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 | Poesias-->Búzio Incauto -- 24/09/2007 - 13:15 (António Torre da Guia)  | 
	
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  BÚZIO INCAUTO
 
 
  Quando nasci ele tinha 15 anos,
  dealbava para o cume
  cercado de abismos,
  indiferente à queda no tempo.
 
 
  Que é dele, aonde pairará agora?
  Como verá as pessoas
  quando espreita cá pra fora,
  se ainda espreita a dúvida?
 
 
  Terá deixado de fumar,
  de encher-se de veneno revigorador
  ou presiste comprazer-se,
  ausente dos prazeres saudáveis
  que cada vez mais aguçam a dor?
 
 
  Aquele «homem que pensou
  com uma pedra na mão
  transformá-la num pão
  transformá-la num beijo»,
  permanece ou não no desejo
  de alicerçar a casa e erguê-la?
 
 
  Entre tantos escombros
  ao redor do derradeiro ninho
  o pássaro exausto de voar
  soerguer-se-à sempre de novo,
  febril passarinho
  que parece desfalecer
  aquém de viver?
 
 
  E os versos,
  os versos que trespassam paredes,
  que escapam às redes
  e engolem os anzóis
  com a linha cortada
  pelos dentes cerrados,
  surgirão como golfinhos
  à flor das águas?
 
 
  António,
  vem aí Outubro
  balanceando o peso dos ramos
  para o lado da rosa,
  flor na trincheira das letras
  perfumando a aragem do Outono
  durante a morte dos frutos.
 
 
  Aquele «homem que parou
  no meio da sua vida
  e se sentiu mais leve
  que a sua própria sombra»
  já levita, 
  ascendente ziguezagueando
  para fundir-se nos raios da luz
  além, muito para além
  do tenebroso paradoxo da existência
  em português e enfim livre da liberdade.
 
 
  Desculpe-me, Mestre, a sinceridade,
  um búzio incauto sopra-me a verdade
  e por isso me antecipo à lonjura
  antes da hora do meu silêncio.
 
 
  TdG - Porto - Portugal
 
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