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Poesias-->À NOITE -- 27/09/2006 - 04:54 (MARIA CRISTINA DOBAL CAMPIGLIA) |
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À Noite
Tento uma coisa e poesia
(qual labirinto ou absinto)
enquanto dorme o mundo.
E me pergunto o que tem
cada pedaço da noite
que não consigo esquecê-lo,
não fecho os olhos nem durmo...
O que tem a noite exausta
que me acalanta,
que me promete o eterno
e que me alucina?
Mesmo sem rima- como uma velha-
como se fosse o perigo
que me ajoelha e obriga?
E eu obedeço.
Como anões falando baixo
vem pensamentos e nuvens:
de várias cores!
Lhes dou meu sangue e a roupa,
lhes tiro as dores.
Esta noite é uma lanterna, aberta e firme
que me resgata do dia e me alucina.
Me corta a carne, desnuda a pele.
Me faz sentir toda a lua
como presente de rua,
toda de noite e só minha
cantando a dor das mulheres.
Provoca e rima, agride
(necessidade que fere).
E mordo o nada.
Noite cansada e pregada
como um quadro na parede:
eu estampada no escuro
vou mendigando as palavras,
tento acertar pontuações,
vejo de novo os anões.
Cantam horríveis canções...
E me alucinas tu, noite!
Brigo contigo sem nada
-sem senso bom, sem razão-
corto tuas asas, penduro,
para que não me abandones:
velha senhora de preto
mãe desses pobres anões,
não me agigantes as dores!
Não sei voar do teu lado.
Não tenho rimas.
Tu me incendeias com luz
de tuas entranhas efêmeras
e me provocas no peito,
com tua lanterna de frio...
Tento te achar num poema.
Mas és apenas mentira:
és cruel e juras ser minha.
Como fazer com que fiques
se te despedes de dia?
Se te confundes nas horas
e contas mal e esvazias?
Como te crer se és fingida?
Depois te arrastas sombria...
Deslizas crua e vazia
rindo de minhas poesias.
Tu que as fizeste comigo.
Tu que inventaste o silêncio
como de lobos dormindo
e devoraste o plantio.
És a mais cruel das senhoras.
És meu encontro tirano
mesmo sem tempo e com sono:
depois devolves a roupa
também o sangue e as dores.
E a madrugada assustada
até te dá uma carona.
Agora sim me abandonas:
és a mulher das mulheres!
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