LEGENDAS |
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral ) |
(
! )-
Texto com Comentários |
| |
|
Poesias-->vovó é dengo -- 08/07/2007 - 18:35 (maria da graça ferraz) |
|
|
| |
Porque vovó é dengo!
Eu aviso a todo mundo
que vovó é dengo!
Puro dengo e dengo só!
Saia rodada
de estampa miudinha
forrada com mil anáguas
que farfalham
como peixinhos
no lago dourado
Pés mimosos, delicados,
de bailarinas meninas,
aquecidos em meias
brancas tão branquinhas
de açucaradas
E cheirosa, a vó!
Perfumada de fragâncias
Benjoim, lavanda,
rosa, jasmim
Saída do banho!
Cútis de caramelo
Tônus de quindim
Manhã no jardim
E os cabelos lisos
lisinhos puxados para trás
no amarrado baixo
preso por uma fita de cetim
O casaquinho de lã
cor de rosa
fechado com dois lacinhos
cujas pontas são dois pompons
Casal de pombinho
sobre um ninho
E o mais importante
é seu batom
Cor de bombom
recheio de cereja
que desenhava
um coraçãozinho
em sua boca com perfeição
Era tão perfeito-
traçado com tanto apuro,
que este coraçãozinho
ganhara o direito
à eletro, raio-x,
chamego, jujuba
Porque coraçãozinho
assim,
que não cai de maduro
por tanto beijo,
este caduco
merece prisão da consulta
Porque vovó é Dengo
Eu avisei que vovó era dengo
E deixem-me continuar
este poema
para não perdemos mais tempo
Vovó é dengo
Pão-de-ló de dengo
E a bolsinha da vó?
Era tão pequenina
que nela só cabia
o lencinho de linho,
assim mesmo dobrado
Contudo , do lado de fora...
Ah, do lado de fora
da bolsinha da vó,
cabia tudo:
Miçanga, conchinhas,
babado, frescuras,
este mundinho
Numa mão da vó
um leque
que,às vezes,
ela abria
com charme de flor
Na outra mão
uma sombrinha
que ela estendia
com formosura
de árvore
De tempos em tempos,
vovó tossia
E penso que ela fazia isto
só para mostrar
- ó inclemente!
o lencinho bordado à mão
debrum de babadinho
Vovó adorava
dar inveja na gente! Malvada!
Vovó é férias. Baunilha.
Docinho. Festa. Poesia.
Odor de fruta. Caixinha de música.
Covinha no bumbum
Bolinha de meleca
Pum baixinho
As palavras " maçaroca",
"pipoca" e "bolota"
ditas por uma boca
estalando beijocas
Pois eu avisei que vovó era Dengo
e ninguém quis me ouvir
Vovó é dengo!
Beija-flor. Bem-te-vi.
Ela chegava ao hospital
e deitava seu corpinho no leito
ajeitando as roupas
Alisáva-as com os dedos
até deixá-las tão arrumadinha
sem uma única prega
como intestino de ostra
" Não deixemos nos iludir
pela aparência"-
advertia a enfermeira
voz arbitrária,
temendo que as auxiliares
de limpeza
levassem a vó
para o bercário
E os pulmões da vó
eram dois balões de gás
de tanta asma...de tanta bronquite
que desejavam subir
ao céu do céu
como se isto existisse
E que importa, gente, se isto existia
ou não?
Ela fazia de conta,pregava peça,
e o sonho se cumpria, ORA ESSA!
E os olhinhos da vó
eram dois caçulas-
curiosos e inocentes
cheio de indagações
e de foguinhos ardentes
E ela permanecia
no hospital
Bonita e catita
Formosa e Mimosa
Velha e groselha
Brejeira e namoradeira
Vendo a banda passar
tentando rimar vida com morte
tomando suco de maracujá
Quietinha quietinha
Recebia o soro salino
nas azuis veinhas
como quem mergulha
no mar pelo lado de dentro,
completamente nua
E a solução opalescente
ia caindo, gota a gota,
estéril, sem semente,
leite de rosa,
ritmo de coito,
entre seus braços rotos
Eu avisei- VOVÓ É DENGO!
mdagraça ferraz
gracias a la vida
obs- Este poema é dedicado à dona Eulália de Amorim Figueiredo-uma
velhinha que quase diariamente, nestes tempos secos e frios,
é internada por crise asmática
Ao vê-la , um dia, com a máscara de inalação
sobre o rosto, imaginei-a cheirando uma flor...E me veio a idéia
de homenageá-la pela sua força de resistir
à apnéia, às augruras, às intempéries!
|
|