Menino de Pés no Chão
Sou eu o menino do barranco,
Meio confuso, às vezes um tanto
Esperto...
Sem a mamãe por perto,
Ia com a molecada brincar.;
Ora com a pipa,
Ora com o pião...
Em meio a toda confusão,
Brincávamos de
"O Herói e o Ladrão..."
São recordações tristes,
Sou eu aquele menino de pés
No chão,
De talentos,
De sonhos e
Idéias...
Meio complexo,
De gestos moderados,
Atitudes tardias,
Com a barriga vazia,
Chorava por um pedaço de
Pão ou de melancia.
Não importa que seja agora,
Mesmo que demore,
Queria que meninos como
Eu, liberassem seus sonhos
E fantasias,
Não mais por um pedaço
De pão ou de melancia,
Mas, que fossem agora por
Amor, compreensão, pois não
Só de pão vive um ser
Pequeno, pois mesmo sendo
Eu o menino de pés no
Chão, que brincava com a
Pipa e com o pião,
Queria compreender a razão
De tantas discriminações,
Queria ter a liberdade, e a
Igualdade que tem as outras
Crianças bem calçadas, de
Mesa farta e de sonhos
Realizados...
Por que tiraram de mim o
Direito de ser igual?
Eu não sou gente como as
Demais crianças?
É triste saber que fui aquela
Criança de pés no chão,
Desolada e descriminada,
E obrigada a não mais acordar
Desse pesadelo de miséria e
De dor...
Sou eu aquele menino de pés
No chão,
Que também carecia de amor,
Mas a dor era insistente e me
Atormentava, tirando de mim
A caracterização dos meus
Sonhos infantis...
Hoje, estou mais crescido,
E nada se modificou,
Tudo ainda é tão singular,
Pois o meu lar, não sei por
Certo onde está, é muito
Opcional.;
O meu leito é um jornal,
Abrigo-me nos viadutos,
Nas ruas, tudo é muito
Opcional, insisto, e no
Mesmo jornal onde durmo,
Há uma manchete a este
Respeito,
P’ra ser mais claro, está
Escrito:
"Projeto beneficiará meninos de rua"
Quando me deparei com a
Manchete, o meu coraçãozinho
Saltou, mas por sorte, ou
Mesmo por azar, o jornal
Era do tempo do meu
Avô, e ainda aqui estou,
E nada mudou,
Ainda durmo ao relento,
Nada resolveram,
E sofro por estes atos
Covardes de meia dúzia
Que regem a nossa nação...
Até quando terei que viver
Assim?
***
|