Balanço
O balanço vem...
Por entre frestas, caminhos estreitos, meu viver,
Acotovelando tal qual caprinos famintos,
Preço de respirar o pão, todos os dias.
O balanço vai...
O mundo é meu, ele é tão pequeno,
Não existe limite para os sonhos, sonharei,
Tudo posso, o toco se transforma num corcel.
O balanço vem...
Observo as cores da megalópoles cinza,
Sonhos fracionados pela noite curta,
O homem procura a criança.
O balanço vai...
Campos da minha estrela primeira,
Colinas do meu indaiá,
Pequeno mundo gigante,
Donde nunca se deixa de amar.
O balanço vem...
Sentimento quebrado, corrompido, vazio,
O homem com passadas de menino,
Querendo acreditar no dia desse encontro.
O balanço vai...
O menino assovia, pula o muro imaginário,
Vira cambalhota, machuca o dedão do pé,
Sorri prá vida de mãos dadas com o moleque.
O balanço vem...
Vejo o menino de cara limpa, corpo de cristal,
Sorriso estampado no rosto,
Vindo em minha direção de braços abertos.
O balanço vai...
O homem acena, seus olhos brilham,
Pés descalço a correr pelo quintal,
Redemoinho folhas da mangueira velha,
Confidente dos sonhos jovem.
O balanço vem...
À tona vestígios da criança,
Vida verde,
Que se perdeu no crescimento do homem,
Vida marrom.
O balanço vai...
Empinando pipas, jogo de bola, amarelinha,
Cavalo de pau, ciranda, queimada, pega-pega,
Infância cristalina como as minas do indaiá.
O balanço vem...
Sentado neste apartamento, um lamento,
Perdido num contratempo, vejo a lua que dorme,
Com vontade de sonhar nos pesadelos da realidade.
O balanço vai...
A criança corre, brinca, salta...
Rodopiando desafia a gravidade, voa até as nuvens,
Ela corre, estende a mão que não consigo segurar.
Ricardo Marques
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