Há dois passos pendentes: um prá cima, outro lado!
De que jeito se me encontrar assim?
Me respaldo comezinhos e amoras de um lado,
Retiro da fruta os frutos da solidão que me são bem afeitos.
Não demoro a chegar, nem a partir.;
e não sei se sou águia ferida em vôo razante à terra
ou um sol de águas paradas que nada iluminam
e só mostram as trevas e augustos lampejos!
Se sou assim,
ninguém é por mim.
Ando descalço por lacidez, me visto de brim por mínimas recordações.
Se não sou eu, então
quem será por mim?
Refaço os mesmos passos todos os dias
e todos os dias as coisas se repetem:
um dia, de clava, vou a casa de mulheres
tomar vinho e aguardente e, no
outro-santo, vou à Igreja me pedir perdão
pelo que tento fazer de errado.
Sou pranto-doce,
fruta fresca,
amendoim de rua,
lembrança de criança!
Mas nem isso dá certo. As coisas não correm
como avelãs em noite de Natal. Sou bruto ao pedir,meigo ao aceitar e indeciso ao provar.
Que eu não prove mais nada
pois tudo na minha vida já foi comovido.
Refaço as malas todos os dias ao alvorecer.
Quando o sol surge eu digo: vou partir
vou arir de trem pelas estações dos homens.
Mas onde fica a vontade do corpo ir?
Não vai.
Sou indeciso até prá morrer.
No meu último suicídio, ou pré-morte, por falta de anjos, fui cuidadoso e só tomei um
mínimo de veneno necessário para tontear ratos.
Matei ratos e perdi minha alma.
Doce é o prato dos tubos e do oxigênio.;
genial são os aparatos, infernal é a solidão
que brota da janela de um hospital de segunda.
Sou assim. Não tem pena de mim não. Já fui grande, agora sou mímino do quadrado que me cerca. Se sou valente, não sei. Se sou alguém, tmabém não sei. Sou sozinho, homen de duas decisões!
Mas todos os dias sinto a mesma coisa: vontade de partir!
Mas cadê os trens e os bondes, onde estão as mulheres que deixei encaracoladas de rodas de cetim e vestidos tão longos que varriam o chão?
Mas elas estavam lá. Hoje eu aqui com dois passos
pendentes: se vou prá frente eu paro se eu paro eu penso e se penso me amortizo de dívidas da vida.E ai, choro!
Quem vem a minha casa não há o que ver. Só meia-rosas na janela e um buraco-de-vento no sótão. Ali me escondo do mundo e se me procuram mando dizer que fui igual à manada desgarrada, fui prá frente, fui ser homem, chorar devagar, e dizer a todos que me ouvem neste palanque sem políticos:Sou devagar, homem de dois passos!
Se hoje eu sou hoje amanhã estarei tão longe que nem o mais arguto pássaro há de achar.
Comovido? Você ainda não me viu chorar!
Sou:
-Homem de duas cabeças e um pé de aguardente,
guardo meu espírito para o milagre, mas guardo também um pé à frente outro atrás.