ÚLTIMO PEDIDO
Carla Salomon
Podia eu ser
a essência do mar,
o lamento do vento,
o útero do silêncio.
Podia eu ser
o que não tem nome.
Apenas uma lágrima
talvez,
a última gota
do frasco de perfume.
Podia eu virar porcelana,
exibida em pasmas vitrines.
Ser o sabor das frutas venenosas,
protegendo no ventre
a tristeza das coisas mortas.
Beber, enfim,
meu sangue cansado
e desaparecer
no que é ausente.
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