O poema cessa
a um pisão no pé,
cessa quando vencem
as dívidas e resta só
dúvida se há dor no poema.
O poema cessa
quando dói o corpo,
cessa na temperatura
da febre contínua
que deixa secos os lábios.
Ninguém grita
um verso doce
ao martelar seu dedo:
nessa hora só resta
dor, não há filosofia...
há quem diga palavrão,
quem solte um berro,
mas nessa hora o livro
contendo poemas não
é lembrado ou desejado –
transforma-se apenas
em carne, ossos e sangue.
Conosco morrem as idéias,
os gritos de guerra,
delicadas palavras –
nada resiste ao colapso
do corpo que faz poesia.
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