O ENTARDECER
A cristaleira repousa-lhe o olhar,
a memória percorre-lhe a poeira,
o mogno da mobília
e a louça silenciam-lhe o desejo.
A solidão dissolve-se no corredor e alcança as parreiras: seus milhões de fragmentos se espalham sobre os tamancos, o tanque, o varal, as latas: graxa, banha, extrato de tomates...
Tudo parece perto da porta, da janela, da Elgin, das míseras rosas, da violeta, da valeta...
Tudo coberto de sentidos: odores, azuis, arroz...
O zelo e o abandono se confundem e se misturam.
Telhas e toalhas respiram o mormaço.; coisas se vão: a ferrugem dos pregos, os bagaços...
O dia acusa a exatidão da perda.
Não ousa sonhar demasiadamente.
O rádio,
o copo com água,
a agulha, a linha, o sono.
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