LEGENDAS |
(
* )-
Texto com Registro de Direito Autoral ) |
(
! )-
Texto com Comentários |
| |
|
Poesias-->Auto Retrato -- 30/03/2007 - 12:07 (Maria Lidia D. S. Meireles) |
|
|
| |
AUTO RETRATO
A campainha...
Desço e vejo diante de mim
O homem, ou apenas o que restou dele.
De olhar baixo e voz molhada, fala
Aquilo que meu coração cala,
A voz da fome que não alcanço,
A dor da lama, a que me ponho surdo
A face amarga que não reconheço
Os olhos secos de lágrimas cansadas,
De sonhar a chance de não ser o absurdo.
Um homem como tantos, sem encantos
Sem carteira, nem moleira, a ser pobre
Porque esperança há muito nem cheira.
Que bobeira, é tão simples dar dinheiro
E com isso comprar minha consciência
De me fazer crer ser caridoso, e vil por
Tirar desse moço o gosto de ser gente,
De ter parente e conseguir crer em sua mente!
Poder o mundo ter à sua frente.; e esse coração
Que não posso alcançar, me faz injuriar
Pois ouvi-lo relatar sua profunda desdita,
Põe-me maldita, ao me fazer encarar
Que cabe a mim pensar a sua condição.
Pensar o mundo da indiferença,
Arquitetado
Debaixo de tanta covardia.
Ver o quanto sou pequena
Diante desse alguém
Magoado,e
Que se põe a minha frente
A mostrar quem é o enjeitado.
Quem de nós é o fracassado
Qual ali é o mascarado!
Quem é você que me bate à porta
E me diz de pronto o que me precisa,
Diz coisas e não avisa
Que a miséria nem sempre
É de quem tem fome
Mas muito mais daquele
Que ao ser miúdo
Não tem por certo, nem o saber
De seu mísero conteúdo!
Lídia Meireles
|
|