Se me perco diante dos dias, deixo um pouco de mim com os outros. É uma felicidade interior. Felicidade de gente grande.Felicidade de pouca valiaou pouco peso.
Se ganho oportunidades, perco-as de imediato. Igual a um capitão de navio que não se sai bem diante das ondas e da turbulência e acaba de naufragar.E acaba sendo comandado pelo próprio mar. Sua ânsia morre ali. Se ganho, as perco.
Modo de dizer: tenho quatro filhos grandes e quatro pequenos. Sucumbo diante de todos por incapacidade de notar que eu fui um instrumento ou uma bússola para eles.
Fiz-os e não os compreendi. Foi uma graça perdida diante do tempo. Hoje, de sesmaria, me resta o consolo apenas de sobreviver.
Se ando, pestanejo, se falo, guaguejo. Se procuro, nada acho, senão entulhos passados e coisas perdidas que o bom tempo não trás mais.Coisas sem importância.
Tudo isso prá dizer que diante da notoriedade da vida e de seu esplendor, eu sou parte de milagre , mas não da plenitude da vida.
Se sou milagre, sou resto de vida. Ela escorre em mim com mãos de angústia e perdidos sonhos.
Tudo isso prá dizer que hoje, além de perder um falguém que nunca tive, ganhei uma montanha de solidão que só os mais sábios saberão alcançar e de lá fazer plenas escadas para o interior dos campos dilacerados.
Corpo? Mas que corpo? Se sou andarilho de duas pernas. Uma espécie de mendigo moderno que só pensa uma coisa na vida: como sair dela!