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Poesias-->FRAGMENTOS MÉDICOS-1 -- 13/10/2005 - 20:52 (maria da graça ferraz) |
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Fragmentos
Série MÉDICO
obs - Registro minhas
impressões sobre a vida-morte, coletadas ao longo
de 25 anos de profissão médica
1
Como um barco
que some
no horizonte
Foi assim que ele morreu
Assistimos sua morte
de binóculos
O velame branco
cortando a azul
E quando olhamos
seu corpo
Olhos abertos
Era como um porto
inundado de águas
Submerso
2
E eu ia me doendo
através da dor dos outros
E doendo eu me ficava
Leve palpitação
Tremor leve
Como se eu houvesse
engolido um grilo
3
A dor dos restos
que jamais se restituirão
A dor da perda absoluta
A dor da pedra!
Da pedra, à margem,
lavada, redonda,
com que se enfeita jardins
ou se leva no bolso
para manter o peso
da balança
quando se abre os braços
4
O som das muletas
nos assoalhos
E eu, jovem médica,
procurava a porta
5
O carrinho de curativo:
Algodões esgarçados
Gase. Esparadrapo
Tinturas. Vidros
de antissépticos
vermelhos dourados
E , às vezes,
um martelo e quatro cravos
6
No rosto lívido
opaco
feito à cal, de cera
Via-se uma marca
de beijo
Provisórios são os rostos
nesta terra
Menos a marca
do beijo
que sobreviveria
eterna
como uma semente
aberta
E foi esta marca
que me dividiu ao meio:
médica e poeta
Eu não te queria...Não!
Mas hoje te quero!
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