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| Poesias-->vós, os eruditos -- 04/11/2007 - 18:59 (maria da graça ferraz) |
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Quem diria
Vós, os eruditos!
Quem diria
São tantas as enciclopédias
Tantos dicionários
Tantas teorias literárias
Tanta tanta matéria miséria
com que vós ornais vossa boca
ávida oca
Quem diria
E apesar disto, vós, os eruditos,
não construís um único versinho
que sustente o peso
de um passarinho
Tantas palavras
aprisionadas âncoras
áçamos massa
trama áspera
arame farpado
E sequer um fio de som
ousa atravessá-las
com medo de ser decepado
Quem diria
Tantas palavras
e nenhuma..."imagem"
Tantas cercas
e nenhum espaço
Tantas asas
e nenhum céu
Tanta força
e nenhum movimento
Tantos sinônimos para o sol
e nenhum impulso
apenas
escuro
Quem diria
Pois vós
não elevais o homem
mas acorrentai-o ao chão
Tornais o homem
mais solidão
mais melancolia
mais desespero
mais ira
Quem diria
Vós, os eruditos!
Vós não transformais o homem
mas o conformais
Vós não dignificais o homem
mas o vulgarizais
Vós não rejuvenesceis o homem,
mas o envileceis
Quem diria
Vós não ressuscitais o homem
MAS O MATAIS
Vós
Vós
os concretistas
os descrentes
os niilistas
Vós
os de sempre
Quem diria
Vós que não acreditais
na beleza
no homem
nem em vós mesmos
dizeis ser poetas?
Mas vós também
DETESTAIS a poesia
Ainda, não percebestes isto?
Sois demais
práticos e realistas
para ser poetas
Quem sabe talvez jornalistas?
Mas apesar de vós
os homens persistem
voando à noite
cheios de mistério
imunes ao despejo
e aos mil olhinhos
cheios de inveja
dos vossos espaços
geométricos
E eu continuo
a sonhar junto com eles
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