acho um baú de velharias que não apraz nem a qualquer mendigo.
Sou assim porque não sou assim.;
Ambivalente, coscoroso, flertado e indecoroso,
passo de passo em passo
a procura de meu caminho que
lá atrás ficou
nalguma esquina de mulheres de nomes
delicados e duvidosos.- Nas casas de ventres!
Pois é sou assim: dono de uma charrete de feltro,
de um alado cavalo de nome Pávido, uma correia de couro amaciada ao sol de outono e um trilhado de pendentes que buliçam à cabeça do animal quando prôo à rua coberta de pérolas imaginárias.
Sou assim, não adianta!
O tempo já acabou e não há mais atores
para representar meu papel
de anchovas e piadas!
Se sou de vidro, já sou invisível,
se me querem, querem às custas do meu
passado que não tive, e se tive
mal tive tempo para vivê-lo.
E se o vive, não me lembro,mas
não me rendo!
E um dia rodopiou por mim como uma pluma alada
quando fui tentar segurar a mão plena da deusa encantada,mas
tinha escapado pelos galhos que brotam nesta estação
no meu jardim desfavorecido de favores maiores.
Se não quero piedade também não quero autoridade!
Se sou assim é porque moldado fui,
quando criança, por alguma fada sanzona que perdoava tudo
menos você errar.
E todo seu caminho foi de erros. Perdeu a vida nisso.
Hoje vive de barril em barril e lá de longe, vozes dizem
ardidas:
Ei, seu João não vá morrer igual ao avó seu:
mergulhado e bêbado num tonel de vinho!
E a história gargalha às minhas costas
queira você haja ou não haja e goste ou não goste!