SERÁ QUE TENHO ESSE DIREITO?
Hoje não falarei de amor, hoje abdicarei deste inalienável
direito de sentir e falar de amor. Antes, falarei de minha amargura que
campeou minha semana. Um amigo, sempre eles a me socorrerem, deu-me
a luz da inevitável busca da reconciliação familiar. Procurei então os causa-
dores do conflito e com bom senso chegamos a bom termo. Porém, sexta-
-feira algo me incomodava. Cheguei em casa, olhei para minha companheira, para meus filhos e algo me incomodava. Desvestí-me, coloquei-me nú perante meus sentimentos, e nada. Coloquei, então, minha
roupa de palhaço, me maquiei e fui diante do espelho. Rí de minha cara
enlamaçada, meu enorme nariz vermelho, minhas roupas folgadas e meu
gigante sapato de palhaço. Brinquei com os filhos, joguei-me por cima de
minha companheira, atrapalhando sua novela. Tomei meu livro, meu filme
preferido na TV, meu bate papo na NET e sorrateiramente dirigi-me à cama
enfiando minha cabeça por debaixo das cobertas a implorar cafuné. Assim,
o ato sexual surgiu belo e natural. Porém, a imagem daquele menino, maltrapilho, todo encardido, mirando uma TV da loja de eletrodomésticos
não me saía da cabeça. Um amor tão descabido e com sentido por aquela
criança urgia em meu peito, que me perguntava se sequer eu tinha esse
direito? SERÁ QUE EU TINHO ESSE DIREITO?
Dormi o sono dos saciados e cansados e acordei no meio da noite com
a imagem da criança a oferecer-me a mão. Dei minha mão, comprei-lhe
um sorvete e passamos a tarde toda vendo a TV que lhe comprei.
Hoje o chamo de Carlinhos e prá nosso orgulho é nosso filho.
Aquele sentimento de incomodo da sexta feira já não existe mais.
Hoje, outros sonhos permeiam minha cabeça, afinal são os sonhos o alimento da alma e da vitalidade: quantos Carlinhos e Aninhas estão à
nossa espera? SERÁ QUE TENHO ESSE DIREITO?
por o anjo de uma asa, pela fé que tenho que qualquer plano economico
jamais terá êxito senão passar pelo problema da criança.
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