intenção.
Tudo flui e tem ritmo no universo.
Busco reencontrar o ritmo que perdi.
Nos caminhos e descaminhos da vida
Fiquei sério, fiquei triste, envelheci.
No Mar...
Preciso, urgentemente, encontrar o mar.
Mergulhar abraçado pela água e o sal.
Limpar toda mágoa, tristeza e desencanto.
Renovar a tessitura de minha alma.
Como lavadeiras que o pano alvejam
Engomam, passam e o deixam tal qual novo.
Preciso, urgentemente, caminhar para o mar.
Deitar na branca e infinda areia de uma praia
Com o corpo semi nu entregue e exposto ao sol.
Como queima ritualística de emoções menores
Relembrando a sacerdotal queima de incenso
Elevando do altar de sacrifício só a fragrância.
Preciso, urgentemente, descansar no mar...
Despir a roupa e aceitar de ócio me vestir.
Simplesmente me livrar do excesso.
De compromissos, deveres e obrigações,
Retornar a ser leve, solto e disponível,
Pleno e permeado pela vida como é o mar.
Preciso, urgentemente, aprender com o mar...
Me deixar de novo impregnar pelo encanto.
Como meninos que livres correm pela praia.
Com gritos e risos no jogo com uma bola.
Voltar a bela e simples alegria da infância.
Reaprender o fluir da vida que o mar ensina.
O Vazio
Um vaso pleno só recebe se...
Aceitar perder de si um pouco.
Acolhe na verdade, o justo tanto,
Que perde, abdica, doa ou cede.
Sentir-se por dentro esvaziado...
Profundo e doloroso sentimento.
Sobrevivendo porém a tal tormento
Possível encontrar-se, súbito, saciado.
Na eterna fuga humana do sofrer...
Esquecido da perpétua alternância
Sentir-se pleno ou esvaziar-se
São meras etapas de um drama.
A sofrida e inevitável etapa melancólica
Dolorido aprofundar-se na existência
Alterna-se com felicidade momentânea
Doce e breve interlúdio de prazer.
Aprendo mais, afinal, com qual etapa?
Com a dor intensa do vazio da alma?
Com os curtos lampejos de intenso gozo?
Cego pela proximidade, extrema, do palco
Abdico de julgar e me entrego ao drama.
A Meta
Ambicionar o píncaro,
A marcha encetar.
Jovem caminhada,
Tanto a aprender.
Avista-se a meta,
Afã de encontrar.
Sem perceber ficou-se adulto
Durante o caminhar.
Atingida a meta
Ficou o vazio.
A maturidade incita,
Os valores trocar.
Inicia nova marcha,
Silenciosa e calma.
Perseguir nova meta
Encerrada no interno.
Entre Dois Mundos
Vislumbrar o mundo,
Degustar a vida,
Inebriar-se com fragrâncias,
Ouvir toda a música.
Viver tem a ver com sentir.
Tatear o mundo,
Prazer, desprazer.
Perceber o mundo exterior,
Etapa primeira para
Só após o interno descobrir.
Adolescência
Brinca de "gente grande"
Parte do tempo.
Reincide em ser criança
Logo adiante.
Um corpo que se estica
Meio gigante.
Uma alma que se expande
e não se cabe.
Uma pulsão para amar
Sem saber como.
Um sentir-se estranho
Sem saber porque.
Questionar a tudo
meio para conferir.
Um revoltar-se contra
meio por princípios.
Um romper com os heróis
com enorme dor.
Mas na verdade buscando
algum modelo.
Um grande projeto
a meio do caminho.
Olhos semi-cerrados
começando a abrir.
Milagres Singelos e Cotidianos
Ando a procura de milagres singelos,
Não os quero ou peço grandiosos.
Desejo ver sorrisos de uma criança
face um brinquedo, ainda que tosco.
O milagre da vida, de uma sementinha
Seca, tocada pela água, súbito renascer.
Flores multicolores, confundirem-se
Com borboletas, flores da terra libertas?
Milagres experimento diuturnamente
Ao vivenciar um simples pôr-do-sol.
O canto dos pássaros, a beleza da relva,
O infinito azul do céu, e o negror da noite.
Milagre para mim é a simples alternância
Das estações do ano, ou do dia e da noite.
O amor da amada, o abraço do amigo,
E o lar para regressar no final da labuta.
Agradeço a Deus, a natureza, a vida
E não me canso nunca de agradecer
Pelos milagres que temperam e colorem
O cotidiano, basta da alma abrir os olhos.
Buscando Deus ...
Buscando Deus entrou o homem na igreja.
Ajoelhado, suplicou sua divina presença.
Um raio de sol, súbito, lhe atingiu o olhar.
Magoado saiu por Deus não lhe enxergar.
Buscando Deus pôs-se o homem a orar.
Em altos brados e com choro convulso.
Não escutou o sutil canto de um sabiá.
Desesperançado ficou do divino escutar.
Buscando Deus com cada vez menos fé.
Não tinha tempo para o perfume das flores.
Sua única ambição era ao espiritual aspirar.
Buscando Deus sem se apascentar.
O divino derramado na natureza,
Não se permitia com enlevo tocar.
Buscar Deus é a maior ou a única missão.
Mas com humildade e coração sossegado,
Para fora ou no interno o divino saborear.
A Tua Espera ...
O milagre da vida,
Sutil toque do espírito
Animando a matéria.
Eis que te esperamos.
Quem está vindo?
Como tu serás?
Queremos conhecê-lo.
Eis que já te amamos.
Pequeno e lindo ser,
Velha e bela alma,
Presente de Deus.
Na espera de tua presença,
Preparamos teu berço, mas
No coração, já te recebemos.
Adeus Amiga
Acenando,
Sussurro um adeus,
Em sua partida.
Que boa morte,
Serena e lúcida,
Dever cumprido.
Viva, permanece,
Em minha memória,
Querida amiga.
Tantas lutas,
Energia serena,
Quanta bravura.
Em outros planos,
Vele por todas
As suas verdades.
Olhe em frente,
Siga com fé,
Mergulhe na luz.
Que sua vida plena
Corajosa e integra,
Nos inspire sempre.
Estradas Internas
Na eterna busca da essência,
Uma encruzilhada de estradas,
A difícil escolha faz parte
Do começar a trilhar.
Entrar no labirinto da mente,
Desenrolar o novelo dos dramas,
Caminho ao encontro de psique
Buscando apaziguar-te por inteiro.
O pleno encontro com a amada,
Possibilidade de restauração,
Na confiança absoluta e plena
de que a última missão é o amor.
Desenvolver a difícil maestria
Dedicar-se a ensinar o caminho
Estender a mão, incentivar,
Nele podes a sabedoria alcançar.
Das feridas dos outros cuidar,
Ajudar a lidar com teus dramas,
Diziam os deuses: Cura-te a ti mesmo,
Forma serena de os apreender.
Não te afobes demasiado,
apascentes o teu coração,
Teu drama haverás de viver,
Escolhido qualquer seja o caminho.
Cuides apenas de não te perder,
Nas armadilhas da mente, labirinto,
O intelecto é no início instrumento
Mas tão facilmente te aprisiona.
Pedra bruta que somos,
Lapidada tantas faces revela,
Permitindo mostrar nossos dramas
Como página do divino plano.
Velhice e Consciência
Vida e consciência são na verdade antípodas.
Paga-se tributo a vida para que a consciência cresça.
Nada mais consciente que a velhice lúcida.
Nada mais vital que o nascituro quase inconsciente.
A Astrologia antiga fala da força de Saturno.
A morte, figura, capuz e foice da carta de Taro.
Corrente que do plano espiritual traz até o corpóreo.
Mas no final, do corpo, liberta com a morte.
Bela imagem do envelhecer como instrumento.
Que do excesso de vida, a cada um, liberta.
Permitindo a abertura do homem ao espiritual.
Que tolo aquele que permanece na ilusão,
Lutando para se manter em eterna juventude.
Sábio é seguir do rio o curso vivenciando o passeio.
Intuio o Perfil
Olho as estrelas,
Tento entendê-las.
Não vejo a mim,
Faltam-me espelhos.
Busco encontrar-me,
Onde estou?
Sou este corpo?
Cogito ergo sum?
Cada passante,
É um reflexo,
Sou mais o outro,
Do que eu mesmo.
Cada defeito,
Que eu desprezo,
Cada beleza,
Que ambiciono.
Vazios,Carências,
Lacunas percebidas.
Não vejo a face,
Intuio o perfil.
A Vaidosa Terra
A Terra, vaidosa, amanheceu um dia.
Sentindo-se, imaginem, muito suja.
Lixo, pasmem, na praia e nos rios.
O ar, que horror, a fazia tossir.
Nem um maremoto limpou suas praias.
Ciclones e furacões não lhe limparam o ar.
Suas lágrimas criaram inundações.
A falta delas em outros lugares, desertos.
Esteve, saibam, para desistir.
O verde, percebam, começou a sumir.
Mas deu-lhe sono, e adormeceu ...
Acordou com crianças cantando.
Pássaros amando, peixes felizes, como só eles são.
Ganhamos mais uma chance acreditem, uma mais.
Absurdamente Solitário
Vago perdido,
Nesta multidão,
Absurdamente solitário
Dentro e fora de mim.
Me acho no mundo,
Cruel dilema,
Perder-me ao interno?
Encontrar-me no externo?
A quem procuro?
Vagando assim?
Opto? Escolho?
Abro ou fecho o olhar?
Olhos Abertos no Escuro
Abro os olhos,
Me percebo aqui,
Um distante planeta,
Uma galáxia qualquer.
Quem sou?
Porque aqui?
Qual a razão?
Uma missão?
Olhos abertos no escuro!
Razão ou intuição?
Qual a chave
Para a compreensão?
Só nos resta no escuro viver!
Intuindo razões no coração.
Alçar os olhos para a luz do sol.
Caminhar como se, razões, tivesse.
Os Sentidos
Quantos serão os sentidos?
Serão 12, serão cinco?
Visão, audição, olfação,
Gustação e palpação?
E o sexto sentido, a intuição?
Para que desenvolvemos os sentidos?
Para o prazer ou o se relacionar?
Até onde trazem o prazer?
Onde, exatamente, começa a dor?
E para que serve o se relacionar?
A perfeição estática do cristal,
Ganha a vida, misteriosamente, no vegetal,
Movimento e emoção no animal,
Aperfeiçoamento de alma no homem.
Sentidos são as janelas da alma!
Extasiado com um pôr-do-sol
Fascinado por uma melodia
Ou embriagado por carícias.
A emoção me projeta no mundo
Através das janelas de minh`alma.
Abandono ou não o banal
Percebo com a alma ...
Ou deixo passar...
A chave para tudo
É a simples emoção!
A visão maravilhoso portal
Permite o êxtase ou a decepção
O olho expansão do cérebro
Direcionado ao externo
Fonte do extraordinário ou do banal!
A audição chance gloriosa
De captar a essência do vento,
Da Música, da natureza,
Selecionamos o melhor para ouvir?
Ou o que penetra é uma cacofonia?
O olfato, o aspirar a fragrância.
Aspirar a essência do externo.
Captar de tudo o que exala!
Definir, do que exala, a qualidade.
Separar o que é bom do ruim!
Gustação, perceber o sabor
Discernir o salgado e o doce
Amargo, azedo e picante na vida
Mesma raiz tem sabor e saber
Como saber sem saborear?
Palpação, tatear, tocar, estender
Fazer da pele, mais que barreira,
Instrumento de romper a distância
Supremo sentido de percepção
Do mundo e do outro também!
Temperamentos tem a ver
Com tempero e com tempera
O que da o colorido a cada um!
Não se deve ser insípido!
Vós sois o sal da terra!
Sentidos e sutis sensações
Passo primeiro da percepção,
Portais físicos para transcender.
Corpo no caminho da alma.
Alma acessando ao espiritual.
A Gratidão
Agradeço, especialmente, pela vida.
Oportunidade impar de evoluir.
Aos meus pais e antepassados,
Longa cadeia de transmissão genética,
E ao sublime plano divino,
Doadores a mim de corpo e espírito.
Agradeço, profundamente, por andar
Me colocar ereto diante da vida.
Possibilidade, ainda que trôpega,
De locomover, de conhecer o mundo,
Subir montanhas e descer aos vales,
Caminhar ao interior ou até o mar.
Agradeço, do coração, por falar,
Me colocar, comunicar, trocar,
Participar, me relacionar
A fala para mim é fundamental,
Transforma criatura em criador.
Oportunidade e responsabilidade.
Agradeço, penhorado, por enxergar.
Me encantar com uma borboleta,
Um pássaro, um peixe ou uma flor.
Ao observar o nascer e o por do sol.
Diferenciar na natureza os matizes
De verde, de um Arco Íris ou Girassol.
Agradeço, emocionado, por ouvir.
A música do vento e da água,
Dos grilos, dos pássaro e do mar
O canto dos homens felizes
Os seus instrumentos a tocar
E até pelo silêncio após.
Agradeço encantado pelo paladar
A percepção do que tudo tempera.
Do doce, salgado e do amargo,
Do azedo e picante na vida.
Mesma raiz tem saber e sabor.
Me traz tanto prazer e percepção.
Agradeço comovido pelo olfato,
Perfumes, cheiros, nuances,
O mundo mais pobre seria
Sem a riqueza de fragrâncias
Das flores, pessoas e animais.
Ah! Minha memória de cheiros.
Agradeço, então, muito pelo tato.
De pele com pele e do mato,
Com o pelo do cão e do gato,
Do sentir a pena do pássaro,
Com o áspero da casca da árvore,
Do tato, com tato e o contato.
Agradeço ainda pelo amor.
Todas as oportunidades de amar.
Desculpo-me pelas que desperdicei.
O sublime e árduo aprendizado.
Acredito , no fundo, nossa missão,
De tudo transmutar pelo amor.
Agradeço por sentir gratidão,
Que enobrece e traz merecimento.
Restabelece o fluxo do universo.
Reflexão que implícito traz aceitação.
Aproxima de Deus e do interno.
E com a natureza comunhão.
As Virtudes
Criou Deus as virtudes,
Para a Terra as enviou,
Pediu que estivessem com os homens,
Mas não lhes revelou os nomes.
A primeira encontrou um pescador,
retornava para casa e dizia:
Pesquei o reflexo do sol no rio!
Descobriu que seu nome era verdade.
A segunda encontrou um caçador,
Que em um coelho desistiu de atirar,
Que bom, hoje uma vida salvei!
Descobriu que seu nome era piedade.
A terceira encontrou um vendedor,
Que surpreso disse ao comprador:
Não leve, não tem qualidade!
Descobriu que seu nome era honestidade.
A quarta encontrou um menino, que
Retirou da lancheira uma fruta,
Mas a um menino faminto a doou.
Descobriu que seu nome era bondade.
A quinta encontrou um pobre homem,
Com tão pouco para a ceia do natal,
Mesa enfeitada e completa partilha.
Descobriu que seu nome era esperança.
A última, pela terra, perdida andava
Finalmente mãe e filha encontrou,
Noite a dentro cantava e embalava.
Descobriu que seu nome era amor.
A Meu Pai
Teus cabelos brancos,
teu sorriso franco,
me revelam tanto,
o tanto, que vivestes.
Tua vida que me é cara,
testemunho vivo,
de tudo que fostes,
pai amado e amigo.
Herdarei de ti,
muito mais que posses,
tesouro infável,
teu exemplo honrado.
Tua vida simples,
um dia após o outro,
com coragem plena,
me sirva de exemplo.
Estejas sereno,
tua missão cumpristes,
aos que te cercaram
ensinastes o amor.
Abençoado Seja ...
Abençoado seja aquele que tem fome de alimentos.
Abençoado pela intenção e disponibilidade de aceitar.
Os alimentos são, da terra, presentes ao corpo.
A possibilidade de se alimentar é direito universal.
A responsabilidade pelo alimento é individual e de toda a humanidade.
A solidariedade e o compartilhar impediriam a fome .
Abençoado seja aquele que tem sede de água pura.
Abençoado pela intenção e disponibilidade de aceitar.
A água é a fonte universal da vida no planeta.
A possibilidade de saciar a sede é um direito universal
A responsabilidade pela água pura é individual e de toda a humanidade.
A solidariedade e o zelo com a água do planeta impediriam a sede.
Abençoado seja aquele que tem ânsia de ar puro para respirar.
Abençoado pela intenção e disponibilidade de aceitar.
O ar é um presente do céu ao seu pulmão.
O respirar ar puro é um direito universal.
A responsabilidade pelo ar puro é individual e de toda a humanidade.
A solidariedade e o não poluir garantiriam a qualidade do ar.
Abençoado seja aquele que tem fome de amor.
Abençoado pela intenção e disponibilidade de aceitar.
O amor é o fogo do coração.
Amar é um direito universal.
A responsabilidade pelo amor é individual e de toda a humanidade.
A solidariedade e a fraternidade impediriam a falta de amor.
A Morada do Ser
Submerso em um mar de banalidades,
Perdido na rotina ordinária,
Segue absolutamente cego o homem,
Iludido de tudo estar vendo.
Esquecido totalmente de sua essência,
Acreditando-se densa matéria
Esquecido ser espírito que toca a lama,
E que mais importa o espírito que a lama.
A morada do ser é o extraordinário,
Diz-nos Heráclito há quantos séculos,
Dormimos, sonhando acordados estarmos,
Desperdiçando nosso tempo com tolices.
Importa perceber que a vida é pequeno ato,
De um teatro maior, universal e eterno,
Que somos figurantes no grande drama humano,
Com missão individual de procurar a síntese.
Vivenciar nossos dramas pessoais,
Aprender a colocar o coração na vida,
Abrir se a emoção, ao sensível a ao encantamento,
Utilizar-se do intelecto para integrar tudo.
Perceber a mensagem simbólica e secreta,
Que nos contam mitos, contos, fábulas e ritos,
Estar em sintonia com a arte e a poesia,
Sutilizar o que está pétreo, rígido e inflexível.
Amar, perdoar e não julgar,
Perceber a imensa grandeza de nossa pequeneza,
Um grão de areia importa ao universo,
Se ousarmos viver, na essência, com inteireza.
Um Elogio faz Milagres
Um elogio faz milagres.
Massageia o ego.
Eleva o astral.
Expande a alma.
A vida é sempre, de escolhas, feita
Preferir mostrar assim do outro
e o nosso próprio melhor lado.
É escolher revelar a face bela.
Temos no interno, em potência,
O herói, o criminoso e o banal.
Sabedoria é retirar depressa,
O de melhor que estiver a nossa espera.
Como o escultor que da bruta pedra,
Diz retirar somente as sobras
Revelando a estátua que já lá estava.
É a opção de ver o feio ou o belo.
O Ritual do Natal
Só tem sentido, o rito,
pelo simbólico, pela intenção.
A senda que se trilha no externo
Representa o interno caminho.
O caminho que importa,
Verdadeiramente trilhar,
Pretende do escuro
À plena luz nos levar.
O ser pai compreende
Amoroso indicar do caminho
Trilhar junto no início, Iluminar
E incentivar prosseguir.
A lição do Natal, retirar
De um singelo menino
pobremente nascendo
Relembrar de para Deus retornar
OBS: Poema escrito para início de um ritual de Natal. Uma vela acesa no centro de uma espiral labirinto feita com folhas. Cada pai percorria o caminho até o centro com seu filho. Acendia uma vela, na central, a mesma estava encaixada numa maçã, a guisa de castiçal. Ia colocando no trajeto, iluminando tudo. Bonito, não?
O Milagre de Gerar uma Vida
Nove maravilhosos meses se passaram
Acompanhados, cá de fora, com emoção.
Avós decoraram seu quarto
Presente amoroso na expectativa da chegada,
Ameaças de interrupção, sangramento,
Repouso materno, preocupação,
Sua energia e vitalidade venceram.
Gravidez a termo, acaba tudo bem.
Sua mãe imagina, louro, olhos azuis,
Premonição? Intuição?
Começam as contrações.
Caminhamos pelo bairro até a hora.
Pelas mãos do tio e da tia
Nasces chorando, mas sei que feliz.
Um bebê lindo, prêmio de Deus,
Nos apaixonamos por você.
Cresces e como cresces.
Com um ano tamanho de quatro.
Independente, carinhoso,
Carismático, alegre você é!
Falante, comunicativo,
Embora fale pouco de ti.
Muito grande se sente mais velho.
Tenho que enfrentá-lo, impor limites.
Se soubesse como sei hoje
Quão bom serias, relevaria.
Na ansiedade de te querer bom
Quantas vezes fui severo.
Não me arrependo muito
O resultado final foi excelente.
Acredito que mais por sua qualidade
Que pelo meu esforço.
Mas releves, filho, não tenhas mágoas.
Tudo que fiz ou não fiz foi com amor.
Aos oito anos conquistas competir no exterior.
E me comunica: eu vou viu!
Ser pai não se aprende em curso
Nem tem manual explicativo.
Tentei, corajosamente fazê-lo.
Errei, acertei, por certo ambos.
Meu grande consolo é ver-te hoje
Firme a caminhar na vida.
Fazes faculdade, serás médico.
Livre de vícios, saudável.
Todos gostam de ti.
Meu prêmio merecido ou não
É ver que estás vencendo.
Perdoe me filho, minhas falhas
Soube agora que te fiz falta no futebol.
Como todo pai tentei te dar o mundo.
Não sei se foi bom ou não
Agora é mais com você,
Do que comigo.
Preparei tuas bases, a fundação,
Erigir o castelo, agora, é tua missão.
Confessas Sofrer por Amor
Vejo teus olhos marejados,
De límpidas lagrimas cravejados.
Percebo um coração sangrando,
Ferido por tuas próprias lembranças.
Existe dor maior
Que a consciência
Plena e irrefutável
De não ter amado?
Nunca ter amado
Seria melhor ou pior
Que a terrível dor
De amar e perder?
Sentir tem o mesma
Raiz que sabor.
Como sentir sem
Nunca experimentar?
Há época de semear
E a de colher!
Colhe-se ora sorrisos
Ora imensa dor!
Mais triste no entanto
É quando por medo,
Para evitar sofrer
Se esquece de viver.
Portanto minha amiga
Seques as lágrimas
Ou chore sossegada
Mas plantes o amor.
Reflexões sobre o Céu e o Inferno
Platão, o filósofo, já nos dizia
Que no nosso plano, plano terreno
Todas as coisas são pálidas cópias
Do plano das idéias, plano espiritual.
Copiamos para nosso cotidiano
Até mesmo o inferno e o paraíso
Que recriamos aqui para nossas vidas
E pior, alguns, vivem no limbo.
Esquecemos de termos livre arbítrio
Do direito e do dever de ser feliz
Que sofrer, correção de rota, indica.
Perdemos a noção de nossa missão.
Expressar nosso potencial integralmente
Individualizar-se nossa maior meta.
Microcosmo no Macrocosmo
Toda busca maior visa
contactar a própria essência.
Caminhada diuturna e tentativa
de encontro com a identidade.
Vencer traumas, bloqueio
de um mais pleno desenvolver.
Morte e vida, Tanatos e Eros,
são processos e não um momento.
A morta nos liberta, gradualmente,
do tanto necessário, de vida
para cristalizar consciência.
A grande luta não deve ser
vencer as rugas, mas garantir
que sua companheira
seja a sabedoria.
Onde encontrar as respostas?
No passado, presente ou no futuro?
Dentro ou fora de mim?
Enganadores divisões conceituais,
não existe interno e externo,
passado, presente e futuro,
tudo que de fato existe é a viagem,
longa viagem de todos os seres,
em busca de aprender a ver a luz,
todo o mais é ilusão passageira.
Microcosmo no macrocosmo,
o todo está em cada um,
como este está, no todo, contido.
Somos um todo indivisível,
não se separa Psique do Soma,
sob pena de se extinguir a vida.
Colocar em harmonia, apascentar
o visceral e metabólico querer,
temperado com um rítmico sentir,
em sintonia com um pensar cristalino.
Privilegiar uma das instâncias
é abdicar da integralidade.
Afastar a ansiedade, pois
uma vez iniciada a caminhada,
o autoconhecimento é conseqüência
inevitável no decorrer do processo.
Podendo ter parte da viagem
trilhada meditando no interno,
parte no mundo, bastando
colocar-se como pequeno lume
iluminando ainda que pouquinho
no seu trabalho, no lazer,
onde moras e junto da amada.
Que paradigma devo usar,
para decifrar meus mistérios?
Decifra-me ou te devoro,
diz-me a esfinge interna.
Buscar referências simbólicas nas
tragédias gregas ou nos mitos?
Devorar a filosofia, o legado de
pensamentos que o passado deixou?
Utilizar-me da psicologia,
da psicanálise ou da poesia?
Trabalhar com os instrumentos
da arte, da técnica ou da ciência?
Usar a inteligência, a intuição,
a sensibilidade ou o querer?
A melhor forma é não ter forma
vivenciar e aprender no viver.
Estar inteiro, feliz e pleno.
Interagir com o universo,
de forma prazerosa e produtiva.
Evoluir, crescer, melhorar.
Acrescentar minha própria gota,
pequena gota de consciência,
ao mar de consciência cósmica.
A última missão de cada homem
É o mais plenamente se individualizar.
Lembrar-se da simbólica
e antiga imagem do cocheiro
controlando cavalos e carruagem.
Fortalecer e colocar seu Eu
no inteiro comando de sua vida.
A descoberta deste Eu pode ser
Numa viagem interna ao passado,
atuando com consciência no mundo,
ou projetando seus sonhos no futuro.
Há que se sair dos impasses.
Não se há de temer a vida.
Utilizar-se dos embates
como chance de se fortalecer.
Lembrar que modelar o Eu
É tarefa de toda uma vida.
A Vida nos Ensina
A vida nos ensina
inexoravelmente.
Mestra severa
e exigente.
Alguns aprendem
felizes.
Outros choram
repletos de dor.
Mas a vida nos ensina
seja como for.
Mais sábio seria
procurar entender as lições.
Compreender as mensagens
dessa sábia senhora.
Que com leis,
imutáveis,
Embora nos pareçam
indecifráveis,
Segue seu curso
sem se desviar,
Só pretendendo
nos fazer crescer.
A vida nos ensina
em duras ou suaves lições.
Mas queiramos ou não
iremos aprender.
O Terapeuta
Despir o corpo e enxergar a alma.
Buscar as causas para cada evento.
Entender as últimas razões .
Ler nas linhas e nas entre-linhas.
Encontrar esperança para quem as perdeu.
Dar acolhimento para quem não o tem.
Abrir os caminhos para quem precisa caminhar.
Alternar o uso da inteligência e da intuição.
Usar a sensibilidade sem se enganar.
Ter a doçura firme quando precisar.
Ser verdadeiro mesmo sem chocar.
Ter um coração amoroso sem estar piegas.
Estar integral, visceral, no processo.
Vibrar na freqüência sem se contaminar.
Ser fraterno, mas ficar em seu lugar.
Servir de lanterna se está escuro.
Sem muito pretensioso ficar.
Estar ciente dos limites sem se acovardar.
Buscar a luz para ter o que dar.
Desta vida levarei ...
Desta vida levarei ...
A lembrança de todo o amor,
Que tive, que dei,
Será que amei tudo que pude?
Desta vida levarei ...
A lembrança das vivências,
Viagens, passeios, onde mergulhei,
Será que mergulhei tudo que pude?
Desta vida levarei ...
Toda a emoção que pude ter,
Quadros, música, dança.
Será que me emocionei tudo que pude?
Desta vida levarei ...
Meu amor ao planeta, a ecologia,
As árvores que plantei, o que semeei.
Será que semeei tudo que pude?
Desta vida levarei ...
A consciência que desenvolvi,
O valorizar na justa medida cada coisa.
Será que me conscientizei tudo que pude?
Desta vida levarei ...
A poesia, o enlevo a harmonia que conquistei,
Sempre que consegui frear a correria para lugar nenhum
Será que tive toda a poesia que podia ter?
A Essência da Vida
Seria esta a nossa verdadeira busca?
Da qual andamos esquecidos?
A que nos prende na eternidade?
Aprender a depurar do joio, o trigo?
Abandonar o supérfluo e o vazio?
E entender a essência desta vida?
Onde encontraríamos a essência?
Na guarda transitória de bens materiais?
Iludidos da posse momentânea
do que verdadeiramente nunca nos pertenceu?
Ou indo, ambiciosos, um pouco mais além,
Buscando sutis tesouros intangíveis?
Nos orgulhamos de nossas mentes,
Instrumentos enganadores e imperfeitos.
O importante seria o que concluímos
Ou o processo que nos levou ao resultado.
Estaria a essência no que acreditamos?
Ou seriam verdades passageiras?
Estaria a essência escondida,
Nas experiências vividas pelo coração?
No amor sentido pelo amante? Pelo filho?
Ou que cresce e extravasa por todo o planeta?
O mais nobre é o que vivemos? Pensamos?
Ou o que percebemos pelos sentimentos?
Cada um tem, rica, sua história de vida.
Cada qual tem seu drama pessoal.
O perigo é pouca ou demasiada paixão pela vida,
Nublar todo nosso entendimento.
Ideal seria, como se em um teatro pudéssemos
Afastarmos-nos, observar e do drama reter a essência.
Com nossos cabelos / raízes ao vento, soltos, livres,
mas de tão libertos, sem ponto de apoio e eixo.
Luz e escuridão, nosso eterno dilema.
Se escuridão é morte, excesso de luz queima.
Qualidade de Vida
Preciso de cultura e arte
como preciso do ar para respirar.
A música me alimenta
como o arroz e feijão cotidiano.
Não me basta sobreviver
preciso pensar.
Quero ser, cada vez mais,
ator no meu viver,
menos marionete.
Quero ter paz interna e ao meu redor.
Criar meus filhos livres e felizes,
ver meus netos crescerem,
poder com sabedoria envelhecer.
Preciso de democracia, de opinar.
Que as idéias sejam respeitadas
e o direito a expressá-las questão de fé.
Ter o direito de cultuar meu Deus,
mas defender com unhas e dentes
o direito de quem não quiser crer.
Quero viver em um mundo
em que respeito a natureza seja coisa séria.
Mergulhar em rios de água cristalina
e ao sair ter ar puro para respirar.
Que o verde possa conviver com o urbano
só assim provaremos sermos viáveis.
Que o homem respeite a vida de forma universal
e seja igualmente respeitado.
Que tenha flores e pássaros na minha janela
e que ela possa ficar aberta
para te ver passar.
O Coração
Espelha o coração
mistérios que os Deuses
não ousam revelar.
Lagrimas furtivas,
dores silenciadas,
males de amor.
Sorrisos amplos,
suspiros velados,
pleno amor.
Idas e vindas,
altos e baixos,
mares que oscilam.
Sentir e sabor,
mesma raiz,
como sentir sem experimentar?
Calar o coração
para não sofrer
esvazia o olhar.
Universos Paralelos
Dois seres são
universos paralelos,
que no máximo se tocam,
se tangenciam.
Entender do outro
o interno, a essência.
Exercício possível?
Sonho? Fantasia?
Perceber a mim mesmo
exercício insano,
missão necessária,
jornada de uma vida.
Fitar o outro
que como espelho
desvenda mais que a ele,
a mim mesmo.
Cidades Solares ou Noturnas
Cidades solares,
vibrantes de cores,
turbilhão de vozes
passantes, amores.
Cidades noturnas,
Soturnas e sujas,
Tão Lúgubres, que ânsia.
Miséria e violência.
Seria tão bom
Poder separar
A cidade perfeita
Da não tão bem feita.
Poder escolher
Em qual vou morar.
Quimeras, quem dera.
Ambas vivem ao meu lado.
Solares, noturnas,
Amores, violência.
Cidadão, prisioneiro.
De meu lugar primeiro.
Márcio Filgueiras Amorim
A Arte
A percepção da Arte
incendeia nossos sentidos,
nos ilumina a alma.
A música nos toca
no mais profundo
do ser.
Nos eleva
a dimensões e mundos
inimagináveis.
Pode nos remeter
a um estado idílico
ou a mais pura sensualidade.
Pinturas
com a forma ou a cor
nos aquecem o espírito.
A pintura rupestre
evocação mágica
da caça.
A Arte egípcia
ainda serva
dos deuses.
A Arte grega
momento único
da evolução humana.
A pintura moderna
rompendo com a forma
e libertando a cor.
Leva luz
às nossas
trevas internas.
Ou nos provoca
e instiga a ver
nossa treva e nossa luz.
Esculturas
em que o homem
de criatura passa a criador.
Admirando-as
nos sentimos
maiores.
A dança
onde o corpo
é instrumento.
Transmite noções
de harmonia, leveza
e beleza.
A Arte busca o belo?
A Arte busca a expressão?
A Arte busca a Arte?
A Arte transcende o belo!
A Arte transcende o inteligível!
A Arte transcende o artista!
Forma e cor.
Harmonia e movimento.
Volumes e vazios.
Percepções e intuições.
Impressões e sensações
Êxtases e gozos.
A Arte
essencial a vida,
alimenta o espírito.
“Nem só de pão vive o homem”.
A Arte - I
Se o Trigo e a água ao corpo bastam,
Que oferta, à alma, devemos fazer?
Se o esporte e a luta treinam a força,
Como adestrar o sensível e o anímico?
A alma necessita de embevecer-se,
Como uma cascata ou um por de sol!
A natureza, obra divina, leva ao êxtase!
Do homem, a arte, produz efeito igual!
Esquecido anda o homem de dançar,
Como Davi fez para adorar seu Deus.
A pequena dose necessária de poesia,
Sem a qual a vida perde o brilho e a cor.
Combinar as cores e as formas e encantar
Imitação terrena do ato divino de criar.
Usar o corpo como instrumento e cantar,
O universo, no palco da vida, representar.
A Arte Rupestre - II
Mágica cerimônia de invocação da caça
De um homem cujo abrigo é a caverna.
Se tosco parece na distância do tempo,
Sua arte preservada nos desmente.
Carvão e ferrugem que decoram a rocha,
Astros, animais e homens retratados.
Artistas que habitando a rude terra,
Sentem-se espiritualmente rodeados.
Árvores frondosas abrigam espíritos,
Assim como a terra, água, ar e o fogo.
Ter por mãe a terra e por pai o céu,
O mundo invisível nos acolhe e ampara.
A arte que refinando o homem rude
Permite a percepção de si e do universo,
Cumpriu seu papel outrora como agora
Mostra-me a mãe terra e meu pai o céu.
A Arte Egípcia - III
Perceba o calor escaldante sobre a pele.
A imagem das pirâmides no horizonte.
A arte eternamente a retratar o belo.
Ambicionando retratar na terra o céu.
O artista que se dedica ao templo
Ou para quem representa Deus na terra.
Importa a grande viagem após a morte
O espiritual evocado em cada instante.
O homem é representado muito rígido
Pouco à vontade ainda está na terra.
A lembrança do divino tudo ofusca
Uma civilização mais santa ou profana?
A queda do plano celeste tão recente
Comunhão com os deuses ainda possível
Lutar contra o caos, desordem e a sombra.
Lembrança da divina luz e da harmonia.
A Arte Grega - IV
Templo aos deuses ornado e colorido.
O mármore esculpido tudo cobre
O Olimpo e os mitos retratados
Cada história um belo ensinamento.
A pedra dura ganha da seda a leveza.
O atleta com cada músculo retesado.
Prestes a saltar e a correr está a gazela.
A sacerdotisa tem seu gesto eternizado
O artista retrata toda a beleza do corpo
A lembrança do celeste está mais tênue
Descem os deuses em direção ao Olimpo.
Heróis, homens a ascender ao divino.
O homem que assume ser da terra
Abandonando a orientação divina, pensa
Pensar passa a ser a grande arte
O pensamento é a herança que legaram
A Arte Moderna - V
Romper os cânones, as regras, humano é.
Cabe sempre as barreiras buscar romper.
A arte se libertou da perfeição da forma.
Até da escravidão do belo se afastou.
Cores mesmo sem a forma tocam a alma.
Pontilhados que ainda impressionam.
Instalação, objetos a esmo, que chocam.
Arte tocando as cordas d’alma.
Vamos dar ao homem o quinhão de pão.
E o que lhe cabe de comédia e drama.
Sem negar, no entanto a arte que redime.
Do tosco a alma com o fogo inflama.
A vida dói ainda mais se consciente.
Reconhecer o sublime êxtase alheio e
A profunda tragédia inerente ao humano.
Só a arte permite transcender o drama.
A Arte Pós-Moderna - VI
Rompidos da arte os paradigmas.
Quais os rumos daquela pós-moderna?
Se não mais se retratam os deuses?
Se não mais interessa a natureza?
Se a harmonia e o belo rejeitados
Se a arte agora degradável e repulsiva
Se todos os experimentos foram feitos
Morre a arte por falta de caminhos?
Só resta de comum em toda a arte
O expectador para quem é dirigida
O objetivo da arte é sempre a alma
Tocar o anímico é o êxtase do artista.
Admitindo a paixão entre arte e alma
Restabelecida a possibilidade da arte bela.
Retorna a busca do equilibro e harmonia.
Na arte, como no amor, almas se beijam.
A Arte Moderna – VII
Entendo! Não entendo! Que importa?
Sinto! Afeta-me! Bem ou mal!
Liberta a arte de todos os cânones.
Beleza! Harmonia! Natureza! Babel!
Vejo agora o nariz em plena órbita.
Ou o quadro salpicado de pontinhos.
Rabiscos ou arte, eu me confundo.
A cor reinando liberta até da forma.
O homem ousa e pensa e cria.
Aos dogmas busca transcender.
Toda arte reflete a sua época.
O caos humano visto de forma bela.
Inevitável o mergulho no caos criativo.
Antes de construir é necessário destruir.
A arte antecede e vislumbra o futuro.
No meio do caos preserva a essência
Guernica - VII
Cada bomba lançada sobre um pueblo.
Bofetada que ressoa na humana face.
Não fique despercebida entre tragédias,
A dor da mãe amparando o filho morto.
Bendita a arte que re-visita a vida
Encanta com o sublime beijo dos amantes
Ou nos condena, estupidez do homem,
Podendo atirar flores ainda atira balas.
A arte imortaliza o amor, ou a dor
Ao conhecê-la obra de arte e digeri-la
Elemento de minha alma ela se torna.
Como o pão se torna parte do meu corpo.
Guernica retrata minha indignação e dor.
Minha alma se recusa a banalizar o terror.
Mesmo distante, até após a morte física.
Agradeço ao artista que minha alma tece.
Márcio Filgueiras Amorim
Quando Chega o Circo
Banda de música que toca à frente
Daquela esdrúxula e longa procissão
Tem anão, mulher barbada, leão,
Engolidor de fogo, palhaço e cão.
Armando a tenda no pasto aberto,
Forma-se logo curiosa, a multidão.
Nada como o exótico para afastar
O tédio, o banal e até o sem tesão.
Agita-se a criançada e os velhos,
Mulher vindo com filhos pela mão,
Fazendeiro, barbeiro, açougueiro,
Encantamento não faz distinção.
Quando começa a tarde o espetáculo
Ninguém respira na hora do trapézio
Gargalham ou choram junto ao palhaço
Alimentam a alma, coitada, desnutrida.
O Palhaço
Sinto a tristeza de todo palhaço,
Sem sequer me obrigar a fazer rir.
Palhaço que esqueceu a maquiagem,
Desprotegido, expondo a própria face.
Seguindo tosco, desajeitado e torto.
Tropeçando, meio a esmo, pela vida.
A única salvação é me travestir de arte,
Adentrar esta bela e mágica dimensão.
Pintar a cara, avermelhar o nariz.
Vestir roupas largas e disformes.
Atravessar o portal que separa o banal
Do essencial, extraordinário e único.
Rir de mim mesmo, síntese do humano.
Percebido o imperfeito, que o riso purga.
O que deve importar é a transcendência.
Possibilidade da arte ainda que circense.
O Bailarino
Tocando o solo, como se o rejeitasse,
Com a ponta dos pés somente e logo
Lançando-se aos ares. Como se as bodas.
Do telúrico com o celeste, do peso livrasse.
Trabalha em torno e sobre a verticalidade,
Como se unido fosse, por sutil fio, ao céu.
A procura de um sol além do teto do teatro
Vislumbre d’alma, ao corpo inconsciente.
Seu mister é um contrair e expandir sem fim
Repetindo a cósmica respiração do universo
Sustentado pelo ritmo, do coração divino.
Busca da beleza, da harmonia e da graça.
Ainda que bailarino de um tosco circo
Armando sua tenda em qualquer aldeia
Tocar a alma de crianças, velhos e comuns
É um sopro divino de esperança e alento.
O Engolidor de Fogo
Existem lógicas, umas tão comezinhas
Outras paralelas e tão mais complexas,
Se um trabalho é ínfimo ou grandioso,
Questão de olhar, o engolidor de fogo.
Deitar o hálito flamejante ao espaço
Provoca espanto, riso e esquecimento
Mas cabe ao fogo o papel mais nobre
alquimia antiga dos quatro elementos
Representa o fogo sempre o sagrado,
A chama Crística ou a chispa divina,
O que inflama a alma ou o fogo da vida,
A essência do Eu ou a individualidade.
Quem pode gabar-se, que embora
Da mais absoluta humildade seja,
Instrumento de trabalho de maior
Nobreza, que outra profissão enseja?
Gratidão
Grato sou ao “Le Circ de Soleil”.
Grato sou se eles me encantam.
Grato sou a perfeição da arte.
Grato sou a sua transcendência.
Grato sou de existir e ter uma alma.
Grato sou pelo palhaço e pelo riso.
Grato sou à bailarina e a leveza.
Grato sou ao trapezista que me faz voar.
Grato sou pelos que revivem o sonho.
Grato sou pelos que amam e não matam.
Grato sou por existir a arte e o artista.
Grato sou por acreditar na humanidade.
Grato sou pela poesia estar viva.
Grato sou pelo culto a beleza,
Grato sou ao divino que se manifesta.
Grato sou à esperança e a Pandora.
A Importância da Pipoca no Circo
Inimaginável circo sem pipoca.
Doação da pré-história americana.
Engorduradas nossas mãos nervosas.
Um fragmento provocando tosse.
Qual é a importância do inútil?
Ou pelo menos do que não é essencial?
Refinamento da sobrevivência superada.
Que cria a possibilidade para a arte.
O circo inteiro com a pipoca inclusa
Faz parte deste inútil que é essencial.
Desta sutileza abrindo mão, retornamos
Ao mais tosco lutar pelo fogo e o pão.
Escrever poemas, prosa ou música.
Teatralizar o drama e a comédia da vida
Pintar e libertar as formas e as cores
Delícias conquistadas dão sabor a vida.
Márcio Filgueiras Amorim
Nosso Conto de Fadas...
Poema de Entrada
Nos contos o herói é sempre príncipe
Certamente seus pais são: Rei e Rainha
Do reino familiar, onde por certo escolheu
Adentrar nesse universo de tão rico enredo.
Outros contos há em que fadas convidadas
Abençoam, enquanto que a má pragueja.
Evitemos logo esse risco convidando todos
Integrados: a fada e a bruxa nossas e internas.
A jornada do herói tem sempre um desafio
Sua missão como a nossa é a de enfrentá-lo
Mergulhar no escuro, rico e inconsciente
E regressar com as respostas sábias e certas.
Sabedores que a busca essencial do homem
É pelo belo, pelo bom e pelo verdadeiro
E que do rito o que importa é a intenção
Convido-os a doarem dons em forma de poemas.
Criança Eu Te Desejo
Poema do Padrinho
Ah! Criança eu te desejo...
Uma vida venturosa, boa e suave
Temperada com o tanto de dificuldade
Necessário para te fortalecer.
Ah! Criança eu te desejo...
A alegria infinita, só possível ao infante.
Que possa perdurar ainda na velhice
Brincando o jogo da vida e achando graça.
Ah! Criança eu te desejo...
Mantenha a paz que vejo em teu rosto agora
Torne-a tua conselheira e amiga.
Mesmo se o mar estiver forte e bravio.
Ah! Criança eu te desejo...
Que Jamais percas a curiosidade!
Pergunte o como, o quando e o por quê?
Leve ao coração para saber se é verdade.
Ah! Criança eu te desejo ainda...
O amor em todas as suas belas formas
Dando, recebendo e compartilhando, Dos pais,
Parentes, amigos, de Deus e da natureza.
As Graças
Poema da Madrinha
Que os seres mitológicos acordem
Sonolentos por os termos esquecidos.
Que lancem sobre ti as suas benções
Num plano idílico, belo e imaginário.
Que Hércules te dê a plena força
Mas que optes por jamais usá-la.
Recebas a inteligência de Atenas
Mas não te aprisiones como Dédalo.
Que sejas guerreiro como Áries
Com a flexibilidade de um Hermes.
Que tenhas a fronte erguida de Zeus
Teus assuntos elevados como Apolo
Que apesar de todos os possíveis dons
Ainda te possam oferecer as Graças
O florescer, o brilhar e a alegria d’alma.
Que as musas te inspirem e iluminem.
Compartilhando a Aventura
Poema do Pai
Queremos educar-te gentil criança
Com uma postura de aprender contigo.
Faremos juntos, lado a lado, essa caminhada
Ensinando um ao outro o que for possível.
Prometemos procurar ser brandos e compassivos
Sem perda da firmeza, no estrito, justo tanto.
Teremos embates, por certo, algo de choro
Mas creias terás sempre disponível um ombro amigo.
Queremos que cresças forte e rijo qual guerreiro
Sem que percas a sensibilidade do poeta.
Que tuas virtudes sejam muitas e firmes
Temperadas com a fé no maior plano.
Somos gratos por nos ter escolhido como pais
Honrados por compartilhar tua aventura.
Terás em teu lar, sempre acolhimento e afeto
Mas não te prenderemos pois tua casa é o mundo.
Lambendo a Cria
Poema da Mãe
Quero que lembres filho amado
Que fostes fruto de pais enamorados
Gestado envolto em amor apaixonado
Desejado, bem vindo e esperado.
Saibas que meus braços estarão abertos
Disposto a recebê-lo sempre que vier.
Minhas mãos estarão dispostas a ampará-lo
Nos primeiros passos e após, que corra.
Teu semblante é para mim poesia
Admirar-te a dormir me encanta
Teus sons me soam como música
Teu sorriso terno me ilumina a alma
Sou, como todas, mãe lambendo a sua cria
Com a força de Leoa a defendê-lo se preciso for
Confiante de um futuro nobre, valoroso e digno
Pois valores verdadeiros viverei a te mostrar.
Levar o Menino ao Templo
Oficiante
Leva-se o menino ao templo primeiro
Para apresentá-lo a toda irmandade.
Depois dá-se lhe um nome que de forma sutil
Aponta ou desvela algo de sua missão.
O templo de tijolo, madeira e pedra
É uma cópia tosca de um templo
Que podemos situar no espiritual
Ou no interno de nossos corações.
Os ritos só significam algo verdadeiro
Se nos despirmos da banalidade
E adentrarmos com plena intenção
E o realizarmos com a alma iluminada.
Que sejas recebido pelo plano espiritual
Da mesma forma benfazeja que agora
Te recebemos sorrindo no plano terreno
Recebas o vegetal e tenhas Luz, Paz e Amor.
Pequenos Milagres
Encerramento do Batizado
Para mim são pequenos milagres
As pequenas coisas cotidianas
Como o primeiro sorriso de um menino
Como me encantam, fascinam mesmo
Fatos tão simples, tão corriqueiros
Como o observar crescer uma criança
Não procuro os milagres retumbantes
Me satisfaz muito mais os pequeninos
Só entende do que estou falando, Quem já foi
ao céu, ao por primeiro se ver reconhecido pelo filho.
Que nem soem com estridor, trombetas.
Que sejam quase inaudíveis toques, como se de sinos
Mas que os pais, mesmo que tímidos, não se calem.
E compartilhem os pequenos milagres de seus filhos.
Márcio Filgueiras Amorim
Ventos do Olimpo
Um vento frio me arrepia a pele.
Um pensamento me transporta a Grécia.
Penso em campos com dourado trigo.
Ovelhas pastando, oliveiras.
Homens, deuses, monstros.
Uma mágica dimensão.
Rituais de agradecimento a Demeter.
Para que fecunde a terra.
Geia, que junto com o céu tudo criou.
Úranos, que a seus filhos devora.
Como a vida nos devora a todos.
Qual Perséfone por Hades iludida,
provando da romã, o fruto,
prende-se a morte e a inconsciência,
metade do tempo.
Festejando para alegria da mãe, na primavera, a outra metade sobre a terra.
Estamos conscientes ou inconscientes ?
Estamos vivos ou mortos ?
Em que pese ser a vida morte.
Hades nos aprisiona ou liberta ?
E os da natureza, Deuses ?
Dionísio, Baco, Pã
Centauros, Ninfas, Sílfides.
Em que sintonia estamos com seus ciclos ?
Com seus ritmos e tempos ?
Quanto desconectados ?
Vendo a natureza como algo fora.
Perdida a percepção do uno.
De dela fazermos parte.
De estarmos no mesmo culto.
Deusa Natura e seus adoradores.
Perdidos todos os mistérios,
Mitra, Elêusis, Delfos ...
Que procuravam arrancar do homem,
as vendas, o véu, a ilusão.
Mostrando que a chamada vida é morte.
Que a alma espiritual e livre,
aprisionada em tosco barro,
vive seu drama terreno
em escuro tempo de ilusão.
Libertada, segue seu real caminho.
Embora, toda moeda tendo dois lados,
precisa-se do escuro para se ver o claro.
Zeus deus supremo,
nos passa força, poder,
ordem que vence o caos.
Hera deusa dos matrimônios,
nos impele aos nossos,
com todas as sabidas conseqüências.
Hefeisto nos doa a arte e a técnica.
A técnica nos leva a um avanço
ou a um retrocesso.
Afrodite a beleza, ternura, encanto,
tão necessária, mas tão traiçoeira.
Marte a agressividade guerreira,
desejada, mas tão desastrado.
Ártemis a inteligência,
que nos salva e nos perde.
Mercúrio movimenta, transporta,
comunica, transmuta.
Quanto de mercurial temos em nós?
Apolo eleva Dionísio,
igualmente faces de um idealizado sol,
que Hélios um sol mais físico.
Nosso interno sol é Apolo ou Dionísio ?
Qual humano escapa a maldição de Quiron
o curador e sua ferida incurável ?
Deuses e heróis maiores ou menores,
como, o que está em cima
igual ao que está embaixo é,
expressam pedacinhos de nós.
Desvendam de forma poética ou trágica,
nosso Eros e nossa Psiquê.
Nosso trajeto, aparentemente, a esmo.
Nosso destino cerrado.
Nossa missão encoberta,
Pelos véus do esquecimento.
Medusa – O Mito
Decidiu Zeus, supremo deus do Olimpo,
A cada cidade um divino patrono ofertar.
Por Atenas se encantaram Poseidon e Atená.
Terrível disputa, entre deuses, se seguiu.
Os atenienses chamados a decidir,
Tomaram, de Atená, o partido.
Enfurecido Poseidon sobre a cidade
Lançou enfurecido o encapelado mar.
Descobre Atená à Poseidon em uma praia.
Enamorado da bela e gentil Medusa.
Lança-lhe raios na vingativa intenção.
Protegendo o amado, medusa, é atingida.
Cabeleira hirta de serpentes.
Quem a fita em pedra se torna,
Enfurna-se em profunda caverna.
Desterra-se do mundo a infeliz.
Louco de desespero, Poseidon.
Apela para Hecate, a deusa,
Que sem poderes sobre Atená,
Lhe profetiza uma alegria ainda.
Vencida um dia pelo heróico Perseu.
Que lhe apresenta espelhado escudo.
Transformada em pedra, cortada a cabeça.
Do sangue brota Pégasus, o cavalo alado.
Encantado com Pégasus, Poseidon,
Vê confirmado o que lhe disse Hecate.
E Em honra de Medusa outrora bela amada
Cria no mar, seu reino, o cavalo marinho.
A Medusa Minha e Sua
Gregos, sábios gregos
Mais que ouro e jóias
Nos legaram tesouros
Chaves para a alma.
Cada fragmento de Mito desvendado
Me enriquece, fascina e completa
Visualizo parte da jornada humana
Em busca do mais pleno entendimento.
Medusa, cuja visão, petrifica.
Cabeleira hirta de serpentes.
Simboliza a culpa que nos paralisa
Horror de nos reconhecermos deformados.
A percepção da falta e erro
De forma sadia esclarece.
Quando minimizada cega.
Exagerada amedronta e petrifica.
Quanto de horror esconde, em seu âmago,
Toda e cada singular alma humana?
Se ousássemos ver nossos pecados,
Da Medusa, que escudo nos protegeria?
Penetrar na gruta escura do inconsciente
Poder contemplar a glória e o horror
Que cada alma encerra, sem estarrecer
Sair como novo Perseu, vitorioso.
Mais que lhe cortar a horrenda cara,
Cabe-nos, ao seu olhar, suportar.
É essencial, ao mau, olhar nos olhos.
Perceber que o temos para o abandonar.
O Jardim de Adonis
Filho da bela Afrodite,
Adonis,
Linda criança,
Encaracolados cabelos louros,
Face angelical,
Harmonia de gestos sem par.
Desenvolvia velozmente,
Como só aos filhos dos deuses
Cabia.
Criança e logo jovem,
Folguedos da juventude,
Buscava.
Um dia brincava,
Com um pesado javali,
Seu corpo ágil provocava,
fugia aos ataques da besta,
mas retornava,
com a esperada alegria dos novos.
A parte dali,
Oh ! horror ! ,
Um drama se desenhava,
Em um concurso na terra
Ganhou Afrodite de Atená
O título de “a mais Bela”.
Ferida em sua estima.
Qual humanos são os Deuses,
Terríveis e violentos.
Atená furiosa
Procurava se vingar
Da Afrodite inocente.
Ao ver o desvelo materno,
O amor desmensurado,
O só ter olhos para o belo,
Fruto do seu ventre e amado,
Passou por Atená, triste idéia,
De em Adonis ter a Vingança consumada.
Incitado, o Javali,
Feriu o jovem mortalmente,
caído, sujo de sangue,
encontra-o Afrodite.
A dor da mãe é tamanha,
Deuses sofrem como os homens.
As gotas de sangue que caem
do corpo morto de Adonis
tingem de rubro
as alvas rosas do campo.
As lagrimas da Deusa e mãe
ao tombar criam as anêmonas.
Resolve Afrodite
Em honra do excelso filho
Criar com as flores
Regadas com água morna
Um belo jardim, que no mesmo dia
semeado, floresce e morre.
Cultuavam os gregos,
Encenando este belo drama,
A cada primavera,
Os ciclos, as passagens, a sabedoria,
Que como no “Jardim de Adonis”
Nesta vida nada é eterno.
Entre Apolo e Dionísio
Gregos, sábios gregos,
Ensinavam à alma.
Representando cada rito e mito
Uma das pulsões humanas.
Dionísio, orgia criativa,
Representação divina do instinto.
Plena percepção do sensível,
Sua metabolização interna.
Apolo apreensão cerebral
Representação do divino controle
Plena percepção mental
Sua racionalização interna.
Ambos representações solares.
Não Hélios, sol físico
Mas sol enquanto gerador
de luz e calor criativo.
Qual maior? Qual menor ?
Dionísio mais sensual ?
Apolo mais cerebral ?
Qual abolir ? Qual venerar ?
Como o dilema do Homem
Um cerne espiritual
Aprisionado inexoravelmente
Em seu corpo físico, terreno.
Dois deuses, duas instâncias.
Inseparável dilema.
Sem a vivência dionísica.
Não se elabora a apolínea.
O Mito do Herói e os Doze Trabalhos de Hércules
O Caminho Interior de Evolução do Homem
I - Introdução
O simbólico do Mito,
une o conteúdo arquetípico,
dando significância,
aos gestos vazios do homem.
II - Tarefa do Signo de Leão
Dominar o Leão de Neméia
Nosso orgulho, como o Leão de Neméia,
Impenetrável a flechas, ou conselhos,
Precisa ser vencido em missão hercúlea,
Ou nos domina e nos devora.
III - Tarefa do Signo de Virgem
Vencer a Hidra de Lerna
Qual Hidra do Pântano de Lerna,
Que cortada uma cabeça nasce duas.
Nossos vícios menores,
Renascem sobre a mesma ou outra forma.
IV - Tarefa do Signo de Libra
Trazer o Cinto da Rainha das Amazonas
Lutando pelo Cinto de Hipólita,
Mitologicamente pretende o Homem,
Conquistar o Dom do Equilíbrio,
Interno, externo e no fazer justiça.
V - Tarefa do Signo de Escorpião
Vencer as Aves Venenosas do Lago Estínfale
Combater as Aves Venenosas do Lago Estínfale
Com matracas de bronze, arco e flecha, indica,
Que o Homem de Escorpião se transmute em Águia,
E que seu veneno dissolva suas algemas.
VI - Tarefa do Signo de Sagitário
Dominar as Éguas Canibais do Rei Diomedes
Dominar as Éguas Canibais de Diomedes,
Nos remete ao Trabalho do Homem,
Onde sua porção homem, imagem divina,
Precisa elevar-se de sua porção animal.
VII - Tarefa do Signo de Capricórnio
Capturar a Corça Cerínea
Trazendo viva a sagrada Corça Cerínea,
Busca com coragem o Homem,
Confrontando seu pensamento com o mundo,
Sair de suas trevas para a Luz sagrada.
VIII - Tarefa do Signo de Aquário
Limpar as Estrebarias do Rei Augias
Lavar as estrebarias do Rei Augias,
Lembra ao Homem de se purificar.
Removendo o que ficou para trás,
Em seu caminho Crístico.
IX - Tarefa do Signo de Peixes
Captura de Cérbero
A captura de Cérbero,
Vencendo o invencível,
É a luta em que através do amor,
Atinge e transcende o Homem sua essência.
X - Trabalho do Signo de Áries
Capturar os bois Ruços de Gerião
Na captura dos bois ruços de Gerião,
Héracles intimida o Sol com suas flechas.
Mostrando que direcionando suas forças,
Abre-se caminho para a Luz.
XI - Trabalho do Signo de Touro
Vencer o Minotauro de Creta
Ao lutar com o Minotauro de Creta,
Pretende o Homem vencer,
Suas próprias forças Taurinas,
Transcendendo seu olhar preso a Terra.
XII - Trabalho do Signo de Gêmeos
Colher os Pomos de Ouro do Jardim das Hespérides
Colhendo os Pomos de Ouro da eterna juventude,
Pretende o Homem amadurecer,
Ganhando Perseverança e Fidelidade,
Sem abandonar o ser uma eterna criança.
XIII - Trabalho do Signo de Câncer
Capturar o Javali de Erimanto
Buscar o Sagrado Javali de Erimanto,
Remete-nos a tarefa humana,
De vencendo nosso materialismo profano,
Desenvolver nosso lado espiritual.
XIV - Epílogo
Como no Mito do Herói,
Enfrentando nossos Dragões,
Perdendo, Pecados nos dominam,
Vencendo, incorporamos Virtudes.
Mitologia Contemporânea de História em Quadrinhos
Estamos todos presos a nossas referências,
Cultura e entendimento paralelos,
Vemos o mundo que apreendemos,
Inteiramente cegos a outros paradigmas.
Se minha cultura é história em quadrinhos,
Por esta ótica compreendo o mundo,
Super heróis são minha mitologia,
O Olimpo deve ficar nos Estados Unidos.
Toda a dualidade do mundo
Representada por Super-Homem e Batmam.
Duas faces da polis,
Gotham City e Metrópoles.
Metrópoles, diurna e ensolarada,
Com seu herói que não assume a sombra.
Gotham City, noturna e soturna,
E o homem morcego perdido em sua sombra.
Mitologia contemporânea e estrangeira,
Que nos invade a alma por nos faltar símbolos,
Preservam a dualidade dos mitos,
Uma face clara outra, na escura caverna, escondida. .
Na irresolução dos modernos mitos,
Ambíguos e indecisos na aparente bravura,
Impõe-se integrar a face clara com a escura,
Mais que negar ou recalcar figuras.
A Hybris
O descomesuramento
Era a Hybris, a audácia, o tolo orgulho
Para os gregos o grande pecado,
De os desígnios dos deuses ignorar.
A nemesis dos deuses,
Conseqüência inevitável,
Explosão das forças represadas,
Sem canal para fluir.
Quantas de nossas questões
Não se deve a Hybris
Descomesura, falta de bom senso.
Desafiar os deuses, ou o senso comum,
Procurar o sensato caminho,
Ou lutar contra o inevitável.
O Mito de Ícaro
Fugir ao que aprisiona, anseio humano,
Inflama Dédalo e Ícaro no Labirinto.
Moldadas com cera e penas, asas tão frágeis,
Alçado o vôo, a eterna busca de liberdade.
Maravilhado ensaia Ícaro ousar, enquanto,
Escuta de Dédalo um apelo ao justo meio:
Que não voe, baixo demais, que o alcancem,
Nem alto demais, que o possa fascinar o sol.
Que abandonado o denso não o iluda a luz.
Não cabe ao homem, desmesura tamanha!
De com suas forças ir do terreno ao espírito.
Esquecido tomba e finda, Ícaro, no mar.
Estaremos qual Dédalo aprisionados,
Nos Labirintos que nos cria o intelecto?
Com as toscas asas de nosso pensamento,
Que nos eleva, mas logo nos atira ao mar?
Aspirar a ascensão, do escuro à plena luz,
Caminho primeiro e último do homem,
Mas se falsas as escolhas, seguido da queda,
No mar da vida, nas inconscientes profundezas.
Fonte de pesquisa: DÉDALO
... mesmo convidando seu filho a servir-se da precária invenção , Dédalo lhe dá um conselho dos mais sensatos quanto aos dois perigos a serem evitados. Conjura Ícaro a não permanecer muito próximo da terra, mas também, e sobretudo, evitar uma ascensão muito audaciosa; a aproximação imprudente do sol. Não se trata de um conselho intelectualmente sensato, é muito mais que isso: uma primeira indicação do ideal grego, o ideal do justo meio.
....torna-se evidente que Dédalo previne seu filho contra o perigo ao qual estaria exposto se alimentasse o desejo desmesurado de escapar das regiões perversas (Labirinto) na vã esperança de poder atingir a região sublime através unicamente de um meio absolutamente insuficiente que é o intelecto( as asa de cera).
As asas verdadeiras simbolizam a imaginação sublime, tal como as asas dos espíritos puros, dos anjos, do pégaso, cavalo das musas, símbolo claro da inspiração sublime e da imaginação criadora. A imaginação perversa, por outro lado, é frequentemente simbolizada pelas asas de animais noturnos. Assim, por exemplo, o diabo, o anjo decaído, personificação cristã da imaginação perversa, é dotado em algumas representações de asas de morcegos.
A asas artificiais simbolizam o vôo muito próximo da terra, a sedução diabólica própria dos desejos exaltados que se transformam em devaneio.
O vôo em direção ao sol simboliza a espiritualização; porém, o vôo com a ajuda de asas de cera só pode significar a forma insensata da espiritualização: a exaltação vaidosa. Fiando-se vaidosamente em suas asas, que não passam de um artifício, o intelecto, tornado imaginação perversa, não mais escuta qualquer conselho prudente, não conhece mais limite: quer ser o espírito, propõe-se atingir o sol.
Este mito condensa a história da elevação e da queda do falso herói em uma única tentativa.
O sentido velado de todos os mitos não é outro senão a inesgotável amplificação de um tema único, o qual, expresso no mito de Ícaro pelo simbolismo “elevação-queda”, a despeito da diversidade das imagens variáveis, permanece como tema mais impressionante da vida: o conflito essencial da alma humana, o combate entre espiritualização e perversão.
Paul Diel
Márcio Filgueiras de Amorim
TEATRO: DRAMA
O Ritual dos 7
Grupo Sensus faz espetáculo interativo baseado nos 7 pecados capitais
Editorial
Estréia 07 de julho, na Casa das Rosas, a peça O Ritual dos 7, do Grupo Sensus. Por meio de poesias de Clarice Lispector, Álvaro de Campos, Cintia Barreto e Márcio Filgueiras de Amorim, o espetáculo aborda os sete pecados capitais.
Os espectadores são divididos em grupos e acompanham a peça em sete cômodos diferentes. A direção é de Thereza Piffer e o elenco conta com Arnaldo Barone, Conrado Carmen, Dan Rosseto, Dênete Reis, Fernanda Sophia, Flávio Cáceres, Gisele Porto, Marjorie Belanno, Ricardo Peres e Vanessa Morelli.
Informações
Local: Casa das Rosas (INFORMAÇÕES)
Preço(s): R$ 14,00.
Data(s): 07 de julho a 28 de outubro.
Horário(s): sexta e sábado, 23h49.
julho 7, 2006
Em cima da hora...Estréia hoje: O Ritual dos 7
Estréia hoje na Casa das Rosas a peça O Ritual dos 7, que inspirada nos sete pecados capitais faz uso de poesias de Clarice, Álvaro de Campos, Cintia Barreto, Márcio Filgueiras de Amorim, Paulo MontAlverne, Daizy Serena e Andre Soares, e outros, para que o público possa ser envolvido nas considerações da trama.
Para abordar um tema tão contraditório o horário não poderia ser melhor, 23h49, um quase outro dia. Os 42 espectadores são divididos em grupos e seguem por cômodos diferentes nesse:
"universo de poesias, exageros, conflitos, vida e morte."
O Sampaist quer conferir, quando isso acontecer vocês saberão!
Foto de divulgação
Direção: Thereza Piffer// Co-Direção: Dan Rosseto// Elenco: Arnaldo Barone, Conrado Carmen, Dan Rosseto, Dênete Reis, Fernanda Sophia, Flávio Cáceres, Gisele Porto, Marjorie Belanno, Ricardo Peres e Vanessa Morelli// Produção: Camila Sartorelli
O Ritual dos 7// Casa das Rosas: Av Paulista, 37// Tel.: 11 3285.6986// sextas e sábados, às 23h49// R$ 14,00 (inteira) e R$ 7,00 (meia)